Eric e Xanda estavam de mãos dadas na praia. Era tarde da noite num condomínio fechado e teoricamente seguro. Andavam numa passarela de pedras brancas e pretas. Estavam sorrindo muito e tendo conversas hora animadas hora de extrema seriedade. Eram um típico casal feliz que não vê as horas passarem enquanto andam de mãos dadas, conversando. Mas de repente ele surgiu ao longe.

Xanda não o viu, mas Eric ficou apreensivo ao vê-lo, mesmo de longe, vindo em sua direção. Um homem pardo, de calça jeans, jaqueta, e um chapéu de couro muito estranho. Ele ia chegando mais perto e Eric apertou a mão de Xanda para indicar um possível perigo.

- Acho que está bêbado... – Disse Eric.
- Melhor a gente ir embora. – Concluiu Xanda, com voz tremula.

Antes que pudessem disfarçar e mudar de caminho o homem em passos ligeiros chegou rente ao casal e - encarando Eric - deu um boa noite seguido de um sorriso malicioso disfarçado de boa educação. O coração de Eric acelerou fazendo-o estancar os pés no chão dando um puxão forte no braço de Xanda. Os dois permaneceram parados enquanto o homem seguiu seu caminho. Eles não olhavam pra ter certeza, apenas acreditavam que o homem - assim como todos que passam por ali - seguiria seu caminho.

Sentaram num banco ainda ali perto, e voltaram a conversar totalmente descontraídos e esquecidos daquele homem na escuridão. A madrugada chegou e resolveram ir embora quando viram uma sombra na areia, numa parte mais escura e menos iluminada que as outras. Era ele?

Continuaram andando em direção a saída da praia. A casa deles era logo na saída. Apostavam na ideia de que o homem não os seguiria.

Eric já pensava em lutar com o homem caso se aproximasse e tentasse alguma coisa. Mas, apesar de estar nitidamente encarando o casal, o homem permaneceu parado, sorrindo.

Entraram em casa fecharam todas as cinco portas de vidro e se ajeitaram para subir. Xanda subiu primeiro enquanto Eric ficou parado lá embaixo imaginando coisas. Fazendo brincadeiras de mau gosto com sua própria mente... imaginando atrás de cada porta de vidro o surgimento daquele homem tenebroso e sorridente.

- Loucura... – Sussurrou dando uma risada sem graça.
- Loucura... – Respondeu uma voz.

Eric estremeceu e gritou com força, fazendo Xanda descer as pressas também gritando. O homem estava lá fora, entre um arbusto e outro. Seu olhar era doente e ele não sorria como na imaginação de Eric. Seu semblante indicava tudo que estava por vir.

Se aproximou da porta de vidro – ignorando os gritos desesperados do casal - e num chute forte calçado com botas pretas e grossas, quebrou o vidro que se espatifou no chão. Xanda se agachou tapando os ouvidos e gritando histericamente. Eric também gritava e correu até a cozinha, pegando uma faca de peixe grande e pontuda. Quando voltou correndo, encontrou o homem ajoelhado em cima dela que gritava e chorava. Era um psicopata, mas era um psicopata burro e parecia estar bêbado. Tentava bestamente abrir o zíper da calça, e não conseguia. Xanda tentou se levantar e ele a empurrou com força no chão, fazendo-a bater a cabeça com força no assoalho.

Eric precisava andar bem devagar, mesmo assistindo a cena com muitas lagrimas nos olhos. Sua raiva ia aumentando cada vez mais. Mas mantinha-se firme e silencioso.

Era o momento do assassinato. Um homem comum prestes a virar um matador. Segurava a faca com força, pensando no sangue que jorraria da barriga do louco que avançava idiotamente em sua mulher. Chegou perto quase a encostar nas costas do homem. Xanda o viu, mas com a própria mão tapou a boca para conter um grito de socorro. O homem pôs-se a rir como um retardado.

Num rompante Eric se abaixou e enfiou a faca na perna do homem, que caiu ao lado de Xanda. Tentou se levantar, mas Eric deu um forte chute em sua cabeça fazendo-o cair desmaiado.

- Não deu para matar... – Disse Eric com voz extremamente tremula.
- Não precisamos... estamos bem... – Respondeu Xanda enquanto se levantava.

O casal se abraçou fortemente e nunca mais suas vidas seriam as mesmas. Mas aquele evento com certeza os uniria ainda mais. A polícia finalmente chegou e levou o homem. Descobriram que se tratava de um doente mental, que já estava sendo procurado. O pesadelo finalmente acabou.

Um ano depois estavam na mesma praia passeando sorridentes. Xanda estava grávida e o casal estava muito feliz.

Ao chegarem em casa, se abraçaram assustados, pois viram de longe, atrás de um arbusto... a silhueta de um homem, que se balançava e parecia rir.

 
Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 27/02/2017
Reeditado em 17/03/2017
Código do texto: T5925277
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