Diálogo com a morte
- Quem é você? - Perguntou ela, ao ver a figura fantasmagórica se aproximar.
- Não desconfia? - Sua voz parecia um eco vindo de outro mundo. - Vim buscar a sua alma.
- Não irei com você. Você não pode me levar.
O senhor da morte abriu um sorriso divertido.
- Minha cara, você não tem escolha. Sua alma agora me pertence.
Ele se aproximou ainda mais da jovem e ela pôde sentir o peso fúnebre de sua presença.
- Não me entregarei a você. - Decidida. - Ainda tenho muito que viver, não é minha hora de partir.
- Você tinha muito o que viver, mas perdeu esse privilégio quando escolheu seguir por esse caminho. Assuma as consequências de suas escolhas.
- Não! Você não vai me levar. - Afastando-se.
- Não há para onde fugir. Sua vida não está mais em suas mãos, esse é o seu fim.
- Me recuso a terminar assim. Esse não é meu fim!
- Você não tem escolha! Não há como voltar atrás! - Esbravejou.
O senhor da morte respirou profundamente antes de voltar a falar.
- Olhe para baixo. - A jovem acompanhou o seu olhar e seu peito ficou angustiado. - Estão tentando te reanimar e em vão. Você agora é minha, me pertence e não vou deixá-la escapar. - Fechando a mão em formato de garra.
Lágrimas brotaram de seus olhos e flashes de sua vida correram em sua cabeça. Agora conseguia perceber que havia feito a escolha errada e seguido por um caminho sem volta, mas infelizmente para ela era tarde demais. "Por favor, não faça isso", clamou um rapaz. Um disparo ecoou em suas lembranças e um filete de lágrima escorreu.
- Acostume-se, essa agora é sua nova realidade! - Brandiu intenso.
Golpeou o chão com o cabo da foice que segurava com força e o inferno surgiu em sua frente, quente, com labaredas de fogo espalhadas por toda a extensão que seus olhos podiam ver. Almas vagavam sem rumo, rios de sangue se abriam pelo solo. Lacaios açoitavam as pobres almas condenadas sem motivo algum, apenas pelo prazer de saborear seu sofrimento. Gemidos lamentosos e gritos de dor tornavam a permanência no lugar torturante.
O senhor da morte a escoltou até o senhor supremo do inferno.
- Vejo que me trouxe um presente. - Levantando-se de seu trono feito de ossos, pele e sangue. Sua voz era ainda mais pavorosa.
O senhor supremo do inferno encostou a garra no queixo da jovem, ela desviou o olhar, sua figura era terrível demais para suportar. Deslizou a garra por sua pele, fazendo-a levantar a cabeça e a analisou.
- Bem vinda ao eterno sofrimento.