A Segunda Natureza de Adriano

   Os olhos levemente estrábicos de Letícia brilharam ao ver sua imagem refletida no espelho. Vestido novo, cabelo escovado, maquiagem perfeita. A festa era em uma embarcação, navegando pelo lago Paranoá noite adentro. Fazia tempo que estava sozinha, estava na hora de encontrar um novo parceiro.

   Marcou com as amigas mais cedo em um bar ao lado do ancoradouro. Tomava um drink quando o coração disparou sinalizando o despertar de um antigo medo. Percebeu que não teria coragem de navegar sequer por uma hora, ainda que na tranquilidade daquele lago em uma noite sem ventos.

   Uma sombra escondeu o brilho dos seus olhos pequenos. Gotas de suor geladas umedeceram as costas e as coxas, a boca ficou seca. À dor aguda na mandíbula e na cabeça seguiu-se uma sensação de perda de forças no braço e na mão esquerda. Tomou quase de um gole só a água que acompanhava o seu drink sobre a mesa. Mariana, sua melhor amiga da vez, notou-lhe a súbita palidez.

   – Você está bem, Letícia? Aconteceu alguma coisa?

   – Pede um carro pra mim, amiga. A festa vai ter que ficar pra outra vez.

Os pesadelos

   Nessa mesma noite recomeçaram os pesadelos. Enchentes, maremotos, correntezas de que não conseguia escapar, sensação de não conseguir respirar, de ar faltando.  Águas invadindo-lhe  os ouvidos, as narinas, descendo-lhe pela garganta, seguindo seu curso, indiferentes a qualquer espécie de controle. Correntezas  contra as quais não conseguira reagir quando arrastaram o pequeno Adriano, seu irmão caçula, antes de ele completar  cinco anos.

   Acordava alvoroçada, um aperto na garganta, a lembrança sofrida  do irmão  sacudindo os bracinhos, a cabeça afundando e emergindo. Depois,  apenas o cabelo castanho claro flutuando.

   Após cada pesadelo, o medo de voltar a dormir e quase sempre o resto da noite em claro. Conhecia bem o tormento, já passara antes por aquilo. Pela manhã, o impossível, ir para o trabalho e passar o dia inteiro tentando sem sucesso se concentrar no serviço.

   – Que cara é essa, amiga?

   Mariana trabalhava no mesmo órgão que Letícia.

   – Tenho dormido mal. Ansiedade, insônia.

   – Eu tenho uns remédios em casa.  Trago amanhã e você experimenta.

   No dia seguinte Mariana  lhe trouxe,  além dos comprimidos, o nome de uma terapeuta.

   – Deu jeito na minha amiga. Por que você não tenta?

   Os comprimidos, não os tomou. Não gostava de tomar remédios, sobretudo aqueles que pudessem alterar seu comportamento ou causar dependência. Já para a terapeuta, ligou e, mesmo sem grandes expectativas, agendou uma consulta.

Os desenhos

   Não era fácil para Letícia entregar-se à terapia. Além de muito fechada, precisava confrontar-se com seus próprios preconceitos. Em sua arrogância autossuficiente, achava que terapia era coisa de pessoas fracas ou carentes.

   Da última vez que sofrera com os pesadelos, a ansiedade e a insônia, reabilitara-se sem recorrer à ajuda de ninguém. Apenas aumentara os treinos na academia e praticara uma espécie de meditação aprendida em um livro de ioga tomado emprestado de uma amiga.

   A cura, entretanto, além de demorada  custou-lhe  perda do emprego e o fim do casamento. O chefe substituiu-a por uma dentista cujas mãos não tremiam durante os atendimentos. O marido trocou-a por outra mulher que não acordava  de madrugada aos gritos e aceitou dar-lhe os filhos que Letícia se recusava a ter. Dessa vez, Letícia não estava disposta, nem tinha mais idade, para danos e perdas.

   Superara a separação, trocara de profissão e mudara-se de Goiânia para Brasília. Vivia sozinha, meia dúzia de amigas,  um ou outro namorado de vez em quando. Era onde sua vida estava, aos trinta e nove  anos, quando decidiu iniciar a terapia.

   Orientada pela psicóloga, aprendeu a domar a insônia e os pesadelos. Ao invés de ficar rolando na cama, coração acelerado, vendo os minutos escorrerem, levantava-se e, sentada diante de um bloco de desenho, lápis coloridos à mão, punha-se o desenhar o que lhe vinha à mente.

   No princípio desenhava apenas um cenário parecido com aquele onde havia acontecido o acidente com Adriano. Um rio, um poço, algumas corredeiras. Depois o cenário transformou-se em uma caverna sinistra povoada de criaturas aquáticas inexistentes, espécie de monstros,  misto de homem, lagarto e serpente. 

   Letícia não tinha ideia de onde lhe vinha aquela inspiração e aqueles seres. A psicóloga explicou que eram imagens do seu inconsciente e que colocá-las no papel ajudava a esvaziar os sonhos. De fato, quando Letícia dava por finalizados os desenhos , voltava a dormir tranquila, sem pesadelos.

   Com a ajuda da psicóloga, descobriu também que a razão do seu tormento era a culpa que sentia pela morte do irmão. Não um sentimento intangível, que pudesse ser tratado em sessões de terapia, mas algo concreto, que havia feito errado ou deixado de fazer para evitar o afogamento de Adriano, para o que não conseguia enxergar qualquer possibilidade de redenção.

   Quando chegou a essa conclusão,  caiu em um pranto inconsolável que em décadas de prática a psicóloga jamais  havia visto e relatou com todos os detalhes, pela primeira vez em sua vida, o acontecido.

Um buraco no peito

   A família passava alguns dias no sítio de um tio na Chapada dos Veadeiros. Letícia tinha dez anos, a irmã mais nova, oito; o mais velho, treze. O caçula não completara cinco. Perto da propriedade passava o braço de um rio, que bem mais adiante encontrava o Tocantins.  
 
   Logo no segundo dia, o primo, que regulava de idade com o irmão mais velho, o chamou para  pescar numa parte desse rio onde havia um poço,  antes de umas corredeiras.  Porque estava um dia muito quente, Letícia se convidou e chamou a irmã para lhe fazer companhia. Sem avisar nada à mãe, trocaram-se as duas, puseram os biquínis, enquanto os meninos preparavam as linhas e os anzóis para a pescaria.

   Nem se lembraram do caçula, que brincava sozinho, distraído, empurrando uma bicicleta velha em volta da casa, passando pelo jardim, o canil e o galinheiro. Quando o menino os viu saindo pelo portão, largou a bicicletinha e foi até eles correndo, queria ir também. O mais velho  falou que não, que ele era muito pequeno e fechou a porteira de madeira dando por encerrada a questão. O garoto começou a gritar e Letícia, um pouco com pena do irmão outro tanto por medo de a gritaria chamar a atenção do pai e da mãe e estragar o passeio, disse ao pequeno que viesse junto e ao mais velho que tomaria conta dele.

   Assim foram-se todos, andando, cerca de dez minutos, por um caminho de terra até o ponto onde o rio formava o pequeno poço. Havia algumas pedras na parte mais alta para a pesca dos mais velhos e uma prainha de areia onde as meninas entraram com o irmão.

   Letícia logo se entediou do banho e da companhia dos mais novos e foi juntar-se aos maiores, recomendando à irmã que mantivesse os olhos atentos em Adriano, que nessa hora  se entretinha fazendo montinhos sobre uma pedra com a areia grossa do fundo do rio.

   O primo ensinava-a a colocar a isca no anzol, quando ouviram o grito da irmã. Adriano afastava-se, arrastado por uma mão invisível, para o centro do poço. Ainda boiava e talvez sorrisse nesse momento, mas quando os três chegaram à prainha, a correnteza que o puxava já se tornara mais forte e ele olhava assustado, com cara de choro, na direção dos irmãos.

   Letícia sabia nadar, assim como o irmão mais velho, mas o comando do primo dizendo que tomassem um atalho para pegá-lo mais abaixo, congelou-lhes o mergulho e o nado que talvez tivesse salvado o pequeno.

   Quando chegaram à parte de baixo do rio, depois do atalho, o irmão já afundava e subia, os bracinhos descontrolados num pedido mudo de socorro, fora do alcance deles. Entraram na água, as pernas e os pés se ferindo nas pedras, num desespero, mas já sem qualquer possibilidade de influenciar o desfecho que guardariam para sempre na lembrança. Os cabelinhos espalhados do irmão na superfície da água, descendo rio abaixo, como mais uma pedra, um tronco ou uma folha.

   O que se seguiu a isso foi um desespero impossível de narrar.

   Primeiro, a exasperação dos  adultos após o relato das crianças. Aos gritos e sem acreditar no que ouviam, responsabilizavam os mais velhos pela desatenção com o pequeno e  se penitenciavam por terem  deixado as crianças, todas elas, sem supervisão.

   Depois, a esperança de encontrar o menino vivo, preso por um milagre em algum acidente do rio ou salvo por algum pescador ou colono.

   Nos meses que se seguiram, tentativas de achar o corpo que, frustradas, alimentavam a expectativa de que o menino estivesse a salvo, vivendo com alguma família ribeirinha.

   Passado mais um tempo, enfim, a aceitação, um enterro simbólico, mas no coração dos familiares um desejo, mais que uma esperança, de que o pequeno Adriano estivesse vivo em algum lugar real e não apenas no  buraco que deixara no peito de todos.

   Embora durante as buscas tivessem tomado conhecimento de um grande número de crianças e jovens afogados nos rios da região cujos corpos jamais haviam sido encontrados, aos mais cartesianos, continuou parecendo improvável um afogamento sem que se tivesse encontrado o corpo. Mas principalmente a mãe de Letícia queria enterrar seu sofrimento e pediu que não se falasse mais em casa na hipótese de o menino estar vivo. E assim encerrou-se o assunto do afogamento de Adriano, passando todos a evitar falar dele, como se o menino nunca tivesse existido.

Só desejava um abraço, mas daria tudo o que tinha

   Foi justamente essa hipótese mais cartesiana de, na ausência de corpo, haver uma probabilidade de Adriano estar vivo, que preencheu o espaço vazio que restou na vida de Letícia depois que recebeu alta da terapia.

   Como a mãe já havia falecido, procurou os irmãos e o pai, que se não a apoiaram como ela esperava, também não a impediram de retomar a procura do caçula desaparecido.

   Recuperaram fotos da época e com a ajuda da polícia foram feitas imagens que projetavam a aparência de Adriano  aos dezessete,  vinte e cinco e na idade atual de trinta e quatro anos. Em todas elas estavam os lábios finos, traço comum da família, o nariz reto do irmão, os olhos escuros e estrábicos de Letícia.

   Leticia divulgou em seu perfil na internet as imagens em um post comovente  que relatava a história do afogamento e falava do desejo e da fé que ela, o pai e os irmãos tinham de estar com ele novamente. Ao final do texto, dizia que ao encontrá-lo só desejava dele um abraço, mas seria capaz de dar a ele tudo o que tinha.

   O post teve centenas de compartilhamentos. A polícia também ajudou distribuindo as  imagens e  espalhando  cartazes em estabelecimentos, principalmente nos locais inóspitos  circunvizinhos ao acidente.

   Passados quatro meses da postagem, depois de algumas pistas falsas e meia dúzia de trotes disparatados, Letícia recebeu, enfim, uma mensagem com indícios consistentes.

   Uma pessoa chamada Pedro, de Alto Paraíso do Goiás, dizia haver um homem muito assemelhado às imagens vivendo em um sitio em um local ermo na Chapada dos Veadeiros.

   Achou estranho o perfil, não que parecesse falso, mas era muito recente. Tinha meia dúzia de amigos, todos também com perfis precários e criados há pouco tempo. Seu irmão achou que era mais um trote, mas Letícia se apegou à esperança e continuou conversando até, enfim, combinarem um encontro.

Para onde você está me levando?

  Sábado, pouco antes de meio dia, Letícia saiu de Brasília rumo à Alto Paraíso. Registrou-se na pousada e cochilou até às quatro da tarde, horário que havia combinado encontrar-se com Pedro na pizzaria em frente.

   Sentou-se, o lugar estava vazio, pediu  água com gás e esperou. Mexia no celular,  quando o rapaz entrou. Trajava jaqueta de couro, luvas e calças jeans. Na cabeça, um capacete que não retirou ao entrar, mal  ergueu a viseira ao dirigir-se a ela.

   – Você é a Letícia? – perguntou, soprando-lhe um pouco de ar na direção do rosto.

  Letícia pensou por um instante ver dentro de sua boca entreaberta, por entre os dentes, uma língua bipartida. Mas assim que o hálito com cheiro de planta do rapaz a atingiu, esqueceu-se instantaneamente da língua e do quanto achara estranho que ele tivesse entrado no restaurante sem tirar o capacete.

   – Sim. E você deve ser o Pedro.

   Também não lhe pareceu esquisito o rapaz, sem sequer sentar-se à mesa, dizer-lhe que iria levá-la imediatamente à presença de uma pessoa.  Crédula e dócil, como se tomada por um encantamento, pagou a água no balcão e partiu na garupa de Pedro.

   Entorpecida, via a paisagem do cerrado suceder-se, os olhos quase fechados por causa do vento e da poeira, o caminho tornando-se cada vez mais estreito, ora subindo, ora descendo, corujas por todo lado, barulho de maritacas, árvores retorcidas, espinhos, folhas secas.

   Por fim chegaram ao fim da trilha e a moto entrou em uma caverna, o leito subterrâneo de um rio descendo. Letícia estremeceu assustada com o escurecimento súbito e o deslizar da moto no chão úmido da gruta.

   – Para onde você está me levando? – perguntou, desperta do transe, quase desabando da garupa.

   Pedro apenas virou-se e soprou-lhe novamente o hálito no rosto, fazendo o súbito espanto de Letícia transformar-se novamente em deslumbramento com o passeio.

   Chegaram ao fundo da caverna em menos de dois minutos. Nesse ponto, o teto muito alto tinha no topo uma fenda larga por onde entrava a luz externa que iluminava de forma difusa o ambiente. Desceram os dois da moto, Letícia em completo êxtase naquele cenário fantástico. Depois que o sopro de Pedro apagara novamente seus medos, maravilhava-se com o reflexo azul e verde da luz externa na água que escorria pelas paredes.

   Com um movimento ágil, Pedro encostou a boca nos lábios de Letícia e sugou todo o ar que  que havia em seus pulmões, fazendo-a  desfalecer imediatamente.  Amparou-a com um braço e com o outro finalmente retirou o capacete, deixando livre o cabelo verde escuro e as escamas acinzentadas do rosto. Depois, levou-a nos braços até uma das cabanas, que havia na beira do poço que o rio formava no fundo da gruta.

   – Aqui está ela, Adriano  –  disse,  e entregou-a.

A segunda natureza de Adriano

   Adriano deitou-a em sua cama e sentou-se ao lado dela. Tocou-lhe o rosto, os braços, as mãos,  sentindo-lhe o calor da pele em contraste com a frieza de seu próprio corpo. Alisou seus cabelos finos e castanhos, aspirando-lhes o cheiro doce, humano. Foi tomado pelas lembranças.

   Ela, a irmã e o irmão ao longe, embaçados pela água e a aflição, depois as pedras, o fundo do rio, a  falta de ar e o nada -  um silêncio sem qualquer sensação -  antes do despertar dentro de um abraço, uma espécie de boca sugando a água, depois  soprando ar para dentro de seus pulmões.

   A criatura que o salvou também cuidou dele. Apresentou-lhe seus novos irmãos, de pele cinzenta  e cabelos grossos e duros, variando entre o verde e o azul. Tinham a língua bipartida e nos pés e nas mãos, não mais cinco dedos, mas três garras em cada um. Garras que se alongavam ou diminuíam, tornando-se mais grossas ou mais estreitas, conforme a necessidade, o que as fazia muito mais funcionais do que meros dedos.

   Aprendeu sua nova natureza, misto de homem, serpente e dragão. Desenvolveu  seus poderes, de hipnotizar com um sopro e roubar a energia, fazendo desfalecer a vítima apenas com uma profunda aspiração. Era assim que interagiam com os humanos sempre que precisavam deles.    

   Salvou algumas  crianças e jovens afogados, dando também a eles aquela segunda natureza. Acumulou uma boa quantia em dinheiro, sempre roubado, de fazendeiros, comerciantes e até de pobres famílias ribeirinhas. Nisso se resumiam seus vinte e nove anos daquela existência reptiliana. Estava pronto e sedento para recuperar sua antiga vida humana.

   Notou uma mudança no ritmo da respiração de Letícia e um leve tremor por baixo de suas pálpebras fechadas. Acordava do transe. Aproximou seu rosto do dela e soprou.

   Ao despertar, a primeira coisa que Letícia viu foi um par de olhos escuros, pequenos, levemente estrábicos como os seus.

   – Adriano, meu irmão, é você?

   Hipnotizada pelo sopro não enxergava o ser repugnante que ele se tornara, mas seu irmão desaparecido, idêntico às imagens que a polícia projetara dele.  Sentou-se e agarrou-se a ele num abraço dizendo palavras de amor e de saudade,  enquanto de seus olhos escorria um choro abundante que lavava toda a sua culpa guardada por quase trinta anos.

   Ia começar a fazer-lhe perguntas quando ele a calou com uma espécie de beijo. Com a boca encostada na dela, aspirou profundamente enquanto as doze garras, das mãos e dos pés, alongavam-se por baixo e por dentro dela, empurrando em direção à boca as entranhas que encontravam pela frente.  Sugou tudo que havia dentro da irmã e quando ela jazia seca e murcha ao seu lado, ainda  comeu-lhe os olhos escuros e pequenos que permaneciam  abertos mirando-o, agora já sem vê-lo.

   Reassumiu quase imediatamente a forma humana, conforme lhe haviam dito e ele próprio vira acontecer uma única vez. Ingerir todo o sangue e as vísceras de um parente era a única maneira de recuperar sua antiga natureza humana e livrar-se para sempre daquele destino de serpente.

Epílogo

   O carro de Letícia permaneceu parado em um terreno vazio que servia de estacionamento à pousada onde se hospedara. Passados dois dias, o pessoal da pousada achou estranho, procurou-a em seu quarto e não a encontrou. Sobre a cama levemente desarrumada, estava a pequena bolsa de viagem fechada. A chave do carro, presa à de casa e a um chaveiro com uma foto antiga do irmão pequeno, estava sobre o criado, ao lado da bolsa de mão.

   A polícia local foi chamada e também não a tendo encontrado nem na cidade, nem em seu endereço em Brasília ou no local de trabalho, notificou a família.

   Os irmãos estiveram na cidade por mais de quinze dias tentando descobrir algum indício do que acontecera com Letícia. Nada encontraram além do testemunho pouco convincente do rapaz da pizzaria que dissera lembrar-se vagamente de tê-la servido, uma água com gás apenas, alguns dias antes.

   Em nenhum momento notaram a presença de um homem, sempre de boné desbotado e óculos escuros disfarçando-lhe o rosto, que os observava, como um réptil, de longe.

   Passado mais algum tempo, conformados porque não havia outra solução, deram a irmã como morta. Mais um corpo insepulto, um enterro simbólico, uma dor revivida. Mais um buraco aberto no coração dos que restaram e uma história inexplicável na memória de todos.
 
 
  Temas: Em Família e Sonhos
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