NÃO ME MATE!
O mundo foi vencido, a humanidade foi rebaixada a nada, hoje todos ainda que sobrevivem estão habitando a terra dos mortos. Um mundo que uma vez foi belo, repleto de tecnologia e paisagens, muitas histórias de heróis e de pessoas que realmente queriam fazer a diferença, foi transformado em um monte de lixo e amontoados de corpos.
Fica ainda armazenada nas lembranças dos mais velhos, o dia em que tudo mudou, talvez fosse algo divino, talvez demoníaco, mas uma coisa é certa, nem mesmo as duas guerras mundiais ceifaram tantas vidas quanto o clarão que em apenas 1 segundo resultou em milhares de explosões sequenciadas ao redor do planeta, nenhum canal de televisão, nem mesmo os rádios tiveram sequer a oportunidade de noticiar algo. Em apenas poucos segundos o mundo sofreu uma destruição em massa...
Se passaram 40 anos desde então, e a humanidade aparenta ter se perdido em desesperança e tristeza. O que restou foram apenas algumas das grandes cidades que hoje são apenas pequenos vilarejos, as pessoas se vestem com roupas sujas, as mulheres não se banham com frequência e os homens nem se dão ao trabalho de fazerem a barba. E como se fosse uma idade média pós-apocalíptica, mas dessa vez as pessoas não interagem entre si, todos vivem reservados dentro de suas casas e quando saem dificilmente retornaram vivas para suas famílias.
Em meio a esse cenário caótico pequenos grupos de apoio se uniram para conseguir levar alimento e armas para seus vilarejos e são esses grupos de apoio um dos mais perigosos que qualquer um que esteja sozinho pode encontrar. Os jovens que foram criados em meio ao apocalipse e não conheceram o velho mundo tem uma visão limitada ao caos e a destruição e por natureza são bem mais selvagens que qualquer outra geração que já passou em toda a história da humanidade. Mas além dos grupos de apoio existe um homem que é disparadamente o maior perigo que uma pessoa pode encontrar, ninguém sabe seu nome ou sua aparência, o que dizem a seu respeito são apenas histórias mal contadas e lendas assustadoras. Muitos o chamam de Canibal, outros de o "Senhor da Morte", mas além disso apenas histórias de que ele matou e comeu um grupo de 15 homens armados além dessa, existem muitas outras histórias a respeito do Canibal.
Em uma rua desértica onde o chão era inteiramente coberto por uma terra amarelada, e com casas destruídas em ambos os lados, caminhava um homem alto e forte, vestindo um sapato totalmente encardido de barro, uma calça com cor indefinida e rasgada na altura dos joelhos e uma camisa preta de manga longa. Ele tinha os cabelos negros e longos, chegando até a altura dos ombros e seus olhos eram azuis. Sua história era tão confusa, quanto a de qualquer outra pessoa nascida e crescida na era pós-apocalíptica, seus pais o criaram dentro de uma pequena casa durante seus primeiros anos de vida, ele nunca havia saído da pequena casa que tinha 3 cômodos, e junto dele também havia um irmão mais velho que era a única pessoa com que ele teve contato além dos pais. Até que um dia o vilarejo que ele morava foi atacado por um grupo de apoio que ele nunca tinha visto e durante esse ataque seus pais morreram, mas ele e o irmão conseguiram fugir. No entanto ele não tinha nada além dessas tristes lembranças de seus pais na cabeça, pois pouco tempo depois que fugiu com o irmão o mesmo desapareceu durante uma noite e nunca se viram. Esse homem não se lembra nem mesmo do seu nome ou de como seu irmão chamava, mal se lembrava do rosto.
Ele passou a vida toda viajando o mundo, passando por vilarejos e fugindo de grupos de apoio, sendo um verdadeiro símbolo da humanidade pós-apocalíptica.
No entanto neste dia ele viu uma coisa muito estranha, no meio daquela rua com casas destruídas de longe ele avistou uma casa em bom estado, mas o que mais lhe chamou atenção foi o fato de ter um homem na janela da casa o observando. O homem sem nome então olhou a sua volta para averiguar se não estava em algum vilarejo, pois não era comum ver pessoas se mostrando nas janelas de sua casa. Mas não havia sinal de nenhuma outra casa habitada ou outras pessoas na região somente aquele homem.
Então ele resolveu se aproximar da casa e lentamente foi caminhando em direção a mesma.
O homem que estava na janela já era mais velho, seus cabelos eram longos e sua barba gigantesca, ambos (tanto o cabelo quanto a barba) eram grisalhos com algumas mechas loiras, as rugas no rosto do homem marcavam as pessoas que sobreviveram ao apocalipse e passaram a maior parte de suas vidas no cataclismo.
O velho ao perceber que o homem se aproximava de sua casa ficou desconfiado, então levou a mão a suas costas e arrancou uma pistola, se o homem se aproximasse um pouco mais ele iria abordá-lo. E assim que o homem chegou mais perto o velho apontou a arma em direção a ele e perguntou:
_Quem é você e o que quer?
O homem sem nome, rapidamente levantou os braços e respondeu:
_Sou apenas um viajante e estou precisando de um lugar seguro para descansar.
O velho que não estava muito afim de conversa retrucou:
_Vai procurar outro lugar, eu não recebo viajantes em minha casa!
Então o homem sem nome abaixando os braços disse:
_Eu insisto em pedir que me deixe ficar, eu já estou na estrada a muito tempo sem ter um local seguro para descansar.
O velho ainda apontando a arma para ele perguntou:
_Você tem algum tipo de arma com você?
_Tenho duas pistolas carregadas e uma faca. Respondeu o homem sem nome.
O velho pensou por alguns segundos e notou que o homem sem nome estava em meio as casas destruídas e então disse:
_Você pegar suas pistolas, uma de cada vez, bem devagar e vai escondê-las dentro dessas casas destruídas que estão em sua volta, qualquer um desses lugares, você pode escondê-las, mas as esconda em locais separados.
Então o homem sem nome voltou a levantar os braços e retirou a primeira pistola da cintura, e a escondeu debaixo de uma pedra gigantesca. Logo em seguida escondeu a segunda arma nos destroços numa parede de uma casa do outro lado da rua. A faca ele levou com ele, no entanto o velho não se preocupou com a faca. E então assim que terminou o homem sem nome perguntou:
_Posso entrar?
O velho fez um sinal com a sua pistola para o homem caminhar em direção a entrada da casa e assim o mesmo fez. Ao chegar na porta o velho o jogou contra parede apontando a arma para sua cabeça e disse:
_Me desculpe, mas isso é necessário.
E então o velho começou a revistá-lo para averiguar que não tinha mais nenhuma outra arma. Ao ter certeza de que não havia mais nenhuma arma ele soltou o homem sem nome, e estendeu a mão para cumprimentá-lo. O homem sem nome, não gostou de ser revistado, mas de todas as recepções que tinha recebido ao longo da sua vida essa tinha sido uma das mais simpáticas. O velho então disse:
_Eu me chamo Waltz e você?
_Eu não me lembro qual era o meu nome. Sou apenas, EU. Respondeu o homem sem nome.
Waltz achou aquilo muito estranho, afinal a maioria das pessoas jovens se esqueciam de seus nomes, mas logo em seguida arrumavam outro, mas esse homem não.
Waltz resolveu não estender muito conversas sobre nome e fechou a porta da sua casa e fez um sinal para que o homem entrasse. Ao entrar o homem sem nome encontrou uma casa onde o piso era feito de madeira e as paredes eram brancas, e lá dentro tinha coisas que ele nunca tinha visto antes. A maior parte das casas que ele conheceu eram pequenas e construídas em cima de ruínas, onde havia alguns colchões, baldes de água e fogueiras. Essa casa não, era grande tinha um sofá, coisa que não era muito comum, móveis de madeiras que sustentavam objetos que ele nunca tinha visto antes, e isso o deixou maravilhado.
O homem sem nome se virou para Waltz e perguntou:
_Eu nunca vi uma casa tão cheia de objetos como essa.
Waltz olhou para o homem com um olhar de quem não entendeu o motivo de tanta admiração por estantes de madeiras devoradas por cupins e respondeu:
_Você está brincando comigo garoto?
o homem sem nome ficou tão maravilhado com a casa de Waltz que nem mesmo deu atenção a sua indignação. Então se aproximou de uma estante de livros e perguntou:
_O que são essas coisas?
_Isso são livros. Você nunca viu um livro? Perguntou Waltz, achando toda a admiração do homem sem nome muito estranha.
Waltz ficou intrigado com a reação do homem, essa era a primeira vez após o apocalipse que deixava alguém entrar em sua casa, pois sempre estava fora procurando mantimentos para sobreviver. Deixar alguém entrar em sua casa era totalmente contra os seus princípios. Mas ele estava disposto a correr o risco.
O homem sem nome pegou um dos livros da estante e começou a folhear e arriscou a ler algumas frases, mas não entendeu completamente. Ele não fora educado para ler, e sim para sobreviver.
_Não eu nunca tinha visto um livro. Para que um livro serve?
Waltz então sorriu deixando amostra seus dentes amarelados e sujos e caminhando lentamente sobre o piso de madeira fazendo um barulho insuportável. E durante o caminho ele respondeu:
_Livros contam histórias, antes do mundo ser o que é hoje, era um lugar onde muitas procuravam algo para dar sentido as suas vidas. Praticar esportes, ver filmes, ler livros, entre diversas outras atividades.
O homem sem nome intrigado perguntou:
_Contam histórias sobre o que?
Ao chegar na cozinha Waltz foi até um armário velho com ratos passando pelo chão e de dentro de uma porta quebrada ele pegou uma panela enferrujada e a colocou sobre um fogão a lenha que tinha dentro de sua casa e lá repousou a panela. Assim que o homem sem nome terminou a pergunta ele foi caminhando em direção a um tanque cheio de água e com uma vasilha de plástico ele pegou um pouco e colocou dentro da panela e respondeu a pergunta:
_Depende, cada livro conta uma história diferente, muitos são fontes de conhecimento e dão uma experiência única para o leitor.
O homem sem nome então tentou se arriscar para ler algumas frases, ele não sabia ler muito bem. E foi então que ele se virou para o velho e perguntou:
_Este livro conta qual história?
O velho que fazia diversas viagens para abastecer a sua panela com água respondeu:
_Sobre casamento e traição.
Intrigado o Homem sem nome perguntou:
_O que é um casamento?
Então o velho olhou incrédulo para o rapaz e respondeu a pergunta dele com outra:
_Você conheceu seus pais? Eles moravam juntos?
_Sim eu os conheci e sim eles moravam juntos.
Então o Waltz explicou:
_Isso é um casamento, quando um homem e uma mulher resolvem partilhar uma vida juntos, constituir uma família.
O homem com um semblante de uma criança de que acaba de descobrir algo novo solta uma pergunta:
_Então se eu um dia resolver morar com uma mulher eu serei um casamento?
_Não, casamento é o nome dado ao compromisso que você vai assumir, você será um homem casado.
_Entendo. Respondeu o homem sem nome, colocando o livro de volta a estante.
Percebendo que Waltz estava esquentando algo ele perguntou:
_O que você está fazendo?
_Estou preparando um ensopado. Respondeu Waltz.
O homem sem nome então não disse nada mais apenas assentiu com a cabeça. E foi que Waltz perguntou:
_Se você, garoto sem nome, fosse escrever um livro, qual seria o tema?
O homem sem nome pensou por alguns segundos e disse:
_Não faço ideia. E você?
Waltz então sorriu e respondeu:
_Eu tenho muitas ideias, sabe quando eu era criança, eu era muito fechado. Não fazia amigos nem nada do tipo e por este motivo criei uma personalidade um pouco diferente das convencionais da minha época.
_Convencional? Perguntou o Homem sem nome interrompendo Waltz.
_É como se fosse, uma coisa comum, como se fosse uma ideologia que a maioria das pessoas segue. Respondeu Waltz amigavelmente. _Continuando, com essa personalidade nada convencional eu passei a fazer coisas estranhas, que logo mais vou te contar, mas quando o clarão chegou o mundo mudou e o que antes eu fazia parecia ser estanho virou minha fonte de sobrevivência. Então talvez eu escreveria sobre a mente humana, mas infelizmente hoje escrever um livro seria perda de tempo.
E assim que terminou sua fala Waltz a água começou a ferver e foi nesse momento que ele começou caminhar em direção a cozinha. E no instante em que ele pisou na cozinha o Homem sem nome perguntou:
_Você está fazendo ensopado de que? Eu não vi você colocando nenhum alimento ai dentro...
Então Waltz deu uma gargalhada alta se virou para o homem sem nome com o sorriso amarelado e disse:
_Sabe que talvez hoje um livro meu poderia até fazer sucesso. O mundo inteiro me conhece, talvez hoje eu seja o homem mais famoso do mundo.
Intrigado o homem sem nome perguntou:
_Eu nunca nem ouvi falar de você, como pode ser o homem mais famoso do mundo?!
Waltz então puxou sua pistola e apontou para a cabeça do Homem sem nome num movimento tão rápido que deixou o mesmo sem reação. Então o velho disse:
_Muitos me chamam de Canibal, ou de "Senhor da Morte". Então não diga que não me conhece, pois você com certeza já ouviu falar nas minhas histórias.
Nessa hora o Homem sem nome se tremeu inteiro, ele estava desarmado dentro da casa do Canibal era morte certa. Waltz então percebendo que o Homem sem nome ficou sem reação, disse:
_ Você ainda não viu nenhum alimento no ensopado, por que você é o ingrediente principal.
Então vendo que não tinha outra opção o Homem sem nome começou tentou correr para fora da casa, mas Waltz acertou um tiro no joelho da sua vítima, fazendo-o cair no chão. Então Waltz foi se aproximando do Homem sem nome e a cada passo a madeira do piso fazia um barulho insuportável. Então quando chegou bem próximo do Homem sem nome o mesmo tentou o acertar com sua facada, mas o velho se livrou rapidamente e ainda desarmou o homem sem nome.
Então ele começou a sorrir, e num movimento rápido o homem sem nome derrubou Waltz no chão, mas antes que pudesse se levantar para fugir, Waltz pegou uma chave de fenda em cima da geladeira e antes que o Homem sem nome pudesse fugir, afundou a mesma na sua perna atravessando de um ponto a outro. E aquilo fez com que o homem sem nome soltasse um verdadeiro berro de dor e sua perna começou a sangrar, Waltz nesse momento se abaixou aonde a perna da sua vítima sangrava e com um sorriso diabólico lambeu o sangue da própria perna do Homem sem nome.
Ele se aproximou baixinho da sua vítima e disse:
_Hoje a refeição aqui em casa, vai ser o Ensopado de Sem Nome. O mais gostoso que eu já comi.
Então o Homem sem nome ainda sofrendo com a dor da chave de fenda que atravessou sua perna, suplicou:
_Não me mate, por favor!
Waltz então limpando o sangue que sujou sua boca retrucou:
_Eu não estou te matando por prazer e sim por necessidade de sobrevivência.
E antes que o Homem sem nome pudesse perceber, Waltz com uma faca cortou a mão direita do Homem sem nome e sorrindo disse:
_Eu vou fazer isso lentamente, pois carne humana assim, não é todo dia que se encontra...
E Waltz continuou mutilando o corpo do homem sem nome e colocando as partes cortadas dentro da panela onde a água estava fervendo. Neste mundo pós-apocalítico os fracos não tem chance alguma de sobreviver.