A Rejeitada - Capítulo II

Às vezes me pego sonhando em como seria diferente minha vida sem meus pais. Nada faria sentido. Não conseguiria viver nem um minuto sem eles.

Meu pai morreu. E a culpa era minha, talvez não seja, assim como a médica me falou, mas eu estava junto com ele, isso fazia toda a diferença. Penso que poderia ter evitado o acidente, mas de que maneira? Eu nunca imaginaria que isto pudesse acontecer, justamente com nós.

Passaram-se dois meses depois do acidente, e minha mãe já estava casada com outro cara. Como ela pode? Meu pai se foi há dois meses e ela já havia se casado. Quando saí do hospital, a mais ou menos duas semanas antes de completar dois meses da morte do papai, ela já estava aos agarros com outro homem. Ela ainda me culpa, e de certa forma eu também. Meu padrasto, se é que posso chamá-lo assim, está sempre brigando com minha mãe, por ela me culpar pelo que aconteceu. Talvez ele já tenha sofrido algo parecido por isso sempre me defende. Eu não o detestava, parecia ser um cara bacana e muito divertido, estava sempre rindo e tentando me fazer sorrir. Seu único problema era o álcool. Toda vez que chegava bêbado em casa, me trancava em meu quarto e podia escutar minha mãe aos gritos. Ele batia nela, e ela gostava, pois desde a primeira surra, ela não fez nada para que não se repetisse. Um certo dia, ele tentou arrombar a porta do meu quarto, eu fiquei em pânico. No outro dia, pediu desculpas e me abraçou. Eu o perdoei.

O tempo foi passando, eu já estava com 15 anos quando completou 3 anos da morte do meu pai. Minha mãe ainda estava casada com o alcoólatra, e nossa convivência estava melhor. Eu e minha mãe já estávamos nos falando, ela parou de me culpar pelo acidente.

Estava chegando em casa depois da aula. Uma aula chata de matemática, só queria me deitar um pouco. Não havia ninguém em casa. Aproveitei para tomar um banho e colocar meu pijama, pois estava cansada e queria muito dormir. Quando saí do banheiro me deparei com a porta da frente da casa aberta. Entrei em choque, corri para meu quarto, coloquei uma roupa e saí do quarto para ver quem havia entrado. No sofá da sala estava meu padrasto, senti um alívio. Fechei a porta e fui perguntar para ele o porquê da porta aberta. Ele estava bêbado, pude sentir o cheiro de álcool, eu sabia como ele reagia quando estava bêbado, então fui lentamente para o meu quarto, mas ele me ouviu e veio atrás de mim. Eu não consigo explicar o que senti naquele momento. Ele veio pra cima de mim, me jogou no chão, depois me levou para o quarto. Já deve estar imaginando o que de fato aconteceu depois disso, ele me estuprou. Senti-me estranha. Aquele homem em cima de mim, naquele momento eu queria morrer, eu queria meu pai ao meu lado. Minha mãe chegou e ouviu meus gritos de socorro, correu até o quarto e quando ela viu o que estava acontecendo, simplesmente parou por uns minutos e fechou a porta e me deixou com aquele homem, o deixando terminar o que havia começado. Minha mãe não me ajudou.

No dia seguinte, acordei mal. Estava com muita dor de cabeça, e no corpo. Depois de tomar banho, desci até a cozinha. Minha mãe estava lavando a louça, fui até ela e perguntei o porquê dela não ter me ajudado, ela se virou e bateu em minha cara. Chamou-me de vadia, e disse “a culpa é sua”. Novamente começou a me culpar, mas agora não só pelo acidente e sim também pelo estupro. Eu a segurei pelo braço e a disse que aquele homem era nojento e que ela precisava pedir o divórcio, mas ela não quis me ouvir. Chorando, pegou sua bolsa e saiu de casa me deixando sozinha.

Eu precisava ir até uma farmácia. Passou-se duas semanas depois do estupro e eu não estava me sentindo bem. Comprei um remédio para dor, mas não adiantou. Fui até o hospital mais próximo e pedi para ser examinada. Demoraram uns 30 minutos até o médico vir e falar comigo. Ele se sentou ao meu lado, não estava com cara de preocupado, isso me aliviou por alguns segundos. Estava com medo do que ele pudesse me dizer, até que ouvi “parabéns, você está grávida”. Fiquei sem reação, paralisei e logo senti uma tontura e desmaiei. Nesse meio tempo, passou várias coisas pela minha cabeça. “Eu estou grávida”. Isso não podia ser real. Será que eu estava sonhando? O que minha mãe iria dizer quando ficasse sabendo?

Não sabia o que eu iria dizer, eu estava grávida, eu iria ser mãe, e o pai da criança é meu próprio padrasto.

David Alex Siqueira
Enviado por David Alex Siqueira em 26/01/2017
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