Senhora morte
Senhora morte
A gargalhada ecoou de repente. Os pelos do meu corpo eriçaram. Virei em direção ao som e dois olhos maldosos me fitaram com ódio. Era o meu segundo dia de trabalho naquele asilo e até então eu não tinha visto aquela idosa alta. Magra, pele muito branca, cabelos fartos. A mulher parecia ter rido de nada em especial, mas ao observar melhor vi outra idosa próxima á ela tremendo incontrolavelmente e vomitando algo que parecia sangue.
Aproximei rapidamente na tentativa de ajudar, mas nesse momento um vento muito forte começou a soprar e a idosa que vomitava caiu ao chão sem vida. A mulher que minutos antes gargalhara levantou da mesa e vagarosamente entrou para dentro da casa, mas antes me encarou desafiadoramente. Um forte mal estar seguido de medo me dominou.
O jantar estava sendo servido. Os idosos se alimentavam em silencio. A televisão estava ligada, mas poucos prestavam atenção. Para muitos o mundo exterior já não despertava interesse. A senhora alta ao contrário acompanhava o noticiário atentamente e a cada vez que reportava uma tragédia seus olhos brilhavam e ela sorria sem disfarce. Para mim era desagradável olha-la.
Um senhor obeso começou a tossir forte e a ficar roxo. Eu e a outra enfermeira corremos para socorrê-lo, mas logo os outros internos também começaram a passar mal. Alguns espumavam pela boca, outros sangravam pelo nariz, outros gemiam enquanto batiam com as cabeças nas mesas. Gritei por socorro logo outros funcionários seguidos pelo médico apareceram.
Tudo foi feito, mas infelizmente os idosos faleceram. Procurei pela mulher alta. Eu a vira durante os ataques que vitimara os internos. Enquanto o desespero tomara conta de todos, ela ficara no canto observando indiferentemente enquanto tomava sua sopa. Perguntei aos funcionários por ela, mas negaram sua existência. Afirmaram que ali no asilo havia somente trinta internos.