O FANTASMA DE BOTAS!
Mabel entrou em casa tremendo. A menina era palidez de cadáver. Não conseguia pronunciar nenhuma palavra e balbuciava ao tempo em que chorava.
- O que foi Mabel?
Todos perguntavam não vendo sentido claro naquele desespero todo. A fazenda ficava isolada e nossa família trabalha com esforço para manter o que papai nos deixara. Como irmão mais velho, fiquei tentando acalmá-la. Mamãe trouxe água com açúcar. A nossa caçula, com seus 12 anos, tinha fértil imaginação. Porém, devido aO seu estado, não duvidávamos que algo terrível acontecera. Depois de algum tempo, e muito choro, ela conseguiu se acalmar pronunciando, enfim, as primeiras palavra inteligíveis:
- Botas! Eram botas!
Ficamos todos sem compreender direito o que ocorrera.
- O que você está querendo nos dizer? – Perguntei.
- Eu via as botas do papai...
A palidez de Mabel espalhou-se por todos nós. Ficamos todos boquiabertos. Nosso pai havia sido encontrado morto no milharal, todo sujo de terra e sem suas botas novas compradas há muito custo de um primor que o encantava. Ficou falando em como eram confortáveis, sendo as melhores que já calçara em toda a vida. Nunca vira antes alguém ficar tão feliz por um simples par de botas. No entanto, pouco tempo depois, para tristeza de todos nós, alguém o degolara enquanto trabalhava no milharal e não sabíamos quem fora. A polícia procurara por todo o Município, mas o culpado nunca fora localizado.
A única pista eram as botas novas...
- Aonde você as viu?
Ainda balbuciando, apontou para o meio do milharal.
Corri para lá junto ao meu segundo irmão, Tiago. Andamos por todo o centro do milharal, para a direção em que ela apontara e não encontramos nada. Encerramos a busca por que começara a escurecer. Voltando para casa, Mabel no quarto com mamãe, e nossa irmã, Lucília, preparando um cheiroso café nos falou:
- Ela disse que as botas estavam andando sozinhas!...
Tiago, esmurrando a mesa, não se conteve:
- Sabia que era coisa daquela cabecinha tonta!...
Fiquei parado observando-os. Enquanto a água se misturava ao pó dando aquele cheiro gostoso ao ar, Lucilia emendou:
- Não creio em mentira ou imaginação, Tiago. Ela se assustou de verdade. Mabel pode ter lá os miolos meio moles, mas sabe do que viu.
- Você está certa disso? – Perguntou Tiago levantando-se irritado.
Naquela noite quente fomos todos dormir tarde e exaltados. Fiquei ainda algum tempo na varanda, balançando-me na velha cadeira de Papai fumando um cigarro que enrolara na palha. Por precaução, deixei o bacamarte próximo. Creio que passava da meia-noite quando caí no sono ali mesmo. Acordei em um repente ouvindo passos que vinham da extremidade oposta da varanda. Eram nitidamente o som de botas contra o assoalho de madeira. As fracas luzes penduradas cintilavam.
- Quem vem lá? – perguntei.
O som dos passos parou quando senti que dobrariam a quina da varanda. As luzes então se apagaram. Peguei o bacamarte.
- Se não se mostrar vou atirar!
Apontei para a escuridão. Ouvi os passos, mas não via ninguém.
- Tiago, é você?
Ninguém respondia. A luz da noite permitia certa visibilidade difusa, mas não pude notar ninguém. Os passos estavam soando há poucos metros e não pude ver nada. Então, aceleraram na minha direção rapidamente e vi apensa um par de botas andando sozinhas. Assustando, pensei em atirar no vazio, mas um forte vento bateu-me no peito lançando-me longe. Nisso, puxei do gatilho disparando contra o teto da varanda ao passo que era lançado para fora caindo de costas sobre os arbustos do jardim.
Em pouco tempo as luzes voltaram ao normal e notei que minha família, desperta pelo barulho do tiro, veio em disparada a meu socorro.
- O que houve, Mano? – Perguntou Tiago trazendo sua espingarda de cano serrado.
Não quis dizer a verdade. Inventei uma história maluca de que acordara no susto e acabei disparando contra um morcego que escapara.
- Você furou o teto da varanda por conta de um morcego besta?
Minha história não o convencera, nem aos demais, mas deixaram passar diante do que ocorrera e pelo nervoso que a todos aterrara. No dia seguinte eu sabia exatamente o que fazer. Nas primeiras horas, fui ao local aonde enterramos nosso pai. Sentei diante do seu túmulo. Porém, antes, trouxe-lhe um par de botas velhas que ele tinha em casa.
- Olha, fantasma do pai, se é por falta das botas fique com essas e deixe nossa família em paz!
Nunca descobrimos quem o matara, porém, desde aquele dia, nunca mais vimos ou ouvimos o par de botas...
Mabel entrou em casa tremendo. A menina era palidez de cadáver. Não conseguia pronunciar nenhuma palavra e balbuciava ao tempo em que chorava.
- O que foi Mabel?
Todos perguntavam não vendo sentido claro naquele desespero todo. A fazenda ficava isolada e nossa família trabalha com esforço para manter o que papai nos deixara. Como irmão mais velho, fiquei tentando acalmá-la. Mamãe trouxe água com açúcar. A nossa caçula, com seus 12 anos, tinha fértil imaginação. Porém, devido aO seu estado, não duvidávamos que algo terrível acontecera. Depois de algum tempo, e muito choro, ela conseguiu se acalmar pronunciando, enfim, as primeiras palavra inteligíveis:
- Botas! Eram botas!
Ficamos todos sem compreender direito o que ocorrera.
- O que você está querendo nos dizer? – Perguntei.
- Eu via as botas do papai...
A palidez de Mabel espalhou-se por todos nós. Ficamos todos boquiabertos. Nosso pai havia sido encontrado morto no milharal, todo sujo de terra e sem suas botas novas compradas há muito custo de um primor que o encantava. Ficou falando em como eram confortáveis, sendo as melhores que já calçara em toda a vida. Nunca vira antes alguém ficar tão feliz por um simples par de botas. No entanto, pouco tempo depois, para tristeza de todos nós, alguém o degolara enquanto trabalhava no milharal e não sabíamos quem fora. A polícia procurara por todo o Município, mas o culpado nunca fora localizado.
A única pista eram as botas novas...
- Aonde você as viu?
Ainda balbuciando, apontou para o meio do milharal.
Corri para lá junto ao meu segundo irmão, Tiago. Andamos por todo o centro do milharal, para a direção em que ela apontara e não encontramos nada. Encerramos a busca por que começara a escurecer. Voltando para casa, Mabel no quarto com mamãe, e nossa irmã, Lucília, preparando um cheiroso café nos falou:
- Ela disse que as botas estavam andando sozinhas!...
Tiago, esmurrando a mesa, não se conteve:
- Sabia que era coisa daquela cabecinha tonta!...
Fiquei parado observando-os. Enquanto a água se misturava ao pó dando aquele cheiro gostoso ao ar, Lucilia emendou:
- Não creio em mentira ou imaginação, Tiago. Ela se assustou de verdade. Mabel pode ter lá os miolos meio moles, mas sabe do que viu.
- Você está certa disso? – Perguntou Tiago levantando-se irritado.
Naquela noite quente fomos todos dormir tarde e exaltados. Fiquei ainda algum tempo na varanda, balançando-me na velha cadeira de Papai fumando um cigarro que enrolara na palha. Por precaução, deixei o bacamarte próximo. Creio que passava da meia-noite quando caí no sono ali mesmo. Acordei em um repente ouvindo passos que vinham da extremidade oposta da varanda. Eram nitidamente o som de botas contra o assoalho de madeira. As fracas luzes penduradas cintilavam.
- Quem vem lá? – perguntei.
O som dos passos parou quando senti que dobrariam a quina da varanda. As luzes então se apagaram. Peguei o bacamarte.
- Se não se mostrar vou atirar!
Apontei para a escuridão. Ouvi os passos, mas não via ninguém.
- Tiago, é você?
Ninguém respondia. A luz da noite permitia certa visibilidade difusa, mas não pude notar ninguém. Os passos estavam soando há poucos metros e não pude ver nada. Então, aceleraram na minha direção rapidamente e vi apensa um par de botas andando sozinhas. Assustando, pensei em atirar no vazio, mas um forte vento bateu-me no peito lançando-me longe. Nisso, puxei do gatilho disparando contra o teto da varanda ao passo que era lançado para fora caindo de costas sobre os arbustos do jardim.
Em pouco tempo as luzes voltaram ao normal e notei que minha família, desperta pelo barulho do tiro, veio em disparada a meu socorro.
- O que houve, Mano? – Perguntou Tiago trazendo sua espingarda de cano serrado.
Não quis dizer a verdade. Inventei uma história maluca de que acordara no susto e acabei disparando contra um morcego que escapara.
- Você furou o teto da varanda por conta de um morcego besta?
Minha história não o convencera, nem aos demais, mas deixaram passar diante do que ocorrera e pelo nervoso que a todos aterrara. No dia seguinte eu sabia exatamente o que fazer. Nas primeiras horas, fui ao local aonde enterramos nosso pai. Sentei diante do seu túmulo. Porém, antes, trouxe-lhe um par de botas velhas que ele tinha em casa.
- Olha, fantasma do pai, se é por falta das botas fique com essas e deixe nossa família em paz!
Nunca descobrimos quem o matara, porém, desde aquele dia, nunca mais vimos ou ouvimos o par de botas...