NOITES INFERNAIS.
O homem ziguezagueava pela rua deserta naquela madrugada fria de domingo.
Havia bebido mais do que estava acostumado,e essa era sua única lembrança.
Em um segundo era como se toda sua vida tivesse sido apagada, sabia que estava pensando em alguma coisa importante, mas como em um truque de mágica, de repente só ficou o vazio em sua mente.
Parou no meio da rua e se deu conta que o efeito da bebida havia passado, mas ainda assim o mistério persistia: - quem sou eu?Pensou ele.
Levou a mão ao bolso traseiro de sua calça jeans e encontrou uma carteira.
Dentro dela, havia algumas notas amassadas, puxou a identidade que estava ali e que julgava ser sua e deu uma boa olhada na foto, mas não conseguia reconhecer aquele rosto.
O nome tão pouco significava alguma coisa para ele. Pior, percebeu que não conseguia reconhecer as letras, continuou caminhando, não sabia para onde ia, mas seguiu em frente. Encontrou uma jovem mulher que também parecia sem rumo encostada em um poste,ela estava curvada,parecia fazer força para vomitar mas nada saia de sua boca.
Você está bem? Perguntou ele.
- Minha Barriga dói. Sinto vontade de vomitar, mas não consigo! Lamentou-se a jovem.
-Qual o seu nome? Continuou a conversa o homem.
-Agora que você perguntou, notei que não sei quem eu sou! Respondeu a moça confusa.
- Também não sei quem sou! Balbuciou o homem.
Ficaram por alguns segundos apenas um olhando para o outro, sem saber o que dizer ou apenas tentando entender o que havia acontecido.
Mais a frente o homem notou umas cincos ou mais silhuetas vindo correndo de quatro em sua direção, estavam a mais ou menos há umas cinco esquinas de distancia, mas se aproximavam rápido. Deus, o que quer que fossem eram imensos.
Voltou correndo na direção que tinha vindo inicialmente e foi acompanhado pela jovem.
Corria olhando para trás e para seu horror pode ver bem as criaturas.
As patas traseiras eram de boi, os braços eram semelhantes aos de um gorila, a cabeça era de um ser humano, mas os olhos eram repletos de remela, e possuíam a língua bifurcada como a língua de uma cobra, notou também com horror, que o asfalto derretia onde as patas das criaturas tocavam.
Percebeu que não conseguiria escapar das criaturas e derrubou a jovem no chão, as criaturas atacaram a moça, dando tempo para o homem se esconder atrás de um muro no quintal de uma casa.
Da onde estava podia ouvir os gritos de agonia da moça, espiou sobre o muro e viu a jovem sendo devorada pelas bestas. A cena era horrível, as cincos criaturas se revezavam e comiam a menina viva.
Tomou coragem e correu, esperando que as criaturas estivessem entretidas com o sofrimento da menina.
Correu sem olhar para trás até chegar próximo a um grupo de pessoas que se aglomeravam em volta de um corpo no chão.
Corram! Gritou ele.
Mas ninguém pareceu ouvir.Se aproximou do grupo e para sua surpresa, era a pessoa que ele achava ser ele.
Nervoso puxou a identidade do bolso e olhou novamente a foto.
Agora a foto estava diferente, embora ainda fosse a mesma pessoa, agora o homem da foto tinha um sorriso no rosto, largou o documento no chão e tentou achar algum local com espelho.Entrou no banheiro de um bar e para seu alivio existia um grande espelho.se aproximou afoito e para seu desespero notou que não tinha reflexo.
Dois jovens cada um com uma lata de cerveja na mão entraram no banheiro batendo um papo animado e passaram por ele como se não o tivessem visto.
Saiu do banheiro cambaleando e avistou uma das criaturas em cima do teto de uma Hilux,parecia estar farejando.
Voltou para dentro do bar choramingando e ficou agachado embaixo de uma mesa, torcendo para não ser encontrado.
Notou um toque em seu ombro e soltou um grito de horror, mas não era uma das criaturas, era um homem semelhante a Charlie Chaplin, até suas roupas eram iguais ao que o ator usou no filme tempos modernos.
-Eu posso te tirar daqui! Cochichou Chaplin mexendo o bigode em seguida.
-As criaturas, elas querem me pegar!
-Elas não vão te ver venha comigo! Respondeu o sósia do ator estendendo a mão ao homem desesperado.
O homem segurou a mão do Chaplin e caminharam para o fundo do bar onde uma Mercedes Benz dos anos 20 da cor azul estava estacionada.
Sentou do lado do carona e agachou-se no banco quando o carro passou devagar pelas criaturas que estavam aglomeradas na frente do bar o procurando.
-Muito obrigado! Agradeceu o homem. Como você pode me ver você também está morto?
Chaplin apenas fez aquele movimento característico seu com a boca mexendo o bigode e nada respondeu.
Olhou pelo espelho retrovisor do carro e viu sentado no banco traseiro, o homem da foto, o homem que ele achava ser ele. Mas se era ele como ele poderia esta no banco do carona e no banco traseiro?
Fechou os olhos tentando fugir daquele pesadelo, mas ao abrir, nada tinha mudado.
-Confuso? Perguntou Chaplin. Sem esperar a resposta o sósia ou o próprio Chaplin continuou: Aquele ali atrás não é você. É o homem que você matou para roubar sua carteira.
O homem olhou para trás e o homem morto que antes ele achava ser ele não esboçou nenhuma reação.
-Não se sinta um homem mau por isso, ele não era exatamente uma boa pessoa. Sabe a menina que você deixou ser devorada pelas criaturas? Tinha acabado de ser estuprada e morta por ele.
Mas às vezes a roda do destino gira para o lado certo sabe, ele acabou encontrando você, e tentou reagir ao assalto, você percebendo que ele também estava armado atirou primeiro.
O homem tentava lembrar-se dos acontecimentos, mas sua memória não voltava.
Como se pudesse ler seu pensamento Chaplin afirmou: Você jamais terá essas memórias de volta, os mortos não tem memórias, algumas vezes por alguma razão eles se lembram e isso nunca é bom.
O homem notou que estava suando, a temperatura naquele carro estava subindo depressa.
À medida que a temperatura subia,ele notou que pele do rosto de Chaplin escorria,revelando carne apodrecida.
Percebendo seu horror, Chaplin o fitou com olhos perversos e mexeu o bigode para ele.
A menina também não era um exemplo de pessoa sabe, há dez anos assassinou a própria avó porque ela não a deixava encontrar o namorado, a policia nunca desconfiou dela, mas a felicidade da jovem não durou muito, engravidou do namorado, que a trocou por uma amiga, inconformada largou a criança logo após a dar a luz.
-Meu Deus! Balbuciou o homem.
-DEUS NÃO EXISTE, NÃO NESSE CARRO! Gritou Chaplin, agora com o rosto totalmente cadavérico.
Notou que estavam em uma estrada de terra sem iluminação nenhuma, do lado de fora notou alguns homens nus seguindo o carro como uma espécie de procissão.
O carro parou no meio da estrada e esses homens que mais pareciam zumbis cercaram o carro e ficaram gemendo batendo e balançando o carro tentando forçar a entrada.
Os homens não estavam apenas nus, eles estavam com o pênis ereto, e não eram o membro de um ser humano eram duas vezes maiores e mais grossos que o pênis de um cavalo.
Percebendo o horror do homem, o cadáver que conduzia o carro o acalmou: - Isso não é para você, é para ele. Disse apontando para o homem ao mesmo tempo em que a porta do carro abriu sozinha e o homem do banco traseiro foi puxado para fora do carro aos berros. O carro seguiu viagem e mesmo depois de sumir de vista, o homem podia jurar que podia ouvir os gritos do estuprador.
-O que vai acontecer comigo? Perguntou.
-Não seria mais interessante eu te contar como você morreu?
-Havia acontecido tanta coisa que ele se esquecera de fazer essa pergunta.
Você nunca havia matado ninguém antes, se sentido culpado pelo que você fez você bebeu até onde aguentou. Voltou para casa e jogou sua arma no sofá e foi se deitar a ultima coisa que você pensou antes de pegar no sono foi: amanha e dia de visita, vou ao presídio visitar minha esposa. Sua esposa trabalhava como diarista e furtou duzentos reais da casa dos patrões e acabou sendo condenada a três meses de prisão.
Você acordou assustado com o barulho de um tiro, levantou da cama e correu até a sala.
Lá você encontrou o corpo do seu filho de cinco anos de idade sem vida, o coitado achou que a arma era de brinquedo e atirou contra si mesmo, percebendo que você era o culpado, não aguentou a dor e tirou a sua própria vida.
Horrorizado o homem nada disse.
-Pronto chegamos! Disse a criatura atrás do volante.
-Onde estamos? Perguntou.
-Onde você ficará eternamente, na sua casa, onde você sempre morou.
-Não quero descer! Choramingou o homem.
Das costas da criatura brotaram quatro pares de asas negras, o capo do carro foi arrancado pela abertura das asas,as mãos no volante agora era garras de águia,e no lugar dos olhos existiam duas bolas de fogo.- SAIA DO CARRO OU TE DEVORO!
O homem assustado saiu cambaleando do carro e correu em direção a casa, ao olhar para trás viu que a criatura reassumiu a forma de Chaplin e ficava mexendo o bigode enquanto observava ele entrar na casa.
Dentro da casa ele viu o filho pegando o revolver e entrou em desespero ele, gritava para o filho soltar a arma, mas sabia que o filho não ouviria.
O filho com a arma na mão ligou a TV, e estava passando o filme o grande ditador com Chaplin.
A cena parecia ao discurso final, mas não era. Chaplin falava diretamente para o filho dele.
-Ei menino vamos brincar?
O garotinho sorrindo concordava sorrindo!
Chaplin puxava um revolver vermelho e apontava para a própria cabeça, apertando o gatilho em seguida ,mas em vez do estampido da pólvora se ouvia o som de um apito,Chaplin fazia uma careta e se jogava no chão arrancando risadas de seu filho.
-Sua vez menino! Disse ele.
O pai desesperado tentava tirar a arma da mâo do filho que apontava o revolve bem para sua têmpora e atirava, colocando assim o fim em sua vida.
A dor que o pai sentia era lancinante ele ajoelhava e via a si mesmo saindo do quarto e encontrando o filho morto. Em seguida, pegava o revolver e cometia suicídio.
Essa cena se repetia por toda a eternidade.