Um Ponto de Interrogação dentro da Alma,
                                           a Cadejo
- DTRL 29


 
        Um trovão abre um pedaço de céu e um mergulho no tempo vai abrindo caminho por dentro do corpo e vai quebrando, vai consumindo...
 
          Quando conheci Rebeca era uma bolinha de pelo com olhos e orelhas. Seguia meus passos por todo lado, era preciso cuidado para não esmagá-la. Massa indistinta, mas com capacidade de seguir a chefe da casa; no instinto de identificar o poder, o filhote vivia pregado em mim como uma acidentalidade.

        A cachorra ficou em casa apenas uns dias, pertencia ao meu filho que estudava na capital. Mas, em alguns meses voltou. O rapaz teria que morar em um apartamento; não aceitavam animais no prédio.

           — Pai, fique com a rottweiler. Vai ser muito bom aí no sitio. Mamãe fica muito sozinha.

             — Eh, Marco! É sua mãe mesma que não quer saber de cachorro grande. Ela tem medo. Vem muita gente aqui.

        — Nem pense, filho. Dê a cadela pra quem quiser. Falei pra não comprar. — disse eu tomando o telefone das mãos de Otávio. — Cuidar de mais esse bicho?  Sempre acaba sobrando é pra mim.

        — Mãe, é um animal bom demais. Não tenho coragem de dar pra ninguém. Aí ela continua sendo minha. Está nova, vai se acostumar bem e vai ser guarda de primeira.  É forte, rápida, mas não é agressiva. Já se apegou à senhora. Vai dar certo.

       Mais conversa jogada fora. Marco e eu insistentes, cada um em sua posição; o pai terminou por ter a palavra final:

      — Pode trazer a cachorra. Vou mandar fazer um canil bem na entrada do sítio, ao lado da porteira. Quero ver safado entrar aqui! Já planejei tudo; à noite, vamos deixar Rebeca presa na corrente, comprida, que dê para chegar até a casa.
 
        Saindo da rodovia, oitenta metros de estradinha forrada de brita miúda levavam à porteira; desta ao espaçoso terreiro de café; tudo ladeado de flores, vermelhas, amarelas, brancas, balançando pelas brisas. A casa, depois do terreirão, era nova, cor de tijolo; majestosa, confortável. Havia a horta de verduras e folhas-de-chá, mais jardim com rosas e manacá que penetravam a noite com seu perfume; o pomar variado e bem cuidado. O quiosque era próximo da piscina; éramos uma família festeira que amava reunir amigos.
 
      Foi construído o canil, como planejado. E Rebeca veio definitivamente... Nada da bolinha de pelos agora. Era um animal robusto, as manchas ferrugem da raça quebravam o negro brilhante; temperamental, ração e água somente nas suas vasilhas, não aceitava muito bem a presença de pessoas estranhas ou outros animais. Até que um macho, ás vezes, aceitava; uma fêmea, jamais. Para quem sobrou cuidar dela? Havia de ser eu. Otávio fez isso nos primeiros dias, porém trabalhava em outra cidade e mesmo que estivesse em casa haveria de se ocupar com o café, com a cana... Nenhum empregado ousaria entrar no canil.

          Uma presença, a cachorra, existindo, olhando, enchendo o espaço. Eu não a queria em casa, porém tudo foi se organizando. Nós duas acostumando uma com a outra...  uma convivência de sensação controversa — segurança e confronto; um peso me abafava, pressentindo sombras naqueles olhos desafiantes, vermelhos e distantes. Mesmo assim achava o máximo que a cadela não permitisse que ninguém se encostasse em mim. Se uma visita vinha para as beijocas, ela já latia meio enfurecida, mesmo de longe, presa no canil. Se saíssemos com coleira, ela me arrastava para onde quisesse. Enfim, acabou se tornando uma companheira obediente... só a mim.

        Aos poucos, devagarzinho, veio a afeição pela cadela; ao mesmo tempo em que fui instintivamente percebendo que algo se alterava na rotina da família. Na época não pude entender as mudanças de comportamento.  Meus filhos escasseavam as vindas para casa, com desculpas esfarrapadas: provas, estágios, viagens com amigos, com as namoradas... Se viessem, pediam que a cachorra permanecesse presa, não havia brincadeiras ou ternura, sempre com pressa de irem embora, arredios, estranhos, diferentes do acostumado.  Marco, agora parecia ter raiva dali, do animal que fizera questão que cuidássemos. Otávio, talvez estivesse com algum caso; afastado de casa, sempre dizia que tinha muito trabalho. Fazíamos amor mecânica e espaçadamente; parecia-me desinteressado de mim, do sítio, da vida. Os amigos também sumiram, recusaram convites que fizéramos na tentativa de regularizar nossas reuniões. Com o tempo, tudo ia piorando; eu, com um sentimento estúpido, imaginava um espectro da maldade pairando sobre nós. Então, algo maior começou a tomar forma...
 
            As noites, nos últimos meses, eram muito iguais — suor e angústia, pesadelos, voltas e mais voltas na cama, duas, três, quatro horas; gemidos, a bexiga ardendo. O sono entrecortado só chegava pela manhã. Nesse dia, acordei sobressaltada com a campainha do telefone e um ganido doloroso. A ligação vinha do sítio vizinho. Rebeca fora levada lá para pegar cria. Avisavam que ela arrebentara o portão e fugira na madrugada. O macho, deles, ficara por ali mesmo e já fora recolhido. Receiavam pelo que pudesse acontecer com aquela fera solta. 

              Ouvi também o latido ameaçador e conhecido de Beca. Já voltara para casa sozinha. Afligia-me com o que pudesse ter acontecido no seu trajeto de volta. Saí rapidamente para o terreiro. Rebeca já fechou meu caminho, querendo pular em mim, lamber-me. Empurrei-a enojada: olhos nevoentos, pelos eriçados, lábios puxados, ainda mais para trás, expondo os dentes caninos, sangue que escorria fresco das mandíbulas. Busquei intrigada, tateando-lhe o corpo, na tentativa de detectar de onde viera o sangue. Não era dela. Recordei o uivo de agonia que ouvira, esquadrinhei os arredores.  Um rasto sanguinolento ia até o canil; lá, com o pescoço revirado, rasgada da garganta à barriga, jogada em meio às fezes, estava Marmita, a pequena vira-lata que aparecera ali com trabalhadores e foi ficando. O portão aberto a deixara curiosa. Rebeca chegando, defendera seu território; não podia ser instinto assassino. Era o que queria acreditar...
 
           Apesar de a cachorra ser mantida com disciplina e carinho, acidentes se sucederam — um dos filhotes paridos por ela foi comido assim que nasceu; pensamos que talvez ele tivesse alguma deformidade, seria normal nesta situação. A cadela do empregado foi estraçalhada ao se aproximar das outras crias, mesmo com Beca presa na corrente; o ouriço caído da árvore que sombreava o canil teve a mesma sorte, a mandíbula poderosa conseguiu perfurar o casco de um tatu desprevenido; a pombinha que julgáramos mais ágil foi destruída. O coelho, o lagarto, as galinhas, os ratos e aquilo que não pudemos ver ou encontrar os restos, viraram cadáveres destroçados. Sempre havia uma desculpa para justificar a matança... Conversei com o veterinário, com o padre e outros entendidos sobre aquela agressividade toda. O religioso fez escárnio:

            — Ângela, perdeu a fé? Falta você me dizer que esta cachorra é a encarnação da besta do Apocalipse.

              — Tenho tido sonhos terríveis. Sinto como se tivesse sendo espreitada; procuro pelos lados a origem dessa perturbação, meu coração dispara, a boca fica seca, os olhos ardem. Estou histérica, mas, contraditoriamente, confortada. É como se estivesse sob dominação e conseguisse me livrar ilesa. — lamentei.

             — Ela já feriu pessoas? — continuou o vigário.

          — Bem, teve aquela vendedora de cestos de quem arranhou a perna. Sangrou bastante por causa das varizes. Foi sem querer. — respondi.

          — Tonho, o carroceiro, quebrou a perna; tivemos que cobrir todos os gastos. Beca, mesmo na corrente, espantou o cavalo que disparou, tombou a carroça e amassou nosso carro. — respondeu meu marido, mais preocupado com as despesas do que com as situações embaraçosas.

             — Outra coisa, a fera é preconceituosa, não gosta de negros, homens de chapéu ou sujos. Cheiro forte de suor, não suporta. Semana passada, o seu Onofre veio entregar cimento. Ficou de fora da porteira gritando, sem sair do caminhão. O coitado ameaçava descer, a fera ia em sua direção ladrando; ele se acomodava, a cadela assentava nas pernas traseiras. Segundo o homem contou, isso se repetiu seguidamente até que ele resolveu por a mão na buzina. Foi até engraçado! — completou Otávio.

          — Ela vive cercando, assustando, resmoneando; machucar, não... Nossos amigos, vizinhos aconselham que nos desfaçamos dela. Dizem que vivemos em estado de perigo; seremos responsabilizados se ocorrer qualquer problema maior. — expliquei.

       — Vamos rezar! Nada de mal vai acontecer. É apenas um animal de Deus. — despedia-se o pároco já dando partida no carro, sem ouvir o rosnado enfurecido do animal.
 
      Era o tempo do medo. Sentimento que ia se apurando, mas sempre medo, frio, cortante. Parecia que a amplidão estava interditada.  Eu temia e amava aquele tipo de proteção, estava em uma armadilha.
 
 
     Naquele entardecer estava sozinha no sítio. O caseiro pedira para morar na cidade depois que Beca caçou o seu gato de estimação. Continuaria no serviço, entraria no sítio pelo cafezal; não queria nem passar perto do canil e, muito menos, dormir ali com suas crianças. Otávio, mais uma noite, dormiria onde trabalhava. Depois de um dia de labuta, eu merecia um bom banho, quente, restaurador, demorado. Enrolada na toalha, segui para o quarto. Estaquei. Dois intrusos reviravam as gavetas da cômoda e iam catando tudo em que viam valor. Um deles, ao notar minha presença: 

             — Mais uma joia aqui! Perfumada para nós!

             — Eu primeiro. Sou mais velho!

          Acuada. Empurrada para a cama; um pavor doído esparramado por todo o corpo foi se estratificando. Feriram-me, com pontas e feixes de raios, o espírito e as carnes.


            Pedi, implorei, rezei a Deus... Ouvia os latidos de Rebeca no canil, ainda não a havia soltado na corrente; o portão tinha bastante segurança. Quem me salvaria? Os bandidos sabiam que seriam facilmente identificados. Estava morta, era uma rosa despetalante, dissolvendo em lágrimas pálidas. Estava me decompondo, esgarçando em fibras.

           Deus não viria. Invoquei então... o Diabo, aos berros, repetidamente.  A terra abriu o ventre. Então a vislumbrei acima das coxas e colchas. Olhos fatais, incandescentes, labaredas alaranjadas como chamas de magnésio na escuridão. Finalmente se revelava o seu verdadeiro e apavorante aspecto. A cadela era um monstro de mais de três metros de altura, o pelo inteiramente preto, de brilho intenso, juba de leão, dois chifres brancos.  Rosnava ferozmente, a demoníaca apavorava. Parecia-me acompanhada de uma legião de monstros, móbil mancha negra que avançava. Começaram a acontecer coisas da escuridão...
   
          Um forte cheiro de enxofre embrulhou-me o estômago. A aberração derrubou um invasor, certeira atacou-lhe a jugular. A mão no pescoço queria, inutilmente, deter a vida que esguichava. O outro foi pego pelas costas, sem calças. A tinhosa torceu o tronco, arrancou-lhe o membro saliente, a possante maxila rasgou a barriga; as entranhas expostas pulsavam. O homem, banhado de vermelho e dor, ainda ousou contra-atacar com a faca que me ameaçara. Pouco, já não havia mais energia. Tenaz, a besta esfalelava as vítimas em pedaços, carnes e ossos rangendo; recolhia as almas.


          Eram momentos de irrealidade; em transe minha mente adoecida repassava as cenas. Assistira a tudo, impossibilitada. O espelho em frente mostrava a minha condição de afetada; o reflexo revelava um rosto deformado em mal-estar contínuo. Como me recompor em meio aos destroços?  A cachorra me mostrara sua forma sobrenatural; eu estava apavorada e dividida entre a racionalidade, a gratidão e o pânico. Não havia para onde fugir. Encurralada contra as paredes, sem amargor, recebi as lambidas da cadela. O fedor não mais me incomodava. Só a questão persistia: como Rebeca teria escapado do canil? Eu não tinha mais dúvidas. A besta realizaria qualquer tarefa.

            Ainda em torpor, consegui ligar para meu marido; ele para a polícia, que chegou primeiro. Recolhidas as provas, feitas as explicações, vem a limpeza da casa, da essência...

               Única esperança da manhã é diluir o choque. O mesmo sorriso menos largo, mais amarelecido. Não conseguia esquecer as cenas sobrenaturais; estaria eu em estado de choque? Cansada e amedrontada não comentei nada com ninguém. Não acreditariam, seria motivo das piadas. Diriam que foi o susto que me fez ver coisas. Otávio já não compartilhava dos meus anseios, também buscaria explicações razoáveis, rindo de mim. E se não foi alucinação, o que era aquilo? O que a criatura desejava?
  
           A vida real exigia atenção imediata. Dois homens estraçalhados em meu quarto. A Delegacia instalou a investigação: depoimentos, versões, cochichos. A cidadezinha clamava:

               — O sítio é muito próximo da cidade...

           — É certo que a cachorra salvou a vida de Ângela, mas assassinou dois homens...

         — E tem aquele rapaz da vizinhança  que desapareceu. Será que fugiu de casa mesmo?

            — Não ficou nada explicado como a cadela saiu do canil...

               — Devem deixar o animal solto, à vontade.

              — Que perigo! É tanta gente que passa ali.
 
       Em minha semi-inconsciência via renascerem dias sombreados, em desespero, fechada em mim mesma, na iminência de um milagre. Mantinha o meu segredo, enquanto os procedimentos legais eram feitos; fiz pesquisas, com a mente conduzida ora pelo desespero, ora pelo ceticismo. Apurei sobre Cerberus da mitologia grega, sobre Moddey Dhoo ou Mauthe Doog, da Ilha de Man; o gwyllgi, mítico cão de Gales; no México e no sul da América Central, a Cadejo assombra os viajantes que caminham à noite em estradas rurais; Barguest é o nome dado, no norte da Inglaterra a um monstro lendário — todos animais pretos com dentes e garras enormes, com olhos flamejantes e malévolos, cães do  inferno... Rebeca seria um deles?

             Não dormia mais, ou dormia aos sobressaltos, acordando a cada momento, sonhando com os sustos e assustando-me com a realidade. Otávio me fitava com ar de desconfiança, bebendo muito e descontrolado. Eu o retinha, pois ter uma companhia era bom, mesmo que lutasse com ela.

          Naquela tarde, saímos discutindo da casa em direção à porteira. Ele queria viajar e eu tentava impedir que me deixasse sozinha com meus traumas; ele gritava e eu chorava. Em sobressalto, percebi então a agitação no canil — a sombra que crescia compondo um cenário ameaçador, o rosnado temeroso. Aquilo foi me dando um desespero sem tamanho; Otávio, de costas, nada reparou, mas notei o seu espanto quando demonstrei uma calma repentina, abracei-o amorosamente, deixei que entrasse no carro imediatamente e partisse. Dediquei-me, então à cachorra. Ela me possuía, era eu o animal de estimação. Conversei com ela, mimei-a rogando que não houvesse mais mortes. Estava submersa em angústia e tensão; constante vigília e defesa.

 
           O quanto foi possível, fomos nos reestruturando; aguardávamos a conclusão do processo legal instalado. E, veio o momento do arremate. Nós, proprietários da cachorra, devido às circunstâncias, fomos considerados inocentes das mortes, mas... era uma questão de segurança, o animal deveria ser sacrificado.
 
        Os rapazes vieram de uniforme, revólver na cinta, autorização na mão. Nem haveriam de entrar no canil. A sentença seria executada pelo buraco da tela. Fechei os olhos e já via Rebeca ganindo e sangrando; coisa morta e definitiva; uma escura mancha esmagada no chão. A voz rouca e espantada do policial trouxe-me de volta:

            — Ô dona, tô passando mal! Não consigo fazer pontaria. Parece que a cachorra tá dançando no meio de fumaça. Gozado, parece que tô meio bêbado. Ela cresce e diminui de tamanho. O Zé Carlos não tem licença pra atirar. Volto amanhã cedo. Tudo bem?

    Rebeca uivava ameaçadora; o mal se corporificava... Fiz que os militares saíssem logo dali. Temia que o monstro se manifestasse novamente, agora que tomara gosto de sangue humano, de sorver as almas. Em seguida, liguei para o veterinário, pedi-lhe instruções finais para executar uma ideia cruel, suja. Havia alguns dias que já comprara tudo de que precisaria.

          Tinha que ser eu, que era imune àquele horror, um poder estranho, perturbador; a cadela jamais permitiria que outro se aproximasse, nunca deixaria que um tiro a acertasse e me apavorava pensar que mortes pudessem se repetir. Estava tudo planejado.


          Antes que escurecesse completamente, entrei no canil como para alimentar Beca. Não conseguia controlar o choro e tive que insistir várias vezes tentando acertar sua veia com uma forte dose de anestesia, que naturalmente lhe comprometeria as funções. Dentro de minutos ela adormeceu. O coração aos pulos, o suor escorrendo, as mãos trêmulas e errando, com os olhos marejados, fui lhe injetando um composto letal. Eu estremeci quando a cachorra me mirou; senti que ela me acusava de traição; senti que perderia as forças. Elevou-se, então, do corpo agonizante a sombra maléfica que flutuava sobre um tapete de névoa. Era a mesma besta minha conhecida, a forma do demônio que se desenhava exalando fumaça, envolta em chamas vermelhas. Temi uma reação de fúria, no entanto, os rosnados foram se tornando ganidos de agonia e, lentamente, o espectro desapareceu em meio a chamas, nos imprecisos contornos de luzes e trevas da tarde; a força do diabo vinha do corpo agora inerte. Um resultado espantoso; em minha desorientação perdi-me em pesadelos... tudo se extinguira em poucos segundos; mas estava criado para sempre o medo, estava semeado um misto de culpa inarredável e alívio.

        No dia seguinte, enterraríamos o corpo, após apresentá-lo aos policiais. Restaria o sentimento da precariedade, as feridas abertas com aquela presença amada e temida. Tenho que seguir em frente.

         Um latido vivo, potente trouxe-me à realidade. Olhei para o canil, no chão somente a mancha escura sem vida. Lembrei-me do filhote que havia dado para o sítio vizinho...
 


 










TEMAS: Animais de Estimação e Criaturas Infernais

 
Fheluany Nogueira
Enviado por Fheluany Nogueira em 10/11/2016
Reeditado em 12/12/2016
Código do texto: T5819254
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