Contos Obscuros I
Portugal, 11 de maio, ano do Senhor de 1470.
Estamos sob o governo do Bem Aventurado Vossa Majestade D. Manuel I, filho mais novo do infante Fernando, Duque de Viseu e filho do rei Duarte I, e sua esposa a infanta Beatriz de Portugal, neta do rei João I. Manuel ascendeu ao trono após a morte de seu primo o rei João II, que não tinha herdeiros legítimos e o nomeou como seu sucessor.
Portugal passa por uma fase muito promissora Prosseguiu as explorações portuguesas iniciadas pelos seus antecessores, o que levou à descoberta do caminho marítimo para a Índia e das ambicionadas "ilhas das especiarias", as Moluscas, determinantes para a expansão do império português.
Manuel I Foi o primeiro rei a assumir o título de Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia.
Foi neste cenário que inicia a nossa história, expedições a novas terras, meses de navegação, tempestades e ministérios que até hoje não haviam sido narrados.
Estamos prestes a iniciar uma nova expedição pois o Reino da França vinha assumindo um grande poder e influencia no mundo civilizado, a pirataria e comercio fazia com que eles progredissem a olhos vistos.
O “Bem Aventurado” necessitava angariar a todo custo fundos para acordos de paz e garantir a coroa sobre a sua cabeça...
Estávamos preparando nossa naus mais rápida e bem equipada para mais uma viagem ao Reino da Pérsia em busca de salinas e as tão cobiçadas especiarias, Capitão João de Vaz, liderava a tripulação de popa a proa muita agitação e frenesi, revisamos tudo para a tão sonhada partida, estamos prestes a zarpar.
Um grito soa no convés...
“-Ergam as velas e a ancora, soltem as amarras e acertem a rumo marujos”.
Gritos de entusiasmo palmas e lágrimas das mulheres seus filhos se misturavam no cais, era iniciada mais uma jornada mais uma viajem da qual muitos não sabiam se iriam voltar.
Portugal 12 de maio, ano do Senhor de 1470
A viagem segue tranquila o rumo foi novamente traçado devido a presença de enormes baleias, nadando em busca e alimentos nas mornas água de nossas encostas.
Nossa Portugal se torna nada mais que uma mancha no horizonte em tons de azul, rumamos ao mar aberto.
Os marinheiros seguem animados, hoje foi rezado um terço em homenagem a nosso padroeiro São José.
A noite seguiremos com uma comemoração alegre e cantaremos músicas ao som do bandolim para animar a tripulação.
Logo estaremos em mar aberto terras de ninguém, a atenção terá de ser dobrada.
O que me preocupava era a constante abordagem dos piratas e o enorme valor em ouro que levamos para comprar especiarias.
Nosso Bem Aventurado D. Manuel primeiro necessitava muito do sucesso desta expedição.
E muitos de nossos homens guardam no coração o amor de damas deixadas para trás.
O mar se faz calmo e o céu sem nuvens a velocidade do vento era boa e constante e as correntezas são mínimas o que ajudava-nos a manter o quadrante.
A noite seria provavelmente limpa e calma nos auxiliando a navegação.
Logo atracaremos próximo a uma pequena ilha de apoio para abastecer de água fresca e descansar a tripulação.
A moral dos rapazes se encontrava-se em alta.
Portugal 13 de maio, ano do Senhor de1470
Algo nos preocupava...
Seguia-nos um ponto que não conseguimos identificar, não sabiamos se era naus ou baleia?
Encontramos um clandestino na tripulação e devido sua estranha aparência alguns homens o culpavam por essa aparição em nossa luneta, os ventos se faziam-se revoltos e as correntes contrarias.
Os ânimos estão exaltados, o clandestino se encontra em cárcere mas o homens exigem que o joguemos ao mar.
Ao o revistarmos encontramos um livros com capa em metais nobres e aspecto velho atrás um fecho com uma forma de segredo, nunca vi coisa igual.
Treze horas e o imediato nos anuncia que o ponto se defina como uma naus de bandeira negra que avançava rapidamente, tentaríamos uma manobra evasiva.
A manobra não dá resultado a Naus se aproxima rapidamente escutamos já disparos para nossa rendição, o Capitão decide revidar em defesa.
Fomos inevitavelmente abordados e o Capitão morto...
Mas um desfecho inimaginável se tomaria...
A abordagem foi inevitável e a luta era algo terrível o sangue cobria ambas as naus e o ódio era visível entre as duas partes, franceses contra portugueses.
Um balaço incandescente é lançado e a naus começa a incendiar, nosso prisioneiro sem explicações se liberta sobe sem ser ferido por ninguém caminha até os aposentos do capitão, era como se somente eu o pudesse ver e se apodera novamente do livro, saindo de lá broqueia com o próprio livro um tiro destinado a mim e me olha profundamente nos olhos me gelando as profundezas da alma.
O estranho se dirige ao timão empunha o livro e profere palavras inteligíveis uma sombra sai do livro a mata a todos os franceses da forma mais horrenda e impiedosa.
A sombra negra entrava pelos olhos dos inimigos os reduzindo a nada mais que um corpo seco jogado ao convés...
O espanto era geral e aquela estranha figura clandestina se sustentava ali na junto ao timão e me dava a certeza que aquele barco não estava mas sendo conduzido por uma força santa e benigna e sim pelo próprio demônio.
Aquela figura me causava estranheza e repúdio, embora ao mesmo tempo gratidão por estar vivo e uma imensa curiosidade de saber como aquele ser havia conseguido tal poder.
O conflito acaba e todos estupefatos com os acontecimentos, algo perturbador nos tomava, era como se uma maldição houvesse salvo as nossas vidas mas tomado as nossas almas, eu ali sentado em barril vendo tudo, porém sem acreditar no que havia se passado; eram quarenta múmias em meu barco...
Não havia sinais de queima nem destruição, apenas corpos secos múmias em seus trajes franceses, apenas múmias, corpos secos jogados ao chão, múmias, múmias com suas faces de terror, múmias, múmias... Múmias.
Nos reunimos para sanar feridas e trocar as vestes de batalha; não foi grande nosso espanto, nem ao menos causou-nos surpresa ao ver que por baixo das vestes manchadas não havia ao menos um arranhão ou ferida por esbarrar em algo, até mesmo cicatrizes antigas nos a havia sido curadas, até nossos corpos tinham mais tonos.
E o estranho ali sentado nas escadas que levavam ao timão cantarolando estranha e entorpecente canção e os corpos um a um viram pó e eram levados ao vento, era estranho o sentimento de tê-lo ao mesmo tempo por herói e algoz.
Portugal 14 de maio, ano de1470
Após o insano e demoníaco dia que antecedeu está narrativa era como se um supor houvesse tomado a todos e aos poucos fosse apagando as nossas mentes e lembranças e o estranho clandestino ia se tornando parte da tripulação.
Ao cair da noite, ao me recolher escuto singelas batidas na porta de minha cabine era ele...
Pele branca como a cera envolta dos olhos tons esverdeados, parecia um morto vivo, ali parado com suas vestes rotas e simples me fitava, seus olhos eram penetrantes e as vezes me pareciam brasas a queimar...
Algo estranho havia com aqueles olhos, me espantava como os sentimentos mais humanos, medo, repulsa, ódio nada existisse, pediu para entrar e ter em particular comigo, fiz apenas sinal afirmativo.
-Senhor Pedro Gomes e Costa, como pode um capitão ocupar a cabine de um primeiro imediato?
-Capitão? (perguntei eu admirado).
-Sim Capitão com a Morte de João a tripulação lhe pede a frente desta embarcação!
-Quem é você? Como entrou nesta embarcação? Onde aprendeu tais bruxarias? E o principal o que queres de mim? (eu lançava perguntas assustado e desnorteado).
- Tenha calma Capitão responderei uma pergunta de cada vez e cada uma ao seu tempo. O que deve saber de imediato e que sou um mensageiro, apenas um servo de alguém muito maior e que deves tomar a cabine do capitão e o que lá encontrarás é algo que embora eu tenha tido de usar para nos salvar foi destinado a você, Manuel I o deseja e João tinha planos de possuir tal preciosidade.
-Mais...
-Sem mais, cale-se e apenas me siga.
Calado segui a estranha figura e fui envolto pela tripulação que me aclamava como capitão, fui levantado pelos homens em seus ombros e levado ao timão do convés onde lá me passaram o chapéu e o casaco de capitão, a primeira fase da transformação estava concretizada...
Terminada a cerimonia e festividade me dirigi aos aposentos de capitão e ali junto a uma garrafa e uma taça de vinho estava sentado a estranha figura e a frente dele uma ceia farta.
Chamou-me a mesa deu-me um pacote e mandou abri-lo.
Para meu espanto era o livro.
Isto é seu! Agora beba e coma comigo
Aquele vinho quando tragado me foi como um veneno, apagando-me toda a humanidade, era a minha primeira Ceia Negra, nada de humano e santo existia mais em mim.
E foi assim que consegui o livro...
CONTINUA...