Istumô ou num istumô?
Devia ter sido um sábado à tarde, que reunia a raridade de ter mamãe e papai em casa, pois ordinariamente eles se alternavam em turnos da fábrica, além do açougue aberto às moscas. E dalgum rádio ligado, naquele buc(h)ólico Brumado, ouvia-se, praticamente de janela a janela, a transmissão esportiva que retinia pelo casario afora. Henrique e Dida, como soía, e doía, impiedosos contra o meu Flu... Meu e do Zezé do Gercino, moço que não deixava de ser menino...
E, não sei se para me distrair, me coube a formidável incumbência de ir buscar fígado no açougue do Jirimia - que era assim, sim, que a gente dizia. Levava uma travessa branca esmaltada, já bem usadinha, e a solidez intrépida de meus seis pra sete anos para chegar ao balcão, exigir o quilo daquilo e mandar botar na conta.
E eram uns trezentos metros pra ir, mas pra voltar, outros quinhentos: e lhes explico: com a cobiçada carga, a descoberto, tinha que passar em frente à casa do Nélson Pereira, recuada no fundo do lote, cercado duma telinha fina...e duns cães que cumpria evitar, e nem fitar.
Mas inovei: os pés na arenosa poeira arrastei. Ah, pra quê: os istumei! E o ataque foi clínico, só que erraram de fígado, esnobando o que lhes estava à disposição, que logo foi ao chão. Susto, choro em convulsão, e um arranhão, e na camisa um rasgão, mas logo veio também o socorro.
Só me mantive firme para negar que istumara a cachorrada. E nem sei se fá-lo-ia numa delação premiada.