O Anfitrião da Necrópole
Ao sul do Éden, onde seus rios enfim cessam de jorrar, onde a vida encontra seu descanso e a morte seu comprazo. Nas terras baixas do fim do universo, construída quando o Tempo ainda jovem decidiu que as coisas deviam um dia terminar, lá está localizada a cidadela de rochas frias e negras esculpidas do corpo de bestas disformes por criaturas ainda mais absurdas.
Algum ser curioso vez ou outra caminha por entre as vielas úmidas da necrópole e logo desiste de sua exploração ao descobrir que não há muito que se ver além dos lagos infernais, das criptas e tumbas que enchem as planícies e das torres de ferro fundido que despontam até o céu eternamente nublado, cujos picos rasgam as nuvens esverdeadas de ar tóxico e corrosivo. Tais torres não têm função alguma a não ser servir de zombaria aos antigos deuses de nomes incompreensíveis que ali viviam.
Das fundações obscuras da cidadela, toda sorte de besouros e ratos faz dali sua morada, habitando com quem outrora fizeram deles seus inimigos, porém aqui todos são apenas vermes no esgoto do universo, aguardando a consumação de tudo o que existe até restar somente “o algo” novamente.
Diante dos grandiosos portões de pedra talhado a copias blasfemas dos umbrais do paraíso, está de pé um ser de feições frígidas, de corpo esguio e traços abomináveis. Em seu silencio sepulcral ele observa as estrelas, paciente aguarda o inicio de seu trabalho, incansável ele ensaia em sussurros mórbidos sua recepção ao que é plausível e ao inefável.