Invólucros de vida

7/9/2016

Era noite de sexta-feira, e aqueles adolescentes resolveram que iam para a primeira balada deles. Um colega que era mais velho conseguiu uma maneira de eles entrarem em um clube sem que soubessem que eles tinham apenas 15 anos. Obviamente eles se preparariam para parecerem mais velhos. Maquiagem, cabelos, roupa, tudo preparado na mochila e avisaram as mães que cada um ia dormir na casa de um ou outro. Todos tinham a desculpa certa. Aline, Andreza, Laura, José e Marcio se prepararam na casa de Daniel que era o mais velho, e seus pais não estavam em casa para encher o saco.

Aquela era uma noite de fantasias de terror, os garotos chegaram ao clube fantasiados de foram simples, para não chamar muita atenção. Lá viram um cenário hellraiser de arrepiar. Como se passavam por adultos, esses adolescentes de deixaram beber e embriagaram-se, inebriaram-se, estiveram a beira de um coma alcóolico. Porém, aquilo era só parte da diversão. Daniel estava o tempo todo com eles e misturava-os com outros no meio daquela agitação. Havia muita gente, muita gente meeeeesssssmo.

Os garotos dançaram muito, haviam odores no ar que causavam uma certa sensação ode não estar, eles podiam voar e a fumaça que ambientava aquele Hallonween era simplesmente realística, até mesmo era úmida e espessa como uma neblina, e fria, muito fria, isso fazia com que eles se agitassem mais, quase à pura exaustão.

Por volta das três horas da manhã Daniel saiu dizendo que iria reparar a entrada das musas que deixavam a balada badalada, segundo ele. Nesse momento as conversas convergiram para uma intimidade maior e o que o grupo de amigos que acompanhamos descobriu é que muitos que ali estavam não eram maiores, não! Todos eram adolescentes de quinze anos. Isso parecia uma coincidência enorme, uma sincronia que eles não poderiam explicar, poucos eram mais velhos, e eles estavam fora das vistas, mas os adolescentes não perceberam.

AS músicas passaram a ficar mais pesadas e mais dark, eles não sentiam medo, não sentiam nada. Era uma orgia de sentidos, começaram a servir uma bebida especial da casa, que tinha um aroma de ferro e sabor adocicado, era bastante espesso e bem preto, como um xarope.

Quando as mulheres que fariam o show que transformaria a vida de todos, segundo Daniel, chegaram, estavam vestidas de forma elegante, com roupa preta em corte de alto estilo, saltos altos e maquiagem perversa, causaram encantamento e êxtase em todos. A apresentação era de mágica, acredita? Parecia estúpido, se você não estivesse entorpecido pelos odores, bebidas e encantos delas.

Iniciou-se a tocar a música clássica de Bauhaus “Undead”, e arrepios de prazer subiam em todos os corpos docilizados, invólucros de vida, naquele clube.

Elas começaram com pequenos truques engraçados nos quais as finalizações eram viscerais, com pombas que perdiam as cabeças em pleno voo e uma chuva de penas e sangue espirrava em todos. Depois coelhos disparavam na multidão e explodiam espalhando sangue e vísceras. Até que os candidatos a serem cortados ao meio começaram a subir, uns entraram em uma caixa, outros foram colocados ao lado para que pudessem demonstrar como seria feito o truque. A Mulher loura pegou a mão da mocinha que se deixava efusivamente postar em uma cadeira, ela estava de saia e a mulher de cabelos negros levantou a roupa da menina até mostrar a parte interna de sua coxa para que odos nós pudéssemos ver. A mulher loura pegou uma adaga com cabo em formato de serpente e disse:

- Aqui fica a veia aorta, vocês já viram como o sangue jorra aqui?

E cortou profundamente a carne da garota. A menina ria muito, e todos nós gargalhamos enlouquecidamente, Daniel apareceu neste momento e coletou parte do sangue que ela jorrava para jogar no público. Depois ele colocou a sua cara entre as pernas da garota para lamber o sangue.

Foi assim que resolveram cortar o garoto que estava na caixa, depois de cortar uns dedos, um braço, abrir um garganta e tal. Essa era a cena final, o garoto jogado do palco em duas partes. Estávamos satisfeitos com o truque e queríamos mais, então fomos organizados em fila e as mulheres colocadas em altos tronos, onde recebia cada um, mordia seu pescoço e sugava-lhes a vida, um a um, como cordeiros enfeitiçados, que eram recipientes de vida e apenas precisavam ser esvaziados!

Sinopse do livro Obra perturbadora

“Sempre do ponto de vista de crianças, suas protagonistas, os contos da Obra Perturbadora pretendem mexer com seu leitor, trazendo experiências de leitura com finais abertos e incongruências propositais, que podem até parecer em primeiro momento uma falha da autora, porém, o resultado no leitor é, em geral, atingido e previsto durante a produção deles.

Prepare-se para sentir estranheza, insegurança, suspense, violência, e principalmente a expectativa que traz a melhor sensação do suspense. A autora busca em alguns contos contextualizar o seu leitor para depois apresentar um desfecho incongruente ou violento, ou de uma forma muito distinta não contextualiza o leitor e dá toda a situação ocorrida e o que se espera é que a experiência do leitor trabalhe com as questões que surgem, de forma a trazer a tona a própria personalidade do leitor, seja instigando-o a buscar respostas que não terá, a se revoltar com a falta de informação desejada ou a lidar com o prazer da sensação atingida na leitura. Que tipo de leitor é você? Um detetive, que quanto mais instigado mais busca saber? Um frustrado que para a leitura por não aceitar o jogo da autora? Um imaginativo que complementa as histórias com as possibilidades e se delicia seja com o contexto que lhe é cobrado ou com o desfecho que é incongruente?

Descubra-se lendo a Obra Perturbadora, contos curtos e rápido de terror e suspense que trazem desde os mais clássicos terrores psicológicos até os mais modernos, influenciados pelo Edgar Alan Poe, Stephen King, Lovercraft, entre outro e o cinema do século XX e XXI.”

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