obsessão mortal
Foi na festa de um amigo, que a conheci.
Cabelos dourados, olhos azuis, lábios de mel, cintura fina... uma verdadeira fada! Capaz de virar a cabeça de qualquer homem.
A sua expressão em ver-me mostrara o quanto gostara de mim. Fiquei surpreso, logo um anjo daquele vir a se apaixonar por mim, logo por mim, um ser possuidor de inúmeros defeitos físicos e até, mentais.
- é um prazer conhece-lo, Eduardo, sou Esmeralda... – apresentou-se, com um sorriso tímido.
- Allan. Me chamo Allan... Esmeralda, tal como o nome, és uma pedra preciosa, que brilha feito o sol em mim.
Nem pensara no que falara, mas todos ao redor se demonstraram tão surpresos quanto eu. Nunca que um sujeito tão arrogante e imoral como eu, fora visto ser tão educado.
Peguei em sua mão e a convidei para dançar. Esmeralda me fitava e mais parecia um anjo em meus braços.
Senti seu cheiro, tinha o cheiro das rosas que nunca ousei cheirar. Tinha o encanto de uma fada, uma voz tão suave...
É, estava ficando apaixonado.
Vagarosamente levei minha boca ao seu rosto perfeito e, me atrevi a beijá-la. Um medo de que ela saísse correndo dali me dominou monstruosamente. Logo fui me acalmando ao sentir aqueles doces lábios corresponderem aos beijos meus.
Mas o sonho durou pouco, logo tive que ir embora e deixar minha deusa naquela casa com a multidão. Entrei no carro sorridente, com cara de bobo, não parava de pensar...
Acordei tarde, nem dava mais tempo de ir à faculdade. Meus pensamentos foram direto nela, parecia magia. Levantei-me e fui à procura de um amigo, num bar próximo minha casa.
Chegando lá, o bar tava movimentado, olhei pra todos e entrei.
- Allan, chega aí, beleza? – cumprimentou Júlio
- melhor impossível. Conheci uma mulher ontem... não! Na verdade conheci um anjo.
- ih... esse daí caiu na rede. – zombou.
E no meio daquele papo vai, papo vem, eu vejo ela, desfilando pela calçada como uma rainha à passear em seu castelo. Mas um homem a acompanhava, com o braço apoiado em seu ombro.
Uma raiva me subiu a cabeça.
Fitei meu olhar nela, sentindo-me traído e humilhado, desprezado... vi meu mundo desmoronar.
- quem é aquele sujeito com a Esmeralda? – perguntei.
Julio deu de ombros.
Ninguém a conhecia, ninguém sabia dizer.
Ela se aproximou de mim com um sorriso ingênuo e saudou:
- olá, Allan. Tudo bem?
- tudo... quem é ele?
- ah, desculpa, esse é meu irmão Gildo.
Quando ouvi isso, senti um imenso alívio no peito. Apenas irmão, mas aquela ligação me incomodava ainda.
Gildo me encarava com o olhar atravessado. Não gostou de mim, percebi na hora.
Esmeralda não se demorou muito, logo partiu.
Fiquei com raiva, aquele sujeito grudado na minha doce Esmeralda...
A noite caiu. Já não agüentava mais de saudade. Resolvi ligar pra ela, pra combinar qualquer coisa.
- alô, Esmeralda, meu amor?
- não! Aqui é Gildo, irmão dela. E tu é aquele pilantra que encontrei de manhã, né? Presta atenção rapaz, não quero ti ver perto da minha irmã outra vez, eu te mato, entendeu?
- vá se danar, seu vagabundo! Vou ficar com ela pra sempre.
Ele desligou na minha cara. Ah, que vontade que senti de ir na casa dele e... mas me controlei, achei melhor não fazer nenhuma besteira, não por enquanto.
Resolvi passar um e-mail pra Esmeralda, falando de todo meu amor, todo meu desejo, me corroendo de ódio do irmão dela, aquele maldito.
Pouco tempo depois, ela me ligou. Terminou tudo... disse que o irmão dela era muito importante e se ele não aceitasse, era melhor esquecer.
Nesse momento, não hesitei em pegar um facão na cozinha e ir ao encontro dele, do Gildo. Liguei o carro e sai feito um louco pela rua, dominado pela raiva.
Cheguei na sua casa, nenhuma luz acesa, tudo fechado. Mesmo assim dei meu jeito, pulei o muro e entrei na casa, todo o tempo segurando firme o facão. Abri a porta e entrei, logo ouvi vozes. Fui me aproximando lentamente da sala e o vi, deitado na rede. Levantei o facão e o esfaquiei. Seu sangue jorrava, melando as paredes da casa. Furei sua barriga 3 vezes, depois cravei o facão em sua cara, deformando-o todo. Parei para vê-lo, todo ensangüentado, deitado ali...
Fui embora.
No dia seguinte, Esmeralda me ligou nervosa, chorando muito, me perguntando se tinha algo a ver com a morte do irmão dela.
Mesmo se tivesse, não diria, pensei. Fui até o velório com minha cara de cínico.
- meu amor, eu lamento muito. – disse eu, abraçando-a.
Ela não parava de chorar em meus braços, deu até pena.
Reparei que o caixão estava fechado, disseram que o corpo estava desfigurado.
Não conseguia parar de rir por dentro.
Os parentes foram chegando, todos me fitavam como se tivesse algo a ver com a morte do defunto. Não, imagina, dizia eu. Podia ver estes sussurrando no pé do ouvido de Esmeralda, ela, porém, me abraçava muito forte, sem desconfiar do monstro que eu era.
Mas era melhor vê-la sofrer que vê-la longe de mim.
- você, você quem matou meu filho, seu maldito! – gritava uma mulher gorda me empurrando e soluçando. – fora daqui!
- que isso minha senhora, eu não faria isso.
Mas Esmeralda pediu que eu me retirasse, em público.
Todos ficaram me olhando.
Me senti humilhado. Quem aquela mulher achava que era pra falar daquele jeito comigo? Revoltei-me.
A noite chegou, Esmeralda não ligara. Fiquei preocupado. Mas logo me dei conta de que toda sua família estava conversando com ela. envenenando a cabeça dela contra mim.
Entrei no carro com um facão disposto a matar, qualquer um que estivesse atrapalhando meu namoro com ela. Fui até o hospital, onde ocorria o velório.
Ao chegar, escondi o facão, me aproximei do caixão, mas vi a mãe dela lá. Abraçada ao corpo do filho. Ate que me viu e choramingou:
- por que fizeste isso com meu filho? Ele tinha uma vida pela frente...
Não respondi nada. Fui chegando lentamente perto dela, e puxei o facão. Cravei no pescoço dela, nem deu tempo dela dar o último suspiro. Caiu morta em cima do caixão.
Me virei e lá estava Esmeralda com um copo d’agua na mão, e um olhar de pânico no rosto, ao ver-me com uma faca suja de sangue e sua mãe morta.
Saiu correndo, eu fui atrás gritando:
- Esmeralda, meu amor, volte, eu te amo!
- você é um loco! Seu doente, saia de perto de mim. Assassinou minha família...
Mas Esmeralda ficou tão chocada, tão decepcionada, que parou de correr e curvou-se.
- você roubou de mim as coisas mais preciosas da minha vida. O amor que sentia por você, minha mãe e meu irmão, minha família. Ande, se quiser me matar eu estou aqui.
Me joguei em seus braços chorando muito, pedindo que me perdoasse, então senti sua mão em minha face.
- maldita, ninguém bate em minha cara!
Levantei a faca em sua barriga, puxei-a, cravei em seus seios. E a joguei ao chão.
Fiquei olhando aquela que foi minha vida, aquele anjo sangrando, e a chuva espalhando seu sangue pela pelo chão, observando a mim, se afastando dela, como havia pedido.
Autora: Aline Calvet