O Ritual

Vitor nunca foi um rapaz considerado dentro das normalidades típicas de sua idade. Enquanto os outros rapazes pensavam nas garotas, ele só pensava em magia, obscuridade. Sempre destacava-se em meio à multidão com as suas roupas pretas chamativas, seus vários piercings espalhados pelo seu rosto ainda recém moldado pela puberdade, rímel, lápis e batom preto exagerado e aquele olhar profundo que intrigava sua dedicada mãe.

Ela sempre dizia:

- Meu filho, tire esse esmalte preto da unha! Lave esse rosto! vista uma roupa menos obscura! Você é um menino tão lindo...

E ele sempre respondia num tom já exaltado:

- Não sou mais um menino! Até quando vai continuar me tratando feito um moleque?

- Enquanto estiver morando sob o meu teto, lembre-se: Minha casa, minhas regras! Ademais, você só tem quinze ainda... Ainda faltam três anos para você ser dono do seu próprio nariz.

Como tinha o pavio curto, saía irritado, pisando duro, xingando a mãe de tudo quanto é palavrão, mas ela não fazia nada, apenas ouvia tudo calada... Já estava acostumada com o jeito bruto de seu filho único.

Um dia, sua mãe saiu para uma viagem à trabalho que duraria todo o final de semana, mas Vitor não quis acompanhá-la, confiante em si mesmo, decidiu passar dois dias e uma noite só, isolado em seu apartamento.

No sábado durante o dia, aparentemente correu tudo bem, nada e nem ninguém o incomodou, como ele havia planejado.

Por volta das sete horas da noite, colocou uma sequência de filmes de terror que tratava sobre forças ocultas para assistir, após assistir os três filmes daquela saga maldita, por volta de meia noite e meia, um desejo se apossou de sua mente e logo colocou em prática: pesquisou na internet práticas de rituais ocultos para poder alcançar poder e imortalidade.

Pobre menino ingênuo, mal sabia ele com o que estava lidando!

Afastou o sofá da sala, fez um pentagrama no meio do ambiente, pôs uma vela em cada ponta daquela imagem, fez um círculo em volta de si e começou a pronunciar um dialeto desconhecido.

No meio daquela cena bizarra, a sombra de um homem surgiu do interior daquele desenho e queria, por força, carregá-lo por um portal escuro onde se ouvia gritos desesperadores. Com medo, Vitor chutou todas aquelas velas e caiu em desespero, começou a chorar, implorar de joelhos que não queria morrer... O medo foi a tal ponto de fazê-lo urinar nas calças. Uma das velas encostou no sofá e o fogo alastrou-se rapidamente e o valente, medroso garoto, viu-se no meio de um incêndio e não tinha como escapar.

Aos berros, gritos e pontapés, começou a se debater de um lado para o outro... Esforços inúteis...

Quando a chama atingiu a barra de sua calça e foi se espalhando por toda a extensão de suas pernas e braços, caiu no chão na tentativa daquela chama apagar.

E quando estava quase desistindo, ao além se entregando... Os olhos quase se fechando...

- Filho! Acorda! O que aconteceu? Por que estava gritando tanto? E... Por que está dormindo nesse chão gelado? Anda, levante! Se agasalhe. Não quero que pegue um resfriado...

No restante daquela noite, a mãe, que até então não tinha valor algum para o filho, se viu obrigada a dar um calmante a ele para que voltasse a dormir já que encontrava-se em estado de choque, puxar uma poltrona e um cobertor e vigiá-lo por toda aquela longa e fria madrugada.