Terror Ritual Massacre

Os móveis colocados silenciosamente nos cantos da sala mostravam muito pouco do que ali iria acontecer. Um pouco de luz para localizar os objetos e outros materiais. Riscou símbolos secretos no chão. Em posições geométricas precisas, colocou as velas e no centro o pequeno animal a ser sacrificado.

Os livros e outros materiais escolares ainda lembravam que na manhã seguinte teria aula, isto se saísse vivo desta, como insistia sua intuição em lhe dizer em desafio a sua coragem. Mas a ignorou e continuou seus procedimentos a revelia de seus medos e forçando uma coragem que não tinha habitualmente.

Ele poderia ser mais inteligente, mais popular e mais bonito da escola - dizia constantemente como que para ignorar os pedidos de sua insistente intuição e fraca coragem. Mas o desejo e a vontade foram vencendo qualquer sinal de prudência que viesse a prejudicar o ritual.

Havia aberto então um livro já desgastado pelo tempo e perfurado de caruncho. Cheiro de vela e livro velho, se preocupou se não acordaria seus pais. Prestou atenção alguns segundos e se certificou que o silêncio de cemitério pelos cômodos da casa não havia sido alterado.

Eram quase três da manhã, começou a invocar um a um cada demônio e sua referida legião. Procedeu à execução da vítima animal, o derramamento de sangue, a coleta e o oferecimento consagrado.

A coleta do sangue era precedida do oferecimento do animal a entidades correspondentes. Tal momento exigia muita atenção e devoção, pois o oferecimento exigia humildade e submissão.

Em línguas estranhíssimas, parecidas com palavras de maldição em idiomas antigos e já esquecidos pela humanidade, repetia aqueles sons, aquelas palavras, até que sentisse o momento certo. Ingeriu o sangue consagrado, ficando em silêncio enquanto sentia o sangue ainda quente molhar sua boca e percorrer a garganta.

Depois de uns 20 minutos em posição ritualística devotada ao demônio que desejava invocar, começou a perder a paciência. Começou a pensar que tinha sido perda de tempo e palhaçada aprendida em internet.

Tentou se levantar, mas as pernas pesavam como se atoladas em lama espessa. Tentou mover os braços, mas pareciam congelados e imóveis feito pedra. Tentou falar alguma coisa, mas a boca parecia formigar, endurecida e sem movimento. Tentou ver se alguma coisa estava presente no quarto, perdeu sua visão, tudo parecia sem luz.

Restou ouvir, por mais medo que sentisse, precisava saber o que estava acontecendo. A ansiedade e o pavor não dominam a curiosidade, são antes alimentadas por ela. Não ouvia nada além do som do próprio coração.

Batidas rápidas que se alternavam com outras mais lentas. Até que não ouvisse nem isto mais. Desespero e arrependimento sentia até que apagou pouco a pouco seu raciocínio, sua memória, noção de tempo.

Levantou cedo da cama. Não sabia como havia ido se deitar na cama. Chamou por sua mãe e depois por sua irmã. Estavam mortas barbaramente, enquanto o gato percorria a casa sem nenhum ferimento.

O gato que havia sacrificado estava diante dele apavorado. Ele via seu corpo humano com outra alma. Viu sem reação todo o massacre que aquele corpo tinha feito. Aquilo era ele, mas a alma ali possuída não.

Então aquele homem veio em sua direção para matá-lo. Procurou então atraí-lo para escadaria, onde lhe surpreendendo com um ataque no rosto, fez desabar aquele corpo pela escadaria. Tombou e ficou desacordado lá embaixo.

Até que este corpo abrisse os olhos e se visse novamente em seu quarto, ainda às 3 da manhã, no chão adormecido e com o gato ainda vivo e amarrado.

Estava em seu corpo, soltou o gato, abrindo-lhe a janela para que voltasse para seu possível dono. Não hesitou em interromper os procedimentos. Recolher os materiais, apagar as velas e tentar dormir se possível.

Levantou cedo e pensou naquela madrugada louca. Sentia que poderia ter feito uma besteira caso prosseguisse no seu ritual, ou mesmo se prosseguisse nada teria acontecido. Chamou sua mãe e sua irmã para falar do perturbador sonho.

Medo, desejo e culpa são ingredientes que a imaginação fértil não demora a combinar para produzir desde sonhos paradisíacos a aterradores pesadelos. Dê liberdade a imaginação e saberá que esta como uma besta selvagem serve a quem quer que melhor a alimenta e incentiva.

Não teve respostas nem de sua irmã nem de sua mãe, mas viu os cadáveres vítimas de um brutal massacre.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 19/08/2016
Reeditado em 22/08/2016
Código do texto: T5732871
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.