A dor do saber

8/8/2016

Toda noite Cassandra lia antes de dormir, aprendeu isso com sua mãe, mas ela sempre precisava dormir mais cedo, visto que a mãe a obrigava. Dizia sua mãe que era uma coisa que não podia controlar: deixar de ter controle sobre ela. Cassandra não entendia bem o que aquilo significava, sua mãe usava esse argumento só para fechar a conversa, pois, em geral, dali não lucraria nada além de mais tempo acordada e irritada.

Ela era muito jovem para quem tinha tantos conhecimentos, mas como se sabe, a restrição de experiência limita esses conhecimentos grandemente, oportunizando no futuro um estalar de apropriação de uma nova forma para cada conhecimento quando uma nova experiência surge. Por isso, pensava Cassandra e sua mãe, quanto mais jovem se adquire conhecimentos, mais esses conhecimentos crescem com nosso próprio conhecimento.

Bem, que seja, outra coisa que fazia Cassandra se garantir no patamar de uma garota inteligente era a sua clareza de pensamentos. Como explicar isso? Digamos que ela sabia de muitas coisas, ou melhor: ELA SABIA DAS COISAS. As pessoas achavam aquilo bizarro, mas ela simplesmente sabia, mas já havia passado tanta desconfiança dos outros que passou a não alardear os acontecimentos, de forma a tentar manter a melhor postura diante deles, ainda mais os difíceis como a morte de Rex, se cãozinho que foi atropelado.

O problema era que não importava nada saber das coisas, pois nada faria com que elas mudassem... além de que, percebera a muito tempo, ela não sabia de tudo junto e conectado. Ela podia saber como Rex morreria antes de acontecer, mas nunca conseguiu saber a data. Conviver com um saber além de conhecimento era como aprender a lidar com um estado comum, acostumar-se.

Cassandra tinha muitos sentimentos, mas a sua mente era mito clara e não se deixava vacilar só por lhe dizerem que ela estava mentindo ou exagerando. As pessoas tinham prática em encontrar uma desculpa para colocar no lugar de respostas, e isso ela percebeu quando já sabia de tudo. Devido a tanta clareza, Cassandra parou de procurar desculpas para colocar no lugar de respostas e isso a fez muito estranha. Bem, se dependemos de pessoas para dar significado aos conceitos do ponto de visa do conhecimento, e elas é quem deveriam achar o que é estranho, ou fazer um padrão para que o diferente fosse o equivalente ao estranho, bem, Cassandra sabia que as pessoas a achavam estranha. Sua mãe também a achava muito estranha, sua mãe também é mito estranha... então para que pudesse proteger Cassandra a mãe de Cassandra a controlava ao máximo, porém, buscava dar-lhe a maior liberdade possível para que ela fosse ela mesma e sempre a melhor versão de Cassandra, a cada dia. Não que isso justifique o excesso de controle de qualquer pessoa.

Um causo interessante sobre Cassandra foi um acidente que ela sofreu, um acidente de carro. Ela já sabia das coisas, e esse acidente foi extremamente longo do ponto de vista de desenrolamento em acidente. Não foi uma batida rápida e fugaz, foi um capotamento lento, duro como o tempo batendo no relógio, repetido e Bum-Plac-Prum-Plá. Odeio usar onomatopeias, mas como explicar algo que é sensorial? Sinta.

O carro bateu em outro carro, passou por cima do carro que não era deles, dentro ela estava de cinto, assim como a mãe, e seu corpo foi projetado para frente e para baixo, contra aquele acessório que as salvou. A dor em seu corpo, na extensão daquele cinto era como o capotamento nos carros, quebrou-lhe algumas costelas. Ela não piscou em momento algum, ao menos se lembra de ver todas as capotadas uma BUM, duas PLAC, três PRUM e quatro PLÁ. Quando o automóvel estabilizou viu que a sua mãe ficava sem ar, parando de respirar e o coração desistia. Ela sabia que não era aquele momento. Sua mãe não morreria. Não ficou desesperada. Contou os segundos e foram retiradas do acidente e a mãe ressuscitada.

Naquela noite, a do começo desse conto, Cassandra estava lendo “O poço e o pêndulo” quando ouviu o barulho como o apocalipse, interrompendo-a bem na parte em que o pêndulo desce resgando o homem. Não ficou desesperada, pois sabia que havia uma turbina de avião sobre a cama da mãe, que estava lendo também.

Laura Lucy Dias
Enviado por Laura Lucy Dias em 08/08/2016
Reeditado em 14/08/2016
Código do texto: T5722964
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