Aneurisma

4/8/2016

Acordar cedo deixava Claudia chateada, mas normalmente seus pais faziam o trabalho duro de levantá-la. Naquele dia acordou como se tivesse sido deixada. Acordou bem-disposta e o sol iluminando de forma estranha aquela manhã. Poderia dizer aos pais que acordou sozinha e deixá-los felizes, mas... o sol não aparecia naquela época do ano quando tinha que acordar para ir à escola.

Claudia sentia uma dor de cabeça, era algo sutil, como uma lembrança. Dirigiu-se ao quarto dos pais e viu que já era dez horas da manhã. Não era fim de semana, ela tinha certeza, porém, conferiu o calendário que havia na cozinha. Estava certa, era uma quarta-feira, dia comum. Seus pais não sairiam para trabalhar e a deixariam sozinha. Ela então tentou ligar para o celular da mãe pelo telefone fixo, mas ele não tinha linha, e seu celular tinha desaparecido.

A menina se sentiu estranha, a dor de cabeça... tomou um dipirona para ver se melhorava, poderia ser fome, então preparou seu café da manhã. Fez tudo o que sua mãe prepararia, pois imagina se ela volta e percebe que ela comeu algo que não deveria. “O café da manhã é sagrado”, dizia a mãe, “a refeição que sustenta o nosso corpo o dia todo”.

Onde será que haviam se metido os seus pais? Claudia pensava e sabia que se encrencaria com a falta na escola, mas eles não poderiam lhe falar nada, afinal, a deixaram sozinha. Achava que...

Enquanto pensava à mesa, comendo com calma, o seu copo levitou rapidamente da mesa e foi parar na pia, despejado. Ela ficou paralisada. Ela ficou perplexa. Ela se borrou de medo. Quando percebeu que estava paralisada ela se esforçou e saiu correndo para seu quarto, se enfiou sob as cobertas e ficou escutando. Não era possível, não era mesmo! Era coisa da sua cabeça, claro... a cabeça que doía.

Claudia ficou na sua cama por um bom tempo, e como havia se concentrado ouviu vozes, vozes da vovó, do papai e a mamãe chorando... será que ela estava dormindo e era um sonho? Ela levantou e foi correndo para a sala, mas não havia ninguém. Ela saiu da casa, olhou pelo portão e estava tudo vazio. TUDO VAZIO. Nem mesmo os cachorros do vizinho no portão. Claudia saiu e andou pela rua, não poderia ser mesmo a realidade. Ela estava tendo um pesadelo horrível, era isso, era só isso.

Assim, Claudia começou a achar divertido e tentou flutuar, voar, saltar alto, até que quando ela menos esperava estava voando. Era muito legal. Ela voou por cima das casas e voltou para a casa dela, estava mais feliz em saber que era tudo um sonho, ela voltou a cozinha e então começou a pegar os doces que ficavam bem no alto do armário, quando ela colocou o pote na mesa, cheio de paçocas, e retirou uma para saborear ouviu vários gritos, de umas quatro pessoas, e percebeu que havia muitas xícaras na mesa, e o pote de paçocas foi projetado ao chão, ela pode vislumbrar os rostos dos avos e pais, mas foi só.

A mãe chegou a desmaiar, estava realmente muito abalada com a morte da única filha, o marido saiu pela porta da frente, pois para ele aquilo tudo era estranho e irracional, ele nunca acreditaria naquela coisa que viu, ele se ajoelhou no quintal e começou a chorar. Claudia estava novamente sozinha e sentia que havia muita coisa errada, mas de fato não entendia como em seu sonho a cabeça poderia estar doendo e ela não conseguir fazer a dor parar.

Sinopse do livro Obra perturbadora

“Sempre do ponto de vista de crianças, suas protagonistas, os contos da Obra Perturbadora pretendem mexer com seu leitor, trazendo experiências de leitura com finais abertos e incongruências propositais, que podem até parecer em primeiro momento uma falha da autora, porém, o resultado no leitor é, em geral, atingido e previsto durante a produção deles.

Prepare-se para sentir estranheza, insegurança, suspense, violência, e principalmente a expectativa que traz a melhor sensação do suspense. A autora busca em alguns contos contextualizar o seu leitor para depois apresentar um desfecho incongruente ou violento, ou de uma forma muito distinta não contextualiza o leitor e dá toda a situação ocorrida e o que se espera é que a experiência do leitor trabalhe com as questões que surgem, de forma a trazer a tona a própria personalidade do leitor, seja instigando-o a buscar respostas que não terá, a se revoltar com a falta de informação desejada ou a lidar com o prazer da sensação atingida na leitura. Que tipo de leitor é você? Um detetive, que quanto mais instigado mais busca saber? Um frustrado que para a leitura por não aceitar o jogo da autora? Um imaginativo que complementa as histórias com as possibilidades e se delicia seja com o contexto que lhe é cobrado ou com o desfecho que é incongruente?

Descubra-se lendo a Obra Perturbadora, contos curtos e rápido de terror e suspense que trazem desde os mais clássicos terrores psicológicos até os mais modernos, influenciados pelo Edgar Alan Poe, Stephen King, Lovercraft, entre outro e o cinema do século XX e XXI.”

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Laura Lucy Dias
Enviado por Laura Lucy Dias em 04/08/2016
Reeditado em 24/01/2017
Código do texto: T5719190
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