noite maldita
- boa noite, o senhor poderia mandar um táxi aqui pro Turu? Av. são luis rei de frança, casa 19.
- o táxi está a caminho. Boa noite
- obrigada. – o rapaz de preto desligou o telefone, deixou a sala de sua casa e dirigiu-se até a porta para esperar o táxi.
Minutos depois, o carro chega. O motorista se espantou ao ver o rapaz todo vestido de preto, com os cabelos jogados nos olhos. Abriu a porta pro sujeito e disse:
- boa noite. Vai pra onde?
- belíssima noite. Estou indo pro cemitério parque da saudade, por favor.
- cemitério?
- sim, não conhece? Fica no Vinhais.
o motorista acelerou o carro e olhou pra frente.
- conheço sim. Só achei esquisito alguém ir pro cemitério às 2h da manhã – o taxista tentou puxar conversa com o rapaz, na esperança de descobrir o que este iria fazer no cemitério. Porém, só obteve o silencio.
Olhou no retrovisor o moço de preto desviar o olhar para a janela, observando os carros passarem, sem dá a mínima importância pro que ele dizia.
- perdoe-me, se eu for inoportuno, mas o senhor é tão pálido e, vestido nestes trajes pretos, todo cheio de cruzes, até parece um vampiro. He he – o motorista não conseguiu segurar a observação.
- algo contra?
- não, imagina.
O taxista ficou sem graça e parou de incomodar o rapaz. Continuou dirigindo até sair do transito e entrar numa rua obscura e deserta.
Começou a soar. Passou a mão na testa e puxou a marcha.
- bom, chegamos.
- quanto, por favor?
- dez reais.
- aqui – o sujeito estendeu a mão para dar o dinheiro ao taxista e saiu do carro.
Curioso, o motorista franziu a testa tentando ver o moço sumir por entre as neblinas.
- é, ele sumiu. He he, que lunático, um vampiro educado... é cada um que me aparece – o taxista riu, e deu a ré no carro. Seguiu a rua cheia de neblinas, que dificultavam sua visão.
Ele não parava de soar. Tentou levar tudo na brincadeira, mas por dentro estava apavorado com o rapaz extremamente pálido que havia entrado no táxi. Seus pensamentos foram todos para ele, não conseguia mais não pensar. O medo se aproximava e junto uma curiosidade mórbida em saber o que aquele jovem fazia no cemitério.
Freou o carro. Deu a ré outra vez e voltou para o cemitério, mesmo com algo em sua mente dizendo para ele ir embora. O que estou fazendo, pensou. Estacionou o carro e desceu. Observou de longe o cemitério, e criou coragem para tentar entrar nele. Chegou na portaria, deu de cara com o porteiro deitado no colo daquele rapaz...
O moço de preto estava com a boca melada de sangue, e o pescoço do porteiro com dois furinhos. Eram as marcas de dente dele...
O motorista foi congelado pelo medo. Não conseguia tirar seus olhos do olhar enfezado do rapaz de preto, que o fitava de cabeça baixa. O moço passou a língua aos arredores da boca, lambendo o sangue. Jogou o corpo do porteiro no chão e se levantou.
- não, por favor, não me faça mal. Eu juro que não conto pra ninguém... – implorava o taxista se ajoelhando aos pés do moço.
O rapaz sorriu.
- não fique com medo, meu adorável humano. A dor que em ti causarei não se compara à vida eterna que te esperará.
O motorista não pensou duas vezes antes de correr. Se afastou do vampiro desesperado, até esbarrar no guarda noturno.
- senhor, senhor, precisa me ajudar! – gritou o taxista – tem um vampiro ali, ele quer me pegar...
- um vampiro? – debochou o guarda.
- sim, e ele assassinou o porteiro do cemitério...
- não seria daquele moço que o senhor está falando? – perguntou o guarda, apontando pro rapaz de preto todo sujo de sangue.
- sim, sim. É ele quem ta vindo atrás de mim. Precisa acreditar.
- eu nunca disse que não acreditava.
O guarda segurou firme o taxista pelos ombros, deu um risinho e abriu a boca, aproximando seus caninos afiados e brilhantes no pescoço do taxista.
Autora: Aline Calvet