O Regente das ruas
A guerra das ruas. Não era qualquer corrida e sim a corrida, pessoas de vários estados viajavam uma vez no ano para participar desse evento. Alex Crianom correria pela primeira vez desde que retornara de sua mais nova experiência e não temeria nenhum dos pilotos, conhecia o trajeto como poucos; sua “nova vida” o ajudava a obter vantagem sobre as pessoas e disso ele gostava muito, ainda estava se adaptando a todas as facetas de seus pensamentos, mas uma coisa sabia. Venceria e esse seria o início de sua fama no circuito secreto das corridas.
Logo que o céu escureceu os carros apareceram vindos de todas as partes convergindo para o bairro escolhido nessa ocasião, o local sempre mudava e esse era um dos pontos de dificuldade do circuito.
“Sinto-me tão bem que poderia voar”_ Pensou Alex parando o carro junto aos demais participantes.
Ele não sairia do veículo para não assustar os que estavam por perto, seu “dono” estava lá fora cuidando dos detalhes, iam colocar muito dinheiro na corrida, antes ele não era um piloto assim tão bom, até que conheceu Tymoti; empresário inglês dono de uma das mais badaladas casas noturnas da cidade, um homem rígido e de princípios, embora possuísse vícios estranhos.
Alex não possuía um carro poderoso o suficiente para competir, mas sua audácia e arrogância o chamaram a atenção.
Dentro do carro ele pensava se tinha realmente valido a pena fazer tal trato em troca de poder e fama.
“O poder que posso dar será seu durante séculos, mas haverá uma cobrança que os homens comuns não podem pagar e nem suportar”_ Foram as palavras de Tymoti no dia do presente.
_Aceitei e agora não poderei voltar mais atrás, o presente já foi dado e só poderá ser retirado em alguma virada dos séculos vindouros, pela força e coragem de um homem que não tema o desconhecido.
O ruído dos motores se ergueram sobre todas as vozes ao redor; as pessoas olhavam atentas para a largada e alguns dos carros blefavam como se fossem largar antes da hora, seus canos cuspiam fogo como bestas draconianas e alguns respiravam jatos de fumaça através do capô, suas pinturas artísticas reluziam à luz do ambiente e as rodas brilhavam tão prateadas quanto se tivessem sido feitas com o próprio metal em diversas formas tamanhos.
“ Chegou a hora”_ Alex crianom olhou ao redor e por detrás do vidro obscurecido viu claramente quando Tymoti tomou lugar próximo das pessoas na linha de partida. Subindo o som ao volume máximo do seu aparelho, ele se deliciou com as vibrações sonoras que quase podiam adentrar por sua pele, ouvidos comuns nunca suportariam tamanho estresse sem serem prejudicados.
A bandeira tremulou nas mãos de uma jovem bem à frente dos veículos dando início à prova e em segundos passaram por ela a legião dos gladiadores do asfalto, os carros envenenados arrancaram quase que simultaneamente e lado a lado dividiam a rua em três blocos distintos.
O Mitsubishi eclipse GST negro rugia alto como um tornado e ganhava velocidade a cada milésimo de segundo. Alex prestou atenção no lado direito por onde surgia um Golf GTI prateado que trazia a inscrição N.O.S na lateral inferior da porta e desenhos psicodélicos em todo o corpo do veículo, em seguida apontando pelo flanco esquerdo arrancava um Honda Civic EX em cuja pintura retratava o anjo da nova Saigom com sua lança luminosa em mãos e asas demonstrando velocidade. Alex sabia que esta noite aqueles seriam seus adversários e pisava firme e fundo sobre o pedal do acelerador, engatando as marchas com uma destreza que não pensava ser capaz de desenvolver.
O Honda ganhou a dianteira e o Golf tomou na força do motor a segunda posição, isso não era o suficiente para o corredor dentro do Eclipse, pois além de se tratar da corrida das corridas, também era uma prova de fogo para ele, Tymoti o estava testando para saber se poderia incluí-lo na “família” de uma vez por todas.
Tudo que Alex via de onde estava era a luz néon azulada do Golf ziguezaqueando em sua frente e estava perdendo o contato com o seu maior rival que mantinha-se em primeiro lugar ganhando espaço e devorando o asfalto; de repente o carro balançou como que atingido por pago na traseira, uma rápida olhada no retrovisor revelou outro concorrente tentando agarrar sua chance de aparecer, um Mazda RX-8 laranja rasgava em velocidade bem colado em sua traseira e tentava empurrá-lo para fora da pista que ia se tornando cada vez mais estreita.
A velocidade já estava vertiginosa, mas seus mais novo oponente se aproveitara do vácuo produzido por sua máquina e jogando ao seu lado passou como um raio laranja, o aerofólio do Mazda também possuía uma lâmpada néon esverdeada que aos novos olhos de Alex pareciam emanar um brilho especialmente atraente; tudo era novo mas não podia se dar ao luxo de ser derrotado, não aquela noite e nunca mais a partir daquele momento. Usando da mesma técnica que o piloto do carro laranja e imprimindo mais velocidade ao potente motor do carro lembrou-se de algumas palavras que ouviu quando os mecânicos trabalhavam na montagem do Mitsubishi:
_ Um carro, uma lenda._ pronunciou em meio ao som pesadíssimo que ouvia dentro de sua cabine.
Firmando as mãos no volante Alex saiu detrás do Mazda puxado pelo vácuo e sentiu como que uma barreira de ar tentando impedir seu avanço, mas já era tarde parra o adversário, já fazia parte do passado.
Separado por alguns segundos ele podia ver claramente à frente as duas outras máquinas se digladiando por uma posição de destaque, lado a lado Golf e Honda chocavam-se produzindo faíscas e seus canos exibiam labaredas amareladas que tornavam a visão ainda mais interessantes. Quando as chamas sumiram a velocidade dos carros diminuiu e Alex notou que era a hora de fazer a diferença, após uma curva de alta velocidade à esquerda a pista se partiria em três retornando para unificar-se no exato ponto de entrada em um túnel no qual só cabiam dois carros lado a lado.
Quando a pista tornou-se três Alex acionou o Sistema de Oxido Nitroso e teve a sensação de que a realidade se abriria bem na frente de seu capô, mas quando ouve a convergência o Honda estava milésimos atrasado; Lado a lado o Mitsubishi e o Golf rosnavam dentro do túnel e a multidão se amontoavam metros na frente da saída onde estava a linha de chegada, depois de outra curva extremamente fechada para o lado direito, lado onde o Eclipse estava imponente engolindo os quilômetros.
Agora eram faíscas produzidas pelo atrito entre estes dois carros que iluminavam a rua e nas calçadas próximas pessoas fotografavam e filmavam o combate épico que se desenrolava através da noite. Metros antes de entrarem na curva o piloto do Golf baixou os vidros dele numa clássica atitude de provocação, obviamente se achava melhor e gostaria de ver quem ousava desafiá-lo daquela forma tão desrespeitosa; realmente aquele piloto era o atual vencedor da última edição da guerra das ruas, e conhecido por todos pela sua falta de sentimentos ao volante, não foram poucas as vezes que para vencer uma corrida ele usou de artifícios que acabaram ceifando vidas outros e essa era a missão de Alex Crianom naquela noite; plantar medo no coração de seu oponente. Com um toque no botão os vidros do Mitsubishi desceram e ambos os pilotos estavam sem capacete ou alguma proteção que fosse, a curva estava sobre eles e não haveria espaço para dois carros àquela velocidade. O horror tomou conta da mente do piloto do Golf quando seus olhos se cruzaram com os de Alex que iluminaram-se como se fossem bravas incandescentes, o ventou beijava-lhe a face deixando seus cabelos desgrenhados; o Golf vacilou de um lado para outro e entrou na curva de maneira displicente, Alex derrapou e quase perdeu a traseira, mas com estrema habilidade trouxe a máquina às suas ordens novamente e por fim avançou só, para a linha de chegada.
Estava feito. As ruas possuíam um novo regente e os outros corredores em batalhas futuras não sabiam se era um homem ou era um monstro errante, se era vivo ou não. As histórias sobre ele correram por todas as partes do circuito secreto das corridas. Ninguém jamais saberia.