Olá, amigos leitores. Fico grato pelas boas vindas de todos. Fico grato também por ser bem recebido, e, voltar a postar. Bora lá que a estrada é longa e a gente só está começando...
Fé em Deus, sempre.
As Desgraça do Palhaço
Fé em Deus, sempre.
As Desgraça do Palhaço
— Deixei de ser tolo! É degradante ser escravo da vida. Notem que estou infeliz e não é para menos! Trago-lhes alegria em minhas tragédias cotidianas, escrachando no palco toda a desgraça de meu ser. Vocês riem e dão sentido a elas. Mas ontem foi diferente. Ao me despedir deste palco limpei meu rosto e fui ter com minha vida de homem comum. Eis que ao entrar em minha residência encontrei coisas que não eram minhas.
O publico riu como que se já soubessem o final da historia. O palhaço irritado levantou-se e ralhou:
— Bando de abutres sujos! Saciam-se de minha desgraça e me escracham mais ainda á humilhação de ser quem sou! Lhes digo que encontrei Dulce Maria, minha esposa, dormindo bêbada em nosso leito. E mais, nossa cama tinha cheiro de outro homem, e ela em arrependimento me confessou o adultério!
O publico o olhou apreensivo. Ele levantou se da cadeira e mostrou as mãos ainda sujas de sangue:
— Quem pode me culpar pelo que fiz? Quem pode alcançar toda minha desgraça e me fadar á prisão? Lhes digo mais, antes de morrer Dulce Maria me contou que o amante estaria no show de hoje, e foi só por isto que eu vim!
O palhaço mais que depressa apontou a arma para o publico, e com a mão tremula mirou, continuando a dizer:
— O causador de minha desgraça aqui esta, no meio de vocês! Quem poderá se declarar culpado e se levantar?
Do publico apreensivo ninguém se levantou. O palhaço então gargalhou e disse dono da situação:
— Já entendi! Tem um covarde no meio de nós! Pois quero que todos os homens se levantem!
Os homens se levantaram de mãos levantadas. O palhaço ignorou as crianças assustadas, arrancou do bolso um lenço perfumado, arrancou o nariz vermelho de borracha, cheirou o lenço e disse:
— Pois este é o lenço do amante de minha senhora! Quero identificar o desgraçado que me traiu e veio ver minha cara neste espetáculo, no intuito de rir de minhas piadas e de minha verdadeira desgraça!
Vagou com a arma engatilhada em meio aos homens. Um senhor de meia idade exalava o mesmo perfume que o do lenço. O palhaço mirou a arma em sua cabeça e indagou em ira:
— Como pode? Como pode adentrar em meus domínios, deitar-se com minha mulher com entradas compradas para rir de mim depois do feito?
O homem caiu de joelhos implorando misericórdia, o palhaço respirou fundo e disparou impiedoso.
Um jato de agua inundou a careca do pé de pano. Ele gritou em desespero, fazendo todo o publico rir de sua particular tragédia. O palhaço agradeceu os aplausos enquanto o homem borrado pelo medo saia envergonhado do picadeiro.
E na prisão cumpria pena o homem de rosto pintado, contando aos presos sua grande proeza no ultimo show ao publico pagante. Os assassinos, traficantes e ladrões aplaudiam a astucia do homem colorido, cuja maior proeza era fazer de sua desgraça um magnifico espetáculo.
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