Conto Vertiginoso

Desvairado e pálido, eu segurava com desesperada firmeza a mão daquele Ser que me acompanhava em pânico, daquele Ser que eu deveria carregar comigo por entre as sendas que de forma insana cortavam a catástrofe. Éramos o derradeiro apoio um do outro, mas eu era o guia afrontador do cataclisma, por isso eu levava o Ser, sempre à beira da loucura. Eu vivia sempre em crise à beira-da-loucura, e jamais caminhava, sempre corria desabalado. Porque era absolutamente necessário, de uma grave e terrível imprescindibilidade.

Tudo, por todos os lados, por onde quer que eu voltasse meus olhos alucinados, absolutamente tudo desmoronava cosmicamente em crepúsculos e ocasos iminentes, inevitáveis, inexoráveis. Não sei dizer se era noite ou dia, mas posso afirmar que a treva e a escuridão maciças pesavam brutalmente sobre tudo aquilo que se convencionou chamar de mundo, agora se consumindo nas correntezas arrasadoras de rios de lágrimas.

Eu e o Ser de enormes olhos brilhantes corríamos desbragados em vertigens borbulhantes e faiscantes por entre os escombros titânicos da monstruosa e avassaladora destruição que surgia e invadia e aniquilava impiedosa e implacável de todos os pontos de todas as formas que parecia verter dos poros sombrios do Desconhecido. Enquanto lutávamos afoitamente para nos desviar com frenética rapidez das gigantescas partículas que ruíam indômitas em meio à devastação sem freios, subitamente assomou do éter toda uma orquestra sinfônica que não sei dizer nada sobre ela, mas digo que executava uma sinfonia de absurda velocidade, de acordes e notas tão acelerados e intensos que transmitiam a violenta impressão de vendavais lancinantes, de tornados infrenes, de ciclones dantescos, de furacões massacrantes. Armagedônico avalanche sonoro!

Tremendo e chutando explosões tremendas, percebi que meus batimentos cardíacos deviam estar seguramente a mais de 100 por minuto. A muito mais! Febrentas sensações de pulsos e impulsos grotescamente céleres e incontroláveis impeliam toda minha alma para uma alucinada corrida contra o tempo e sempre sem descanso. Infinidades de batidas de relógios assolavam meu coração e mente em compassos hipnóticos e holocáusticos, aquelas badaladas infernais.

E majestaticamente aquela sinfonia dramática e trágica e elétrica chegava ao fim, e crescia abruptamente em bombásticos chamados de trompas que soavam de chofre por todo o ambiente fúnebre e catártico, salpicado por tímpanos pagãos. Corríamos de báratros do inferno até espaços vastos e galácticos que não sei descrever. A morte bradava invicta e colérica, e eu nunca larguei a vívida mão do Ser, enquanto o trovão sinfônico fulgurava em relâmpagos rápidos por entre tempestuosas tempestades férvidas e gélidas. Eram turbilhões avassaladores que corriam e se contorciam, enquanto a música se findava na demência definitiva da fúria e da glória através das lâmpadas que nervosa e inquietantemente se apagavam para todo o sempre.

Ascendíamos lôbregos entre ciclônicas perturbações transtornantes. A água avançava incólume, o fogo queimava em vertigens e delírios, de um pesadelo assombroso, pesadelo que caía como bombas atômicas, e esquadrões de seres que não digo, verdadeiramente indizíveis, dardejavam espantosamente velozes por todos os âmbitos.

Indiferente, indignado e impávido, preparava-se o maestro para o Grand Finale invencível e tonitruante, turbilhonando furiosos por exércitos varridos pelos ventos sem fim, por povos despencando nas rachaduras vulcânicas de lava incendiada, por mortos e vivos sangrando incontidos ao bater opressivo e implacável dos bilhões de relógios agressivos e torturantes, causadores de estúpidos terremotos. Tudo caía e se desmanchava, e a sinfonia se ia, e eu desesperado, alucinado, louco e vertiginoso, trazendo comigo o Ser dos imensos olhos, tentei alcançar em extrema velocidade aquela apocalíptica mão!

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Alessandro Reiffer
Enviado por Alessandro Reiffer em 16/07/2007
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