O Mosteiro (Prólogo)
Era inverno. Um inverno rigoroso, tão rigoroso como nunca antes ocorre antes naquela região, ao menos não nos quase vinte outros que o abade Giulianno experimentara naquele mosteiro. O frio era tremendo que mesmo em sua cela, ele precisava se proteger com grossas peles para poder contemplar a vista de sua janela. Diga-se de passagem, que bela vista! Por ela podia se avistar toda a extensão dos campos que cercavam o mosteiro, belamente iluminados pela luz da lua daquela noite. Uma lua cheia como poucas vezes antes se vira, em uma noite fria como poucas vezes antes se sentira.
Ao longe era possível avistar as últimas tochas se extinguindo no vilarejo. Tantas choupanas de madeira e palha e tão próximas umas as outras, apenas esperando por uma pequena fagulha para se converterem em grandes fogueiras, faziam com que a cidade dormisse com suas vielas em trevas. Claro, apesar de tudo era possível encontrar um resquício ou outro de luz, proveniente de um fogareiro no interior de alguma das casas.
O Abade Giulianno respirou fundo e fechou a sua janela. Se ajoelhou ao lado de sua cama e fez sua oração a Deus para em seguida se deixar. Não demorou muito para que caísse em sono profundo repleto de sonhos estranhos, confusos e tumultuados.
“Acorde...”, ele escutou. Subitamente seus olhos de abriram e ele se deparou com os demais monges ao redor de sua cama. Normalmente tal visão deveria ser acalentadora, afinal tratavam-se de homens de Deus. Hoje porém essa visão trazia pesar e inquieação ao velho abade.
Não demorou e um dos monges se aproximou. Era Silas, um monge errante, que havia vagado anos a fio pela Europa desde que seu Mosteiro em Granada havia sido destruído por mouros e que após anos encontrara abrigo e paz naquele mosteiro. Ao menos era o que todos pensavam
Desde que chegara ao mosteiro Giulianno conversara poucas vezes com Silas. Não que o abade desprezasse a presença do monge, mas sim que este era por deveras reservado e quase sempre optava pela solidão do trabalho nos campos ou na dedicação da biblioteca.
Ainda assim a relação entre os dois era amigável, sendo Giulianno um dos mais atentos ouvintes de Silas, quando este contava sobre sua desgraça em Granada e suas andanças.
“Monsenhor... nos perdoe...” Silas disse enquanto acenava para que os demais monges segurassem o abade. Sua voz trazia um pesar típico que sua voz que carregava em todas as suas conversas habituais.
“Me soltem irmãos! O que esta acontecendo? Silas, me diga o que esta acontecendo?”, perguntou o assustado Abade.
“Temo que meu senhor seja por demais impuro para saber”. Silas disse passando a mão por sobre os olhos do abade. “Durma meu senhor. Durma”.
Giulianno sentiu um choque em sua nuca. Em seguida suas pálpebras começara a pesar como nunca antes pesaram, mesmo nas suas noite de mais estafa, e por mais que lutasse seus olhos se fecharam e tão logo ele dormiu. Dormiu e sonhou...