Filho pródigo retorna ao lar
Valério deixou o pedaço de pão cair da boca quando viu quem entrava na lanchonete da praça central de Acauã do Sul. Renato, filho adotivo dos Monteiro e seu amigo de infância, retornava dez anos depois de sair da casa dos pais, a contragosto da família.
– Há quanto tempo, Valério! – E falando ao balconista: – Me veja aí um guaraná natural e um sanduíche. Que cara é essa, Valério? Parece que viu um fantasma. Diga, como vai a vida?
– Vai bem, Renato. Me conte, por onde andou? – indagou o amigo, recompondo-se da surpresa.
– Ah, rodei Europa e Ásia de mochila. Conheci muitas coisas.
– Achei que nunca mais fosse vê-lo. Voltou por quê?
– O dinheiro da poupança acabou. Você ainda se lembra? Foi difícil convencer meus pais a liberar a grana guardada para os meus estudos.
– Lembro sim. Foi você fazer dezoito anos, e ninguém mais segurou. Quando chegou? Hoje pela manhã?
– Nada. Ontem à noite. Depois de tantos anos, sem telefonar, só mandando cartas, que meus pais nunca tinham como me responder, porque eu não tinha endereço certo, não esperava recepção tão calorosa. Eles estavam tão felizes! Meu irmão e minha irmã também. Fizeram a maior festa quando entrei em casa. Mesmo sendo adotivo, não tenho mais dúvidas de que eles me amam muito.
– V-você dormiu no casarão dos Monteiro? F-falou com seus pais? – tartamudeou o amigo, tremendo e suando frio.
– Está tudo bem, Valério? – perguntou o balconista, um jovem recém-chegado à cidade do interior.
– Qual o problema? – quis saber Renato.
Tentando se acalmar, Valério explicou:
– Há dez anos, seus pais e irmãos, depois de lerem o bilhete que você deixou, saíram de madrugada rumo ao aeroporto da capital, para convencê-lo a voltar. Na estrada, houve um acidente. Nenhum deles sobreviveu, meu bom amigo.
Renato sorriu sereno, levantou-se e saiu, sem esperar o lanche.
Ainda preocupado, o balconista se aproximou do cliente.
– Tudo certo mesmo, Valério? Há uns dez minutos que você está aí, pálido, suado e...
– E o que, rapaz?
– Falando sozinho...