TRÊS DA MANHÃ
Era uma coisa realmente incrível. Desde que nascera, em todos os dias de sua vida, ou melhor, em todas as madrugadas, acordava às três da manhã. Com a precisão de um relógio suíço.
Antes mesmo de nascer, no útero, o horário era o da sessão de chutes. Quando bebê, a hora da mamadeira. Depois de crescida, o intervalo comercial do sono: água e / ou xixi. Casada, a hora passou a ser propícia também a outras atividades mais prazerosas...
Já velhinha, tomada conta por uma moça, uma cuidadora, que sabia: o relógio biológico da idosa tinha um despertador. E o alarme sempre tocava às três da manhã.
Um dia, teve um infarto. Os médicos constataram a sua morte. Curiosamente, não eram três da manhã. Nem sequer da tarde. Foi antes do almoço, por volta das onze. Sem muitos parentes vivos, para que velório demorado? No mesmo dia, bem antes de escurecer, já estava enterradinha a finada.
E não é que, às três da manhã, lá no cemitério, dentro do túmulo, no breu do caixão, ela abriu os olhos e, desesperada, começou a se debater gritando por socorro, sem que ninguém pudesse ouvi-la!