O Fantasma Cangaceiro
Havia uma lenda urbana que se passava na pequena vila de Formosa, à poucos quilômetros de Olinda, que os habitantes locais contavam. Era a história do fantasma de um famoso cangaceiro morto por aquelas redondezas.
Diziam os mais velhos, que por volta de 1850 existia por aquelas bandas um grupo de cangaceiros que aterrorizava a região, atacando e saqueando lojas e mercadores, roubando tudo que possuía algo de valor, e eles eram tão cruéis que matavam qualquer um a sangue frio, que ousasse atravessar o caminho para impedi-los. Dentre eles, um cangaceiro de nome Armando de Sá era conhecido como o Rei do Cangaço, ou líder do grupo de malfeitores que aterrorizava os habitantes do local. E ele era, de longe , o mais cruel, impiedoso e sádico cangaceiro jamais visto. Ele sorria enquanto o tiro de sua pistola explodia os miolos de sua vitima, ele assaltava mulheres e velhos indefesos em seu caminho, e cometia tantas outras atrocidades que você mal poderia imaginar.
Certa vez, a policia local que já conhecia a fama do cangaceiro e até o temia, resolveu criar uma emboscada que pusesse um fim no reinado de terror do Rei do Cangaço.
A autoridade levou uma grande arca de ouro, prata e joias dentro de uma arca de madeira para as colinas do lobo infernal, um lugar isolado da região onde só havia morros inóspitos e caatinga. Diziam que lá era um lugar mal assombrado,onde os viajantes que por lá passavam cismavam ter visto à noite um enorme lobo negro de olhos vermelhos e dentes grandes como sabres que os perseguia até chegarem perto da capela de Nossa senhora das Neves. Diziam os viajantes que quando o lobo infernal pulava no caminho com seus olhos brilhando furiosos, a única forma de se salvar da morte iminente era correr em direção à capela abandonada de Nossa Senhora, entrar dentro dela e fechar a porta. O lobo então não seria capaz de entrar naquele templo sagrado, e ficaria na porta arranhando e uivando até o sol raiar no horizonte, e ele então desaparecia sem deixar rastros. Essa lenda do Lobo Infernal era famosa por aquela região,então sabendo disso a Autoridade resolveu criar essa emboscada para por um fim definitivo na vida do cruel cangaceiro.
A policia local então levou a arca de madeira cheia de ouro, certa manhã, até as colinas e a enterrou bem fundo no chão, e para completar a emboscada eles levaram picaretas e derrubaram as paredes da capela de Nossa senhora das Neves para que não houvesse refúgio para o cangaceiro quando o lobo infernal aparecesse. Terminada a tarefa, eles voltaram à vila e espalharam o boato aos sete ventos, dizendo para todos que na colina do lobo infernal havia um jazigo de ouro enterrado. E a noticia logo se espalhou por toda a redondeza sem demora.
O cangaceiro Armando de Sá, sabendo da história chamou vários de seus capangas para ir com ele até lá encontrar o jazigo de ouro, mas nenhum de seus homens foram corajosos o suficiente de acompanhá-lo , temendo sofrer diante da cólera do lobo infernal. Então, ele foi, certa tarde , sozinho com uma pá, até as colinas, e pôs- se a procurar, e quando finalmente achou o local onde o tesouro estava enterrado ele logo pôs-se a cavar, e tão grande era sua ambição por dinheiro e poder, que ele se esqueceu que a noite estava caindo, e logo o lobo infernal iria aparecer.
Quando o cangaceiro retirou a última pá de terra sobre a arca de ouro, e enxugou o suor da testa, ele percebeu que a lua já erguia no céu estrelado.
De repente, o cangaceiro ouviu um rosnado muito alto vindo da caatinga, e o ruido de patas arranhando o chão. Ele olhou para trás e viu um grande lobo negro do tamanho de um urso, seus olhos eram vermelhos como brasa, e da boca escancarada cheia de dentes grandes como adagas escorria espuma de saliva. O lobo se aproximava do cangaceiro rápido como uma onça. Essa foi a primeira vez que o cruel Rei do cangaço sentiu medo na vida, ele então saiu correndo para longe do jazigo de ouro, gritando por Nossa senhora das Neves, mas ao chegar na capela, não havia mais refúgio, pois as autoridades já tinham derrubado as paredes. Ele então parou de correr, pois sabia que seria em vão. E ao olhar para trás só teve tempo de ver o enorme lobo, grande como um urso negro pular sobre ele e rasgar sua carne, impiedosamente.
Após a morte de Armando de Sá, os cangaceiros sobre a liderança dele fugiram da região, assustados, e as pessoas daquele região comemoraram com dois dias e duas noites de festas.
Agora muitos viajantes desavisados dizem, ao passar pelas colinas do lobo infernal durante à noite, que podem ver um enorme lobo negro pular na estrada montado pelo cangaceiro Armando de Sá, o lobo rosnando e o cangaceiro rindo e gritando enquanto perseguia os viajantes. Isso é o que contam os que sobreviveram. Muitos cismam que o cangaceiro supostamente fez um pacto com o tinhoso para continuar atormentando as pessoas da região.
E até hoje ninguém teve coragem de ir até as colinas roubar a arca de ouro, fosse de dia, ou de noite, pois muitos achavam que ela também tinha sido amaldiçoada pelo fantasma do cangaceiro.
E você, caro leitor teria coragem ou ousadia de ao menos chegar perto da arca de ouro? Saiba que se você o fizer correrá o risco de sofrer a ira do fantasma cangaceiro.