O CAÇADOR!
 
            Somente lembro que nosso pequeno monomotor mergulhou na selva. Era um enorme mar verde. Deduzi que minha aventura como caçador poderia estar chegando ao fim. Teria novamente a oportunidade de colocar em minha sala a cabeça de animais? Agora, tudo era apenas expectativa. O piloto nigeriano, Michel, abriu seus grandes olhos e voltou-se para trás em pânico:
            - Segure-se! Vamos cair!
            Não sei quanto tempo fiquei desacordado. Fui abrindo os olhos aos poucos sentindo o corpo todo dolorido, como se moído mil vezes em algum tipo de equipamento sádico de musculação. À medida que recuperava a consciência, dei conta da minha situação. Um enorme vulto negro e peludo se encontrava diante de mim, me encarando. Nada menos que um gorila. Fiquei atônito. Além disso, movimentar-me era difícil. Fui percebendo que estava deitado sobre algumas folhas, enormes pousadas em galhos de árvores colossais. Virando um pouco a cabeça para o lado dei conta da altura:
            - Meu Deus!
            O gorila ficou irritado batendo no peito. Em seguida outros três apareceram rapidamente. Não entendi por que não me mataram. O mais impressionante foi terem me levado até aquele local. Um dos animais aproximou de mim uma espécie de cuia com água. Pasmo, bebi sem questionar. Cansado, adormeci um pouco mais.
            Algum tempo depois despertei e vi que era noite. Pude ouvir a respiração dos meus salvadores por perto. Tentei mover algum músculo. Impossível. Devia estar com costelas quebradas, pois a dor era insuportável. Para complicar, certamente, os gorilas podem ter acentuado os ferimentos ao me transportar. Comecei a sentir muito frio e a tremer sem cessar. A febre acentuou e comecei a desfalecer. Antes, ouvi os gritos dos gorilas em desespero...
            De modo surpreendente, não morri. Já podia recuperar certa mobilidade nas pernas e braços. A pressão no peito reduzira e deduzi que algum milagre conseguira me fazer escapar. O enorme gorila, que depois identifiquei ser uma fêmea, servia-me água e depois me ofereceram frutas. Não esperava um comportamento inteligente daquela espécie. Um pouco depois apareceu um gorila gigantesco, que deduzi ser o chefe do grupo. Estava muito irritado e batia no peito de modo feroz. Não podia entender aquele comportamento e fiquei confuso com os seus sinais de inteligência muito avançados.
            Diante da situação, o melhor a fazer era ficar quieto e manter a calma...
            Passaram-se alguns dias e eu já havia me acostumado com a tribo. Podia me movimentar e arrisquei descer da árvore, o que fiz com dificuldade. Quando cheguei ao solo, o chefe ficou muito irritado. Saiu rodopiando pelo local e quebrou alguns arbustos e até uma bananeira. Em seguida, ordenou que subisse apontando para o alto. Segui suas ordens sem discutir.
            Na manhã seguinte fui desperto pelo barulho terrível do chefe. Sua cara enorme estava a poucos centímetros da minha. Bateu suas mãos no meu peito e pernas como se testando se eu estava bem. Senti que ficara feliz. A seguir, puxou-me com força e colocou-me sobre seu ombro direito. Saiu descendo em disparada pela selva seguido pela tribo. Sobrevivi à queda, mas não sabia se sobreviveria àquilo. Foram vários minutos até que chegamos a um lugar que me deixou de queixo caído. Era o portal em pedra de uma cidade em ruínas, muito antiga, lembrando construções dos povos andinos.
            O chefe, sem nenhuma gentileza, jogou-me ao chão. O baque foi violento e fiquei um tempo sem respirar. Em seguida, ouvi passos nas folhagens atrás de mim. Apesar da claridade do sol me ofuscar os olhos por um tempo, divisei a figura de um nativo da região com pinturas no rosto e no corpo. Cutucou-me o corpo com um tipo de bastão. A seguir, dois homens vieram e me arrastaram para dentro de uma espécie de templo enorme.
            À medida que isso ocorria, notei que liberaram dois pequenos gorilas. Os mesmos correram diretamente para os braços do que me trouxe e sumiram na selva. Percebi que havia sido moeda de troca. Dentro do templo, após me despirem, fui colocado dentro de um enorme caldeirão com água sendo fervida...