O Marido Da Morte

Todo mundo vinha dizer que eu estava louco.

Diziam-me o tempo todo ao meu ouvido:

_ Você nunca esteve em seu juízo perfeito...

_ Casar com a mulher fúnebre é coisa de doido mesmo...

E não paravam de falar na morte o tempo todo.

Pensei então em tal momento:

Jamais eles pensam que por ela vão ser levados...

Tive a felicidade de com "a Morte" estar casado.

Não ficarei dentro de um caixão apodrecendo.

"Mora Tis Morte" me levará para seu mundo.

Os demais mortais ficaram dentro do mausoléu

e o corpo deles acabará em vermes fedendo.

Não acabarei em decomposição em meio ao féretro

Terei meu corpo transformado em espírito.

Serei da morte o seu único primeiro marido.

Que eles todos pensem que sou louco...

Eu os vejo em seus caixões se decompondo.

Os vermes imundos comem suas partes intimas.

As minhas todas ficarão inteiras...

Sou amado pela morte a noite toda.

A noite a morte vem e deita na minha cama.

Por horas ninguém morre enquanto ela me ama...

Mal sabem todos que ela abrevia suas partidas.

Quando amanhece e "Mora Tis Mortis" sai do quarto

Muita gente no mundo inteiro tomba a cabeça.

A morte havia protelado suas vidas por minha causa.

Toda vez que ela ia embora refletido no espelho eu via

as morte levando as almas para a eternidade...

Enquanto isso eu na terra permanecia vivo.

Havia entre mim e ela uma condição imposta:

Jamais trai-la com uma mortal na terra...

Se eu a traísse sentiria o peso da mão dela.

E teria o mesmo destino que o mundo inteiro...

Ficaria deitado num caixão se decompondo...

Meu destino então seria imundo.

Deixem que me chamem de louco o tempo todo.

Sou o marido da morte e não abro mão disso.

Casei com "Mora Tis Morte" diante de um sacerdote.

Ele concordou com a escolha dela...

Depois do casamento amei a morte a noite toda.

Senti que no corpo dela havia um prazer imenso.

O toque da morte me deixou até frio.

Mas por dentro meu coração estava aquecido.

A morte não é feia e usa foice.

Ela leva todos por ser sua obrigação.

Não me levou pois fui o primeiro a amá-la.

O único que a descreveu como bela mulher.

A humanidade inteira descreveu-a como feia criatura.

Colocou em suas mãos uma foice cortante.

Mas "Mora Tis Mortis" não é como o mundo pensa....

Deitei com a morte e fiz amor com ela...

Como marido a tenho como esposa.

A noite na cama ela é minha amante.

Não leva almas enquanto faz amor comigo.

A morte me deu outro destino e tenho sorte.

Deixem todos pensarem que sou louco...

Sinto a fragrância do perfume da morte o tempo todo.

Meu corpo dentro dum caixão não ficará se decompondo.

Não esqueço a condição que me foi por ela imposta...

Não me traia com mortal alguma...

Para que não sinta minha mão em ti pesando

e seu corpo acabe sendo pelos vermes comido...

( JACQUES CALABIA LISBÔA JCLIS )

BELO HORIZONTE, 02 DE ABRIL DE 2016. MG.

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