A Criança Na Estrada - Parte 2

Parte 2

Os 30 quilômetros já haviam se passado sem qualquer sinal da cidade que ele vira no mapa, ou de qualquer outra que fosse. Suas pálpebras pesavam e a adrenalina do acontecimento já não dava mais conta de mante-lo acordado. Sua vontade era encostar e dormir no carro mesmo, porém a febre da menina ao seu lado não baixava e seu sono era turbulento, pois ela se revirava de um lado ao outro do banco.

O rádio estava ligado na única estação do local. Ele cantava “Shame Shame” junto com a banda que tocava no rádio, como uma forma de se manter acordado.

Poucos minutos se passaram, a música acabou e com o fim veio o ultimato de seu corpo: pare agora! Ele então encostou o carro, pegou a menina e a levou para o banco de trás , onde ela poderia dormir mais confortavelmente. Enquanto a carregava seus olhos se abriram e ela o abraçou. Sua testa ainda fervia e ele por pena ou meramente por algum instinto paterno acabou por adormecer ao seu lado.

Horas se passaram. Sonhos estranhos passavam por sua cabeça. Um turbilhão de imagens estranhas uma após a outra, criando um verdadeiro filme non-sense.

Ele abriu os olhos. Ele ansiava por poder exclamar que o sol brilhava e um novo e maravilhoso dia se abria perante eles, só que não seria verdade. O céu estava escuro, prenuncio de uma chuva que provavelmente viria a seguir. Seus braços estalaram, sua cabeça doía um pouco e ele se sentia levemente febril, talvez a noite de sono ao lado da menina o tenha feito contrair a mesma enfermidade que a acometia. Falando nisso, onde estava a menina?

Com um salto ele se levantou e saiu do carro. Uma rápida olhada para o céu para constatar que a chuva realmente estava próxima. Uma olhada nos arredores e nenhum sinal da menina. Onde diabos ela estaria? Desesperado ele correu para a beira da estrada e se assustou com o desfiladeiro que se abria a sua frente. Por pouco, muito pouco ele não havia estacionado o carro muitos metros abaixo do nível da estrada.

Uma mão tocou seu ombro enquanto contemplava o vale que se abria abaixo. O susto foi inevitável e ao se virar ele se deparou não com uma criança de 8 anos anos e sim com uma adolescente de 15. Quem era aquela? Espere... os cabelos, a pele, os traços. Aquela era a menina da noite anterior! Mas como? Ele se indagou e concluiu que seu estado era mais lastimável do que ele pensava. Tonteira. Pensando bem seu estado continuava não sendo dos melhores.

“Me salvastes. És o meu herói.” ela dizia enquanto ele absorto a contemplava com a cabeça mergulhada em dúvidas e mais dúvidas. “Quem? O que fazias na estrada? Quem era a outra? Quem a matou?” foram algumas das perguntas que ele tentou fazer.

“Não sei de onde vinha, não sei para onde ia. Não sei quem sou, menos ainda sei onde estou. Sei tão somente que algo me ameaçava e graças a você hoje estou viva!”, ela respondia.

Sem conseguir respostas ele voltou a atenção para seu estomago que reclamava e pedia por comida. Sem qualquer cidade por perto seria difícil se conseguir um bom local para um café da manhã. Revirando o porta malas ele encontrou uma garrafa de chá gelado e algumas barras de fibra. Ele estava faminto.

Estranhamente sua acompanhante por sua vez não sentia fome alguma. “Deve ser o trauma”,ele pensava. Terminado o café eles embarcaram no carro e retomaram a viagem.