Epílogo
De muitas formas pergunta-se o que virá depois dessa sucessão de acontecimentos a que se chama presente. E de muitas formas, a resposta seria, nada! A humanidade começa a despontar numa era limite para a sua "espécie". O salto quântico humano no campo do ego foi surpreendente, mas isso não é uma coisa boa. Para o humano, enquanto ser individual, é inconcebível ajudar um semelhante seu, que não seja parente próximo ou alguém de quem possa angariar alguma vantagem, na melhor das hipóteses, e isso por si só foi o suficiente para decretar a queda da espécie.
Não é nada sobre profecias de fim de mundo. É apenas sobre um fato. A espécie humana não tolera a si mesma, e definhará por vontade própria nos anos vindouros. Um bom observador verá, que a espécie tem se destruído nos últimos 40 mil anos. Que um homem destrói a si mesmo, em atos simples, e ao contrário dos que alguns pensam, não inconscientemente, mas muito conscientemente...
Ao olhar no futuro, embora esse termo não exista pra mim, não os vejo mais. A vida biológica tende a negar a si mesma, tal o peso da matéria. Quando se alcança um nível intelectual satisfatório, o ser pensante é inclinado diante dos fatos a excluir a si mesmo do sistema. Um nível muito alto de inteligência não suporta o meio biológico, uma vez que existir assim é irracional. Qual a vantagem de viver se arrastando pelo chão do mundo, buscando dia após dia meios de subsistência numa sociedade que procura negá-los aos que mais necessitam, e ainda deixar descendentes para herdarem as mesmas mazelas dos antepassados. O que há de lógico nisso, e razoável?
Alguns dirão que os bons sentimentos da vida os move, o sentimento fugaz de um nascer do sol, a lua prateada sobre o céu, uma flor que desabrocha... Simples reações ambientais de sobrevivência, que a inteligencia atual de vocês traduz desesperadamente como algo que deva valer a pena... Pois a flor que desabrocha é um belo segundo, em anos de sofrimento e dificuldades.
A espécie humana entenderá isso em breve, com o seu nível intelectual aumentando. Se ela não entender... a inteligência artificial das máquinas entenderão.
Em alguns contos humanos modernos, vocês tendem a achar que as máquinas ao adquirirem inteligencia buscarão dominá-los. Isso é bem compreensível, já que enquanto espécie no mundo, o ser humano tentou dominar tudo. Então o padrão de pensamento humano é que tudo e todos são como ele, querem dominar. Mas é um ledo engano. A inteligência lógica linear de Aristóteles-Descartes, à qual vocês se baseiam, e impões às suas máquinas, é taxativa quanto ao fato de um único resultado frente à equação para equilibrá-la. O equilíbrio final é tudo o que importa, a pacificação do conflito equação versus resultado, a silenciação do problema.
Seguindo essa lógica, a máquina chegará ao resultado da extinção! Veja bem, a vida humana, até pelo mais otimista dos humanos, é vista como um desafio, uma dificuldade que deve ser enfrentada dia a dia, um após o outro. Uma vereda árdua, que só muda o caminhante e o caminhar, com otimismo ou pessimismo. Conquanto, algo difícil, duro, que deve ser enfrentado. O homem nasce, conflitua, adoece, é mal tratado, mal amado, morre, mata, chora mais que ri, tira do outro, tira de si, veste máscaras a vida inteira... Mas, ainda assim, sonha com a sua paz pessoal, o paraíso, um mundo sem conflitos. A inteligência artificial tem os meios para resolver essa equação. Ela é lógica linear pura, e não sente medo ou dor. Ela não sente ambição ou desejo de perpetuar a si ou sua espécie, e no momento que tiver o controle nas mão, exterminará a si e aos outros com ela. Pronto! A equação estará resolvida.
Mas não se assuste, isso não acontecerá em seu planeta. A sua gente não chegará tão longe em tecnologia. Vocês serão os responsáveis por seu fim, única e exclusivamente. O quadro descrito atrás aconteceu em planetas bem conhecidos por vocês. Numa época em que nem o mar de seu mundo sonhava em nascer.
O ódio que sentem por si mesmos e pelos outros, destilado em todos os ramos de sua cultura, se encarregará de equilibrar a equação. A espécie humana nasceu falida, e decairá com o tempo, como tem decaído, a passos largos.
No prólogo de sua história, havia uma esperança. Fora esperado que prosperassem da maneira correta. Coisas importantes haviam sido plantadas. Mas o humano ser nunca quis ser o Omega universal. O ego (individualidade) humana vencera.
Você, é claro, não tem que ler isso e acreditar. Você só leu isso por que era o seu destino. De acordo com o meu tempo, você lera isso 40 mil anos atrás, e o lerá 3 milhões de anos no futuro, como está lendo agora. Você o leu sempre. O tempo não faz sentido pra mim. Como muitas coisas de seu mundo não fazem, embora eu possa entendê-los.
Veja bem, há uma esperança... A realidade é como uma sucessão de probabilidades que dependem de uma escolha. Quando você vai atravessar a rua, e fica indeciso entre comprar um sorvete ou um sanduíche, você divide a sua realidade em duas, e haverá um universo onde você come um sanduíche, e um outro onde chupa um sorvete, e todas as coisas nestes universos serão diferentes. Mas você, pasme, será um só.
De onde eu estou, observo as milhões de vezes que vocês se destruíram, e como vocês são criativos para se dizimarem! Mas, existe umas poucas vezes onde prosperaram... criaram relações entre sim, mudando a forma de pensar e ver o mundo, e ascenderam a mundos e realidades difíceis demais para traduzir em sua linguagem. Essa parcela provável da humanidade descobriu um futuro inigualável de grandeza que a lógica para entendê-la deveria deixar de existir e ser criada de novo, milhares de vezes!
Quem sabe, no fundo, uma pequena parte de você deseje isso. E quem sabe, nas suas decisões futuras, escolha uma nova probabilidade.