Abatedouro
Seus olhos trêmulos me encaravam com aptidão. O cheiro sórdido de podridão deixavam aquele lugar com um ar ainda mais sombrio, dentre as quatro paredes de metal, velhas e enferrujadas, traçadas por dor e sofrimento, que se apresentavam nas doces manchas vermelhas de sangue percorridas por toda ela, eu ainda podia ver marcas de um passado que o tempo não perdoou. Dentre feixes de luz que viam-se por debaixo da porta, o sofrer inusitado de alguém, com que esperava-se seu abate era explicitamente observado. Destroços corpos esparramavam-se por todo o chão, era angustiante vê-la naquela situação, mas seu destino estava traçado, marcado quando nascera, e assim seria, por obra alguma do tal destino, ou mera coincidência, ela sairia dali.
Aqueles olhos, ah... Mas que olhos, era um desperdício, um extremo desperdício, mas eu precisava fazê-lo, eu tinha que fazê-lo, tamanha infelicidade era a dela por estar aqui, coitada, tão jovem e voraz, mas pouco importa, pois necessitamos da sua carne, a sua dor não nos mudará em nada, o seu sofrer menos ainda, só me resta fazê-lo.
"O velho homem, apanhara sua foice e fora aproximando lentamente de sua vítima. Ela mostrava-se inquieta, trêmula, sem forças. Ele devagar levantou sua arma e com força cortou-lhe a cabeça. O sangue da pobre esgueirou por todo o seu rosto. O silêncio reinou e sua consciência poste novamente a pensar. Aquela vaca não lhe havia feito nada, mas esse era o seu dever, nos supermercados, nas grandes prateleiras, encontravam-se os frutos de seu trabalho, onde pessoas compravam e consumiam a doce amargura daquele ser, sua carne, seu couro, suas entranhas e chifres valiam mais que o seu próprio existir."