Na minha juventude eu tive um amigo que era epilético. Tinha crises convulsivas nos momentos mais incríveis. Na rua, caminhando, conversando animadamente, de repente ele caia como se tivesse levado um choque elétrico. Ás vezes íamos a um bar tomar uma cerveja (quer dizer, eu tomava cerveja, pois ele só bebia refrigerante), e sem qualquer aviso desmoronava como se tivesse levado um direto no queixo. Caia com tudo no chão, começava a contorcer-se e a espumar pela boca.
Não era uma coisa bonita de se ver. A impressão que dava era que ele estava recebendo um espírito. Quem já foi a um centro de umbanda, desses que lidam com candomblé, sabe do que estou falando. Os “cavalos” que recebem um “caboclo” perdem a consciência de si mesmo, ficam se contorcendo como lagartixas feridas, fazem caretas horrendas, transpiram como demônios alimentando fornalhas, bebem litros inteiros de cachaça barata como se fosse água mineral, fumam charutos infectos sem demonstrar qualquer sensação de náusea, e por ai adiante. É como se uma região inteira de seus cérebros tivesse sido amortecida para mitigar parte da sua neurologia. Ou quem sabe ocupada mesmo por uma entidade estranha, que em vida era apreciadora dessas especiarias.
Quando o meu amigo tinha esses ataques as pessoas normalmente se afastavam e ficavam com medo. Poucos sabiam o que fazer quando isso acontecia. “O cara está tendo um troço”, diziam uns. “Ele bebeu demais”, diziam outros. E deixavam o cara estrebuchando no chão, se afogando na própria baba. E ele nem bebia.
Epilepsia é uma doença emblemática. Dizem que muitos personagens históricos a tiveram. Alexandre, o Grande, e Júlio César entre eles. Machado de Assis e Napoleão Bonaparte também. Até o nosso imperador D. Pedro I sofria de epilepsia, herdada do lado materno de sua família e antes dos 18 anos já tinha sofrido seis crises. Van Gogh, o polêmico pintor holandês, foi outro artista que sofria desse mal, mas segundo se dizia, era após as crises que vinham as inspirações para pintar as telas que o fizeram famoso.
Tudo gente importante, que escreveu páginas gloriosas na História. Por isso, nos antigos tempos ela era chamada de doença dos deuses. Ou dos demônios, porque suspeitava-se que as crises eram causadas por espíritos malignos que incorporavam nas pessoas. Há quem diga, inclusive que os tais endemoninhados que Jesus exorcizou, eram na verdade, pessoas epilépticas que ele, um essênio versado e treinado em práticas terapêuticas, sabia tratar. Os sintomas descritos combinam. Visões, premonições, alucinações, surtos psicóticos, e aí por diante.
Também não é sem razão que alguns estudiosos sustentam que os profetas bíblicos e os grandes videntes da história também sofriam de epilepsia. Nostradamus principalmente. E que suas visões eram devidas a essa doença. Não sei não, mas há algumas estranhezas ligadas com esse mal. Dizem que a mulher de Júlio César teve a premonição de que alguma coisa aconteceria ao seu marido naquele fatídico dia dos idos de março de 44 a.C, quando ele se preparava para ir ao Senado defender a sua pretensão à ditador. Que ela sonhou com o seu assassinato. Shakespeare conta essa história em sua famosa peça de teatro. Alexandre, o Grande, também teria previsto o resultado da maioria das suas batalhas antes mesmo de as ter lutado. Hitler, que se não era epilético estava muito perto disso, confessou aos seus amigos mais próximos, que um demônio (um superior desconhecido, na versão dele) o visitava e inspirava a maioria das suas ideias.
Enfim, são histórias da História. Pode-se crer nelas ou não. Mas o meu amigo me deu provas de que alguma coisa estranha acontece no cérebro de quem sofre dessa doença. Um dia passei na casa dele para sairmos para um passeio pela cidade. Costumávamos fazer isso todos os sábados. Gostávamos de andar pela cidade, encontrar alguns amigos, conversar. Lá pelas tantas entrávamos em algum bar, bebíamos umas cervejas (eu bebia, ele não). Ás vezes fazíamos umas serenatas quando um deles trazia um violão, e coisas assim. Isso era moda nos anos sessenta, na nossa então pequena cidade, que ainda era uma prosaica comunidade de interior.
Nesse dia ele tinha um compromisso e não pode sair comigo. Então me despedi dele e fui andando. De repente ele me chamou e disse: “Antes que eu me esqueça, dê um abraço no Neguitinha. Diga a ele para, se puder, dar uma passadinha aqui em casa para a gente bater um papo.”
O Neguitinha era um velho amigo de infância, que crescera conosco no bairro. Desde os nossos primeiros anos de adolescência nós havíamos estabelecido uma sólida amizade, feita de bola, brigas com moleques do outro bairro, travessuras e outras maluquices de infância e adolescência na rua; e na nossa juventude, de andanças pelos bailes e bares da cidade.
Era um bom garoto, “gente fina” como a gente o chamava. Só que ele fora embora da cidade há mais de dois anos e a gente não se via desde então. Em princípio, estranhei a recomendação do meu amigo, mas logo esqueci. Computei como mais uma das suas estranhezas.
Mas fiquei muito perplexo quando entrei no primeiro bar da noite e lá encontrei justamente quem? O Neguitinha.
“Vim matar a saudade dos velhos amigos;” disse ele, com aquele largo sorriso de dentes branquinhos como teclas de piano. “E o Manolo, cadê ele? Onde anda aquele “xarope”?”
Manolo era o apelido do Manuel, nosso amigo que sofria de epilepsia. Bebemos nossa cerveja, matamos a saudade, falamos dos nossos já velhos tempos, e depois acompanhei o Neguitinha até a estação, para ele pegar o último trem que ia para a capital. Ele estava agora morando na Vila Maria, em São Paulo.
Naquela noite levei para a cama a minha perplexidade junto com os vapores da cerveja. Mas nos anos que se seguiram eu tive a oportunidade de presenciar outras estranhezas ocorridas com o meu amigo, sempre relacionadas ás suas crises epiléticas. O engraçado era que essas premonições ocorriam sempre como prenúncio das crises.
O tempo passou e cada um de nós tomou o seu rumo. Eu casei, entrei para o serviço público, fui trabalhar em outro estado. Passei mais de vinte anos sem voltar a minha antiga cidade. Nesse tempo todo não vi mais o Manolo nem o Neguitinha, nem os amigos de antanho. Nem soube o que foi feito deles.
Quando voltei para minha cidade, depois desses vinte e tantos anos, sequer me lembrava mais dos meus velhos companheiros de juventude. A maioria dos nossos bares da época havia fechado, os velhos amigos não mais eram encontrados, tudo estava diferente agora. Nem os cinemas tinham sobrevivido, pois todos haviam fechado. A juventude da cidade se reunia agora nas discotecas e nas praças de alimentação do shopping. Os jardins e as praças públicas onde a gente se reunia para as paqueras de fim de semana eram agora o território dos mendigos e dos viciados em drogas pesadas. Tornara-se perigoso ficar perambulando por esses lugares.
Enfim, depois de algumas tentativas para recuperar o velho ambiente e reviver parte daquelas experiências da juventude, eu também desisti e não pensei mais no assunto. Sepultei a minha nostalgia junto com algumas garrafas de cerveja e resolvi não pensar mais no assunto. Afinal de contas, o meu universo agora era outro.
Uma noite, alguns anos depois, fuçando no meu quartinho de despejo em busca de um antigo livro, encontrei entre os meus guardados uma velha caixa de sapatos com um monte de fotografias antigas. Todas em preto e branco. Uma delas era do nosso time de futebol do bairro. Lembrei-me imediatamente de todos os jogadores daquele nosso esquadrão. A figura do Neguitinha, entretanto, já estava praticamente sumida da foto. Um bolor esbranquiçado, como se fosse uma mancha leprosa tinha tomado o lugar dele. E a figura do Manolo também já estava começando a desaparecer, coberta por uma mancha parecida.
Tive muita dificuldade para reconhecer os outros nove. Inclusive porque as imagens de alguns deles já estavam cobertas por manchas semelhantes e haviam sumido completamente. Não me dei conta, na hora, de que as imagens cobertas pela mancha leprosa eram daqueles que já tinham passado desta para aquela outra que dizem ser melhor, mas que ninguém quer ir espontaneamente.
O episódio do Neguitinha me veio imediatamente à memória. “Que coisa”, pensei. “Como é que o Manolo adivinhou que o Neguitinha ia estar lá justamente naquela noite?” Uma onda de nostalgia me invadiu naquele momento. Há dois anos atrás, eu soubera por um dos nossos antigos colegas que o Neguitinha tinha morrido. Morreu moço. Não tinha feito ainda cinquenta anos.
Naquela noite acordei de madrugada com a campainha do telefone. Uma senhora, que disse se chamar Marta, estava me comunicando que o Manolo havia falecido na noite anterior. Lembrei-me imediatamente da Marta. Tínhamos até ensaiado um namorico na nossa adolescência. Marta era a era irmã caçula dele.
“Levei um tempão para achar você”, disse ela. “Desculpe estar ligando a esta hora, mas um dos últimos nomes que o Manolo pronunciou antes de morrer foi o seu, por isso fiz questão de ligar. Estou á sua procura desde ontem à noite. Ele morreu ás duas horas da manhã.”
Tive a sensação de que meu coração estava sendo apertado pela mão gelada de um cadáver conservado há muitos anos em um freezer. Pois aquela fora justamente a hora em que eu encontrara a velha fotografia no meu quartinho de despejo.
Não sei porque lembrei-me de um conto do Oscar Wilde, chamado “O Retrato de Dorian Gray”. Só para desencargo de consciência, fui correndo ao quartinho, peguei a velha foto do time e meti fogo nela sem olhar. Estava morrendo de medo de ver que a imagem do Manolo também tivesse desaparecido dela e que o bolor já estivesse começado a comer a minha.
Não era uma coisa bonita de se ver. A impressão que dava era que ele estava recebendo um espírito. Quem já foi a um centro de umbanda, desses que lidam com candomblé, sabe do que estou falando. Os “cavalos” que recebem um “caboclo” perdem a consciência de si mesmo, ficam se contorcendo como lagartixas feridas, fazem caretas horrendas, transpiram como demônios alimentando fornalhas, bebem litros inteiros de cachaça barata como se fosse água mineral, fumam charutos infectos sem demonstrar qualquer sensação de náusea, e por ai adiante. É como se uma região inteira de seus cérebros tivesse sido amortecida para mitigar parte da sua neurologia. Ou quem sabe ocupada mesmo por uma entidade estranha, que em vida era apreciadora dessas especiarias.
Quando o meu amigo tinha esses ataques as pessoas normalmente se afastavam e ficavam com medo. Poucos sabiam o que fazer quando isso acontecia. “O cara está tendo um troço”, diziam uns. “Ele bebeu demais”, diziam outros. E deixavam o cara estrebuchando no chão, se afogando na própria baba. E ele nem bebia.
Epilepsia é uma doença emblemática. Dizem que muitos personagens históricos a tiveram. Alexandre, o Grande, e Júlio César entre eles. Machado de Assis e Napoleão Bonaparte também. Até o nosso imperador D. Pedro I sofria de epilepsia, herdada do lado materno de sua família e antes dos 18 anos já tinha sofrido seis crises. Van Gogh, o polêmico pintor holandês, foi outro artista que sofria desse mal, mas segundo se dizia, era após as crises que vinham as inspirações para pintar as telas que o fizeram famoso.
Tudo gente importante, que escreveu páginas gloriosas na História. Por isso, nos antigos tempos ela era chamada de doença dos deuses. Ou dos demônios, porque suspeitava-se que as crises eram causadas por espíritos malignos que incorporavam nas pessoas. Há quem diga, inclusive que os tais endemoninhados que Jesus exorcizou, eram na verdade, pessoas epilépticas que ele, um essênio versado e treinado em práticas terapêuticas, sabia tratar. Os sintomas descritos combinam. Visões, premonições, alucinações, surtos psicóticos, e aí por diante.
Também não é sem razão que alguns estudiosos sustentam que os profetas bíblicos e os grandes videntes da história também sofriam de epilepsia. Nostradamus principalmente. E que suas visões eram devidas a essa doença. Não sei não, mas há algumas estranhezas ligadas com esse mal. Dizem que a mulher de Júlio César teve a premonição de que alguma coisa aconteceria ao seu marido naquele fatídico dia dos idos de março de 44 a.C, quando ele se preparava para ir ao Senado defender a sua pretensão à ditador. Que ela sonhou com o seu assassinato. Shakespeare conta essa história em sua famosa peça de teatro. Alexandre, o Grande, também teria previsto o resultado da maioria das suas batalhas antes mesmo de as ter lutado. Hitler, que se não era epilético estava muito perto disso, confessou aos seus amigos mais próximos, que um demônio (um superior desconhecido, na versão dele) o visitava e inspirava a maioria das suas ideias.
Enfim, são histórias da História. Pode-se crer nelas ou não. Mas o meu amigo me deu provas de que alguma coisa estranha acontece no cérebro de quem sofre dessa doença. Um dia passei na casa dele para sairmos para um passeio pela cidade. Costumávamos fazer isso todos os sábados. Gostávamos de andar pela cidade, encontrar alguns amigos, conversar. Lá pelas tantas entrávamos em algum bar, bebíamos umas cervejas (eu bebia, ele não). Ás vezes fazíamos umas serenatas quando um deles trazia um violão, e coisas assim. Isso era moda nos anos sessenta, na nossa então pequena cidade, que ainda era uma prosaica comunidade de interior.
Nesse dia ele tinha um compromisso e não pode sair comigo. Então me despedi dele e fui andando. De repente ele me chamou e disse: “Antes que eu me esqueça, dê um abraço no Neguitinha. Diga a ele para, se puder, dar uma passadinha aqui em casa para a gente bater um papo.”
O Neguitinha era um velho amigo de infância, que crescera conosco no bairro. Desde os nossos primeiros anos de adolescência nós havíamos estabelecido uma sólida amizade, feita de bola, brigas com moleques do outro bairro, travessuras e outras maluquices de infância e adolescência na rua; e na nossa juventude, de andanças pelos bailes e bares da cidade.
Era um bom garoto, “gente fina” como a gente o chamava. Só que ele fora embora da cidade há mais de dois anos e a gente não se via desde então. Em princípio, estranhei a recomendação do meu amigo, mas logo esqueci. Computei como mais uma das suas estranhezas.
Mas fiquei muito perplexo quando entrei no primeiro bar da noite e lá encontrei justamente quem? O Neguitinha.
“Vim matar a saudade dos velhos amigos;” disse ele, com aquele largo sorriso de dentes branquinhos como teclas de piano. “E o Manolo, cadê ele? Onde anda aquele “xarope”?”
Manolo era o apelido do Manuel, nosso amigo que sofria de epilepsia. Bebemos nossa cerveja, matamos a saudade, falamos dos nossos já velhos tempos, e depois acompanhei o Neguitinha até a estação, para ele pegar o último trem que ia para a capital. Ele estava agora morando na Vila Maria, em São Paulo.
Naquela noite levei para a cama a minha perplexidade junto com os vapores da cerveja. Mas nos anos que se seguiram eu tive a oportunidade de presenciar outras estranhezas ocorridas com o meu amigo, sempre relacionadas ás suas crises epiléticas. O engraçado era que essas premonições ocorriam sempre como prenúncio das crises.
O tempo passou e cada um de nós tomou o seu rumo. Eu casei, entrei para o serviço público, fui trabalhar em outro estado. Passei mais de vinte anos sem voltar a minha antiga cidade. Nesse tempo todo não vi mais o Manolo nem o Neguitinha, nem os amigos de antanho. Nem soube o que foi feito deles.
Quando voltei para minha cidade, depois desses vinte e tantos anos, sequer me lembrava mais dos meus velhos companheiros de juventude. A maioria dos nossos bares da época havia fechado, os velhos amigos não mais eram encontrados, tudo estava diferente agora. Nem os cinemas tinham sobrevivido, pois todos haviam fechado. A juventude da cidade se reunia agora nas discotecas e nas praças de alimentação do shopping. Os jardins e as praças públicas onde a gente se reunia para as paqueras de fim de semana eram agora o território dos mendigos e dos viciados em drogas pesadas. Tornara-se perigoso ficar perambulando por esses lugares.
Enfim, depois de algumas tentativas para recuperar o velho ambiente e reviver parte daquelas experiências da juventude, eu também desisti e não pensei mais no assunto. Sepultei a minha nostalgia junto com algumas garrafas de cerveja e resolvi não pensar mais no assunto. Afinal de contas, o meu universo agora era outro.
Uma noite, alguns anos depois, fuçando no meu quartinho de despejo em busca de um antigo livro, encontrei entre os meus guardados uma velha caixa de sapatos com um monte de fotografias antigas. Todas em preto e branco. Uma delas era do nosso time de futebol do bairro. Lembrei-me imediatamente de todos os jogadores daquele nosso esquadrão. A figura do Neguitinha, entretanto, já estava praticamente sumida da foto. Um bolor esbranquiçado, como se fosse uma mancha leprosa tinha tomado o lugar dele. E a figura do Manolo também já estava começando a desaparecer, coberta por uma mancha parecida.
Tive muita dificuldade para reconhecer os outros nove. Inclusive porque as imagens de alguns deles já estavam cobertas por manchas semelhantes e haviam sumido completamente. Não me dei conta, na hora, de que as imagens cobertas pela mancha leprosa eram daqueles que já tinham passado desta para aquela outra que dizem ser melhor, mas que ninguém quer ir espontaneamente.
O episódio do Neguitinha me veio imediatamente à memória. “Que coisa”, pensei. “Como é que o Manolo adivinhou que o Neguitinha ia estar lá justamente naquela noite?” Uma onda de nostalgia me invadiu naquele momento. Há dois anos atrás, eu soubera por um dos nossos antigos colegas que o Neguitinha tinha morrido. Morreu moço. Não tinha feito ainda cinquenta anos.
Naquela noite acordei de madrugada com a campainha do telefone. Uma senhora, que disse se chamar Marta, estava me comunicando que o Manolo havia falecido na noite anterior. Lembrei-me imediatamente da Marta. Tínhamos até ensaiado um namorico na nossa adolescência. Marta era a era irmã caçula dele.
“Levei um tempão para achar você”, disse ela. “Desculpe estar ligando a esta hora, mas um dos últimos nomes que o Manolo pronunciou antes de morrer foi o seu, por isso fiz questão de ligar. Estou á sua procura desde ontem à noite. Ele morreu ás duas horas da manhã.”
Tive a sensação de que meu coração estava sendo apertado pela mão gelada de um cadáver conservado há muitos anos em um freezer. Pois aquela fora justamente a hora em que eu encontrara a velha fotografia no meu quartinho de despejo.
Não sei porque lembrei-me de um conto do Oscar Wilde, chamado “O Retrato de Dorian Gray”. Só para desencargo de consciência, fui correndo ao quartinho, peguei a velha foto do time e meti fogo nela sem olhar. Estava morrendo de medo de ver que a imagem do Manolo também tivesse desaparecido dela e que o bolor já estivesse começado a comer a minha.