Caçador (estória completa e ampliada)

Francisco era um moto boy. Um entre tantos que cruzam Belo Horizonte diariamente levando e trazendo encomendas. Só que Francisco tinha um segredo. Dentro de seu crânio havia um chip de identificação instalado. Este chip fora implantado em seu cérebro ao nascer. Desde tenra idade ele fora treinado. Ao completar 20 anos fora transportado através do tempo ao remoto ano de 1991. Nesta época atrasada, munido de memórias de uma infância que nunca existira ele viera cumprir a sua missão. Francisco era um caçador de alienígenas.

Em seu tempo a Terra estava devastada por uma guerra contra alienígenas que haviam se infiltrado na sociedade humana quase 300 anos antes. Estes alienígenas haviam se infiltrado de forma insidiosa. Por três séculos eles se entranharam nas estruturas sociais humanas para enfim darem seu golpe. O ataque foi massivo e destruidor, bem colocados quase ¼ da população da Terra foi massacrada. Durante 20 anos a batalha prosseguiu encarniçada. Na primeira década, após muitas baixas, os cientistas descobriram o porquê de determinadas pessoas atacarem sem nenhum motivo outras pessoas. Descobriram que os alienígenas exalavam um feromonio que os distinguia dos humanos. Excetuando-se este detalhe, externamente eram idênticos aos humanos. Isto propiciou que a luta ganhasse contornes de guerra e não mais de guerrilhas, quando as pessoas não sabiam se seu vizinho era um inimigo ou não.

Entretanto o estrago feito pelos aliens já tinha se concretizado. As baixas do lado humano eram absurdas. Foi então que um grupo de cientistas do CERN aventou a possibilidade de um ataque em outra frente.

Voluntários seriam arremessados no passado. Suas memórias alteradas para se adequarem a época pregressa. Estes voluntários seriam kamikazes, uma vez arremessados no passado não poderiam voltar ao futuro. Seriam exilados em uma época distante, sem nenhuma chance de voltar.

Inicialmente tentaram com soldados voluntários, mas estes não suportaram a pressão de abandonar tudo que tinha e conheciam. Sendo assim decidiram partir para utilização de crianças em tenra idade. Desta forma o cérebro se adaptaria melhor a colocação do chip identificação, um chip que quando em proximidade de aliens gerava uma onda de dor de avisava seu portador da presença nociva. Desde cedo eram treinados nas artes do combate, educados para viverem para a missão. Aos 20 anos, suficientemente maduros física e emocionalmente eram arremessados pela lançadeira.

A lançadeira era a maquina que permitia a viagem no tempo. Uma das limitações era que só se podia viajar no tempo em um sentido, em direção ao passado. A outra limitação é que somente o tecido vivo conseguia viajar no tempo. Isto causara algumas mortes, até criarem o chip biológico.

A lançadeira ocupava o equivalente a um campo de futebol. Sua forma em Y com um tubo de fluxo saindo de cada perna do Y levara a um cientista brasileiro a chamá-la de estilingue, acabou ganhando o apelido de lançadeira.

Assim como Francisco, 5620 caçadores foram arremessados. Nenhum caçador conhecia o outro, por motivo de segurança. Cada um foi mandado a uma cidade que fora identificada com o foco inicial de invasão.

Tudo isto passou rapidamente pela cabeça de Francisco ao para no sinal. Uma agulhada forte na base do crânio. Ele olhou ao redor, uma loira bonita olhava fixamente para ele. A dor ficou mais forte. Ele soube. Era ela. Mais um alien

Francisco levantou a viseira e piscou maroto para a loira, ela abriu um meio sorriso. Francisco já estava com 40 anos, mas ainda não perdera a mão. Os aliens comportavam-se tudo por tudo como humanos normais. E este comportamento “normal” ajudava Francisco a pega-los. Ele não sabia como os outros caçadores faziam, onde estavam ou quem eram. Fazia seu trabalho e rezava para que estivesse ajudando.

A loira fez um movimento de cabeça o convidando a parar. Francisco não se fez de rogado.

Papo vai, papo vem e em pouco tempo estavam no apartamento da loira.

A dor de cabeça era absurda. Mas anos de treinamento haviam lhe ensinado a controlar a sensação de náuseas.

Conversaram durante algum tempo. Ela contando algum assunto que simplesmente Francisco não conseguia focar. A dor era imensa. Ela então lhe disse que ia vestir algo mais confortável.

Dirigiu-se languida para o quarto. Os quadris bamboleando luxuriosos. Assim que ela entrou no quarto, Francisco levou a mão à base de sua coxa, com um movimento rápido sacou uma bainha de couro. Do cano da bota sacou uma empunhadura de borracha e com movimentos rápidos e precisos casou as duas peças e com um movimento silenciosos transformou as duas peças numa única e mortífera faca.

Silencioso com um gato dirigiu-se à porta do quarto. A porta estava destrancada. Num movimento súbito a empurrou. A mulher estava de calcinha e soutien, procurando algo na gaveta.

Francisco atirou-se sobre ela como um tigre dentes de sabre.

A mulher gritou alto. Mas o grito durou pouco. A lâmina encontrou sua garganta deixando um rastro de sangue na parede do quarto.

Ela tombou gorgolejando com as mãos na garganta. Francisco olhou para o corpo nos estertores finais. Lentamente posicionou-se ao lado da mulher. Os olhos já ficando baços pela morte. Francisco sabia que seu serviço ainda não estava completo. Usando toda sua força cravou sua faca na região pubiana. Mais sangue esguichou. Usando as duas mãos arrastou a faca na direção do umbigo e continuou subindo, a faca cortando carne, gordura, intestinos. Ao romper os intestinos um cheiro nauseabundo de fezes empesteou o quarto, isto não incomodou Francisco. Ele fizera isto tantas vezes que nem se lembrava mais. Forçou até a base do pescoço. Retirou a faca e com bastante força enfiou a mão na cavidade torácica.

O quarto mais se assemelhava a um matadouro agora. Um cheiro azedo de sangue coagulando, fezes e suor.

O coração ainda quente gotejava sangue nas mãos de Francisco. Lentamente ele o retalhava para evitar que o alien pudesse se transportar a outro corpo.

Depois do trabalho no coração ele começou metodicamente a retalhar o corpo. Era preciso que o estrago fosse total para destroçar a ligação energética do alien com o corpo. Ele não sabia por que esta ligação era rompida com a mutilação, mas fora treinado para fazê-lo, e assim fazia. Ele estava retalhando as coxas da loira quando o quarto foi invadido por meia dúzia de policiais.

A cabeça de Francisco parecia que ia estourar de dor. Todos eram aliens.

A reação foi instantânea. Ele saltou como uma mola. A faca mirando o peito do policial mais próximo.

Infelizmente, para Francisco, a lamina chocou-se com o recheio do colete a prova de bala capaz de resistir ao impacto de uma 44 a queima roupa. Por um segundo a lamina curvou se num arco impossível e então se fraturou em dezenas de pedaços. Francisco caiu amortecendo a queda e rolando para a direita. Num movimento rápido de capoeira vibrou o pé calçado com a bota de bico de aço no rosto do policial. Ouviu-se o som seco de ossos e cartilagem sendo esmagados. O policial caiu segurando o nariz enquanto uma cachoeira de sangue escorria entre seus dedos. Antes de colocar o pé no chão Francisco girou o corpo como um gato e impulsionando o corpo com as mãos arremeteu contra o outro policial dando-lhe um cutilada na traqueia causando esmagamento instantâneo. Levantous- de um salto e apanhou uma lata de desodorante na penteadeira da loira e sacando um isqueiro Zipo do bolso transformou a lata num lança-chamas improvisado, disparando um jato bem no rosto do policial que já erguia o cassetete para atingi-lo. O urro do policial foi imenso, o que só piorou a situação uma vez que o jato do spray atingiu em chei sua boca a enchendo de fogo, queimando tudo.

Se fossem poucos guardas com certeza teria escapado. Mas eram muitos. Quando começava a virar-se tomou um cutucão na altura dos rins de um cassetete elétrico. Desmontou na hora com tremores incríveis. Uam saraivada de botas táticas providenciou um farta chuva de chutes. De relance viou quando uma lhe atingiu em cheio no rosto. Sentiu o nariz partir-se e uma dor lancinante. Antes de desmoronar definitivamente.

Neste instante entraram no quarto dois enfermeiros carregando uma camisa de força e rapidamente amarraram Francisco.

Um dos guardas lhe aplicou um novo forte chute na cara.

Sentindo-se deslizar para a inconsciência Francisco ainda ouviu um dos guardas conversando com o enfermeiro.

- Espero que desta vez vocês o prendam bem no manicômio judicial. Eu o conheço desde criança. Sempre teve estes delírios de ser de outro tempo. Mas a morte dos pais agravou muito a situação.

O policial olhou para o corpo da moça na cama.

- Pobre garota. Vítima indefesa de um louco.

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Francisco olhava com olhos vazios para sua cela no manicômio judicial. Já não tinha mais noção de há quanto tempo se encontrava encerrado entre aquelas paredes. Dias, semanas meses ou anos. Tanto fazia. Todos os dias ele se lembrava de cada crime que cometera, quando ainda sob jugo de seus delírios.

Quando ainda acreditava que era um caçador do futuro, matando aliens infiltrados na humanidade num plano secular de infiltração e conquista da Terra.

Lagrimas grossas rolaram por sua face. O pior é que as lembranças continuavam. Os médicos, dia após dia lhe lembravam de sua infância, dos amigos de escola, de seus pais (mortos num acidente de moto), namoradas antigas e recentes. Mas a maldita fantasia continuava lá brigando para tomar o controle. Ele sabia que este negocio de viagem no tempo era um delírio. As dores de cabeça eram fruto de um tumor que cedo ou tarde acabaria por matá-lo. Os remédios do sanatório aliviaram as dores de cabeça.

Mas era só começar o tratamento com o psiquiatra responsável que elas voltavam. Agora não tão excruciantes, graças aos poderosos analgésicos, mas ainda bem incômodas.

O médico falava de sua infância e adolescência e lhe pedia para narrar o máximo que pudesse de sua fantasia. Ele dizia que quanto mais pontos falhos achassem, mais fácil seu subconsciente aceitaria que era uma fantasia.

Mas malgrado toda a boa vontade de Francisco, quanto mais falava, mais seus delírios pareciam coerentes. E esta certeza lhe dizia que a loucura havia cravado suas presas frias em sua alma. À noite após exaustiva sessão em que o psiquiatra lhe fizera falar por horas seguidas sobre o seu treinamento no “futuro”, sobre a organização da resistência e sobre a lançadeira, Francisco encolhia-se em seu canto e chorava. O delírio não arredava pé, não cedia um milímetro e Francisco sabia que sua sanidade estava perdida. Este laivo de razão era pior ainda, pois sabia que era insano como toda a consciência possível.

...

A porta da cela acolchoada se abriu sem ruído. Francisco olhou intrigado para a médica que adentrou. Uma senhora de seus 60 anos, mas ainda assim transmitindo uma sensação de vigor.

- Boa noite Francisco Henrique Rocha.

Sua voz tinha uma firmeza e suavidade cativante. Francisco teve a impressão que a conhecia. Mas não conseguia precisar de onde. Esta incerteza lhe gerou medo. Será que estava tendo outro surto? Sua cabeça não doía.

- Boa noite doutora... ele deixou a frase no ara aguardadno que lea se apresentasse.

- Amélia. Amélia Meirelles. Gostaria de conversar com você sobre a sua historia da viagem no tempo.

- Doutora me desculpe, mas já conversei com o doutor Julio a tarde toda. Estou muito cansado e sinceramente se fosse possível gostaria é de esquecer esta loucura.

- Suas dores de cabeça como estão. Continuo a médica sem dará atenção ao seu comentário

- Os analgésicos estão ajudando bem. Na maior parte do tempo quase não sinto, só em alguns momentos é que leas voltam bem fortes.

- Quais momentos Francisco ?

Ela o olhava com olhos incisivos e , talvez, uma certa expectativa ? Francisco achou que estava imaginando coisas.

- Be doem bastante durante as sessões com o doutor Julio. Mas ele já me explicou que é meu subconsciente tentando evitar a verade, daí esta repulsa se traduz em dor física. Mas estou tomando meus analgésicos direitinho.

- Sua cabeça esta doendo agora ?

- Não, não está.

- FRANCISCO HENRIQUE ROCHA, COM BASE NA PRERROGATIVA 235-07 LHE ORDENO QUE SE RECOMPONHA E APRESENTE-SE DE FORMA ADEQUADA NA PRESENÇA DE UM OFICIAL SUPERIOR.

Francisco saltou de sua cama na parede como se fosse um boneco de mola, ereto com um cabo de vassoura, a mão direita numa continência perfeita. O polegar dobrado tocando a ponta da sobrancelha.

Por um segundo ele estacou na posição e depois caiu sobre a cama.

- Não adianta. Estou realmente louco doutora. Acredito tanto nesta loucura que reajo como se fosse verdade.

Amélia sentou-se ao seu lado, passou o braço ao redor de seu ombro e falou suavemente ao seu ouvido.

- Você não está louco Francisco, Eu também vim do futuro.

- Mas, mas...

Sua cabeça começou a girar. Francisco sentiu um engulho lhe subir à garganta e as vistas escurecerem. O doutora Amelia o amparou e lhe deu uma sacudidela. Totalmente incompatível com uma senhora de 60 anos.

- Sem mas caçador. Vamos sair daqui e eu lhe conto a verdade. A única e crua verdade.

- Mas...

- Nem mas nem meio mas. Vai desacatar uma ordem direta de um oficial?

Francisco pensou por um instante e bem... Quando se está no inferno, abrace o capeta. Lentamente sentiu seu cérebro escorregar para aquela “realidade”, aquele mundo em que ele era um vingador da raça humana, um herói solitário. Um mundo em que ele fazia a diferença.

E se sentiu incrivelmente bem.

Amélia lhe entregou uma muda de roupas. Ele vestiu-se ali mesmo. Ainda que um pouco embaraçado por se despir diante de uma mulher.

Estranho, por suas lembranças tivera muitas namoradas, inclusive algumas bem amis velhas que ele. Não deveria se sentir tão embaraçado.

- Você se sente embaraçado porque nunca teve uma namorada sequer neste tempo. As lembranças deste tempo são falsas, as do futuro é que são reais.

Ela falava com uma certeza, uma firmeza inabalável. Francisco estava cada vez mais confuso. E foi confuso que a acompanhou pelos corredores do manicômio, temendo a cada instante encontrar um vigia. Temendo as assustadoras sessões de eletro-choque a que eram submetidos os pacientes recalcitrantes. Mas extraordinariamente não encontraram ninguém.

- Onde estão os vigias?

- Eu trabalho aqui há 30 anos Francisco. Venho reorganizando os horários de ronda a mais de seis meses. Estamos nos movendo por entre as trocas de turno.

- Espere, espere. 30 anos, seis meses???? Isto não faz sentido. Eu só fui preso há quatro meses e mesmo em meus delírios, eu sei que fui lançado aqui há vinte anos. E fui parte da primeira missão de caçadores. Você não poderia estar aqui há 30 anos!

- Eu não vim na sua missão Francisco. Fui lançada 20 anos após sua partida, mas fui enviada 20 anos antes de sua chegada para poder lhe salvar. Quando chegarmos à minha casa você entenderá.

A cabeça de Francisco estava dando um nó. A sensção de náusea voltou mais forte ainda, e ele cambaleou mais uma vez. Teve que parar por um instante apoiado na parede. Ai não teve jeito. Uma golfada de vomito leitoso jorrou por sua boa e narinas, deixando lhe um gosto e cheiro azedo na boca e narinas, enquanto um fio de baba escorria-lhe pelo queixo, terminando por pousar-lhe no peito como um ponto de exclamação.

Amelia sacou de uma bolsa que trazia à tiracolo uma toalha de microfibra e rapidamente limpou o chão.

- Devemos deixar o minimo de vestígios de nossa passagem. Não podemos lhes facilitar nada.

- Desculpe, não consegui me controlar.

- Tudo bem, é reflexo do contra medicamento que lhe administrei pela manhã.

- Voce me medicou ? Eu nunca te vi antes.

Aquilo estava cada vez mais confuso.

- Eu estou contrabalanceando os analgésicos que estavam lhe dando a uma semana. Nunca pessoalmente é claro.

- É claro. Respondeu Francisco de forma automática.

- Eu sei que é confuso, mas devemos continuar. Nosso tempo esta acabando.

Amparado no ombro de Amelia chegaram rapidamente ao estacionamento.

A lufada de ar fresco da noite foi como uma injeção de adrenalina no corpo de Francisco. O leve frio da noite lhe deixou os pelos dos braços eriçados. Ele aspirou fundo o ar noturno. Mesmo com o cheiro azedo de vomito ainda nas narinas lhe pareceu o melhor cheiro de toda a sua vida.

Suas forças voltaram rapidamente.

Amélia acionou um chaveiro e um carro esporte preto piscou os faróis a menos de 20 metros deles.

- Vamos, não vai demorar para darem o alarme. Devemos sair sem chamar a atenção.

Francisco olhou para o alto e pde ver uma câmera de segurança apontando diretamente para eles.

Amelia seguiu seu olhar e sorriu.

- Eu preparei as câmera a uma semana.

- Claro, nem sei por que não pensei nisto.

Francisco já estava começando a achar aqui tudo muito suspeito. Ninguém consegue prever todas as situaçãoes, e vlha-me Deus. Que mulher carrega um pano de microfibra de limpara chão na bolsa !!!!

- Não se assuste com minhas “previsões dos acontecimentos”. Um dos legados que você vai deixar par ao futuro será a descrição detalhada, passo a passo, de como saímos do sanatório.

- Então nós vencemos a guerra ?

- Na verdade isto é nebuloso. Quando me lançaram para te salvar o último registro que conseguimos resgatar foi de sua fuga. Depois disto você não documentou mais nada. Acreditamos que para que eles não pudessem também prever os seus passos como eu fiz, caso encontrassem os seus registros

- Entendo. Faz sentido.

- Como faremos para passar pelo portão. Da guarda.

- O segurança da noite é um contratado meu. Assim que sairmos ele vai lacarar os portões e sumir no mundo.

A viagem demorou cerca de uma hora. Francisco ia calado e Amélia concentrada no transito. A casa de Amélia ficava na região noroeste de Belo Horizonte. Assemelhava-se a um pequeno sítio com muitas árvores e a frente da casa protegida de olhares curiosos por uma cerca viva feita de hibiscos.

A casa de forma alguma parecia o QG de uma guerra temporal contra alienígenas.

Amélia conduziu Francisco para o interior da casa, e após trancar a porta acionou um sistema de alarmes.

- Bem, creio que tem algumas perguntas caçador Francisco. Podemos conversar.

Francisco olhou ao redor. A sala era mobiliada com bastante bom gosto. Uma mesa de centro com edições da Nova cosmopolitan, um sofá branco um tapete com motivos geométricos de cor clara, quadros de arte moderna na parede, um TV de 42”. Tudo de muito bom gosto.Na paredeoposta à porta viam-se diversos diplomas e certificados. Uma estante longa com volumes ricamente encadernados.

À direita um bem sortido bar com uma duzi aou mais de garrafas de cristal. Todas cheias. À direita uma mesa de trabalho com um laptop finíssimo.

Francisco desabou no sofá sentindo todo o peso da tensão daquela noite lentamente se infiltrando em seus ossos.

Jogou a cabeça para tras e respirou fundo. O Cheiro do vomito quase tinha desaparecido.

- Bem – disse Francisco- primeiro me explique como você está aqui 10 anos antes de mim e estava preparando minha fuga há seis meses. Dois meses antes de eu ter sido preso.

Amélia deu um longo suspiro. Sentou-se no sofá imaculadamente branco, convidando Francisco a aproximar-se.

- Quando o primeiro e único grupo de caçadores foi lançado no passado (sim vocês foram o único grupo de caçadores já enviados), acreditamos que iríamos ganhar a guerra. Do nada centenas, milhares de aliens desapareciam das frentes de batalha como se nunca tivessem existido. Cada vez que um de vocês matava um antepassado aqui dezenas e às vezes centenas de aliens desapareciam em nosso tempo.

O terror se instalou nas linhas de combate alien. Dos nada pelotões e regimentos inteiros desapareciam durante batalhas. Infelizmente a natureza humana nunca muda. Um dos cientistas do projeto lançadeira se vendeu para o lado alien.

Construiu um aparelho similar a lançadeira. Mas não sabiam onde lançar os seus agentes. Então construiu um aparelho chamado chrono rastreador. Este aparelho rastreava os caminhos de usas ações.

- Como assim rastreavam os caminhos? Estamos agindo a três séculos no passado.

- O que ocorre é que a cada vez que um dos aliens do passado era morto a ação propagava-se para o futuro em uma arvore genealógica. Através deste “rastro energético” eles conseguiram encontrar e dizimar todos os caçadores, exceto um.

- Eu ?

- Exatamente. Não sabemos bem porque, mas você conseguiu se manter atuando por duas décadas. O estrago que você causou nas linhas inimigas foi monstruoso. Eles centraram todos os recursos que tinha em voe. Despacharam contingentes para te caçar. É incrível que tenha escapado ileso por tanto tempo.

- Realmente, algumas vezes senti concentrações de aliens muito maiores que o normal. Mas nunca desconfiei de nada. Por inúmeras vezes escapei por um triz.

- Sim. Não sabemos por quê. Mas você foi o único que escapou. E devido aos ataques contínuos perdemos a nossa lançadeira e o cientista traidor levou consigo os planos. Eu fui arremessada numa tentativa suicida. Mas sabíamos que bem sucedido ou não o meu salto, a lançadeira não arremessaria mais nada.

- Entendo. Então você veio para me libertar e me ajudar?

- Sim para a primeira parte e sim e não para a segunda.

- Como assim?

- Vim para lhe libertar. Mas quanto a lhe ajudar vim fazê-lo de uma forma diferente da que você imagina.

- Como assim.

- Voe é o único caçador que restou. Eu fui treinada durante toda a minha vida para memorizar fatos e datas que lhe possam ajudar. Tudo esta gravado em um computador de grande porte no subterrâneo desta casa. Isto lhe fornecerá subsídios para se manter um passo a frente deles. Entretanto você vai precisar de armas mais eficientes. Destrinchar um corpo é demorado. Por isto eu trouxe um desruptor de plasma.

- Voces conseguiram arremessar matéria inorgânica?

- Infelizmente não.

- Mas você acabou de dizer...

- Disse que trouxe. Partes de meu esqueleto e órgãos internos foram substituídas por peças do desruptor. Você terá que montá-lo.

Francisco olhou-a estarrecido.

- Mas isso significa que teria de matá-la!

- Não meu amigo. Eu lhe poupei deste problema. Quando entrei na casa eu tomei uma dose de veneno. Dentro de instantes eu estarei morta. É meu último sacrifício pela nossa causa. Por uma humanidade livre. No computador existem todas as informações de resultados de jogos e cotações da bolsa dos próximos 50 anos. Tudo que você vê aqui foi transferido para o seu nome. Na garagem existem dois carros blindados e preparados para você alem de duas motos de 1000cc. No computador encontrará também, indicações de depósitos de armas espalhados pela cidade e pelo mundo, usue-as.

- Uma pequena doação. Um pequeno sacrifício. Mas você meu amigo terá que me desossar e destrinchar.

- Não há outra forma doutora, outra saída ?

- Francisco, no futuro eu lhe idolatrava. Durante minha adolecesscina nas trincheiras escrevi poemas para você .

Ela riu baixinho. Sua voz começava a ficar mais fraca.

- Para mim.

- Sim senhor Francisco. Metada das meninas nas trincheiras suspiravam por você. O herói solitário. O grande lutador.

Francisco riu.

- Eu nunca imaginei...

- Shhh. Já esta escurecendo. O veneno não me causará dor. Só segure minha mão. Não quero morrer sozinha.

- Pode deixar, não vou sair daqui.

Enquanto falava sua voz foi lentamente baixando.

- FRANCISCO HENRIQUE ROCHA, você é agora a única esperança da humanidade. Não falhe...

Sua última frase saiu como um sussurro de uma brisa, mas retumbou como um trovão.

E Ali , no sofá imaculadamente branco um senhora de sessenta anos vinda de um futuro distante morreu nos braços de seu herói. Francisco fecho carinhosamente seus olhos e a pousou delicadamente no sofá.

Francisco a olhou por um longo tempo. Depois dirigiu-se à cozinha. Sobre a mesa estava uma faca de açougueiro e colada a nela um bilhete.

“NÃO DEIXE NENHUM ESCAPAR. Com amor AMÉLIA”

Francisco caminhou lentamente até a sala, a cada passo relembrando o futuro e o qu estava em jogo. Na sala quedou-se po um instante admirando a coragem daquela mulher que ele nunca havia conhecido, mas que o amara tanto a ponto de dar a vida para salva-lo. Dará a vida para salvar toda a humanidade. O peso desta responsabilidade o fez prender o folego por um instante, pensando e repensando tudo o que viera e que estava por vir.

Soltou um longo suspiro, sentou-se a mesa e escreveu detalhe por detalhe a sua fuga com Amelia do sanatório e a arquivou num lugar seguro, sabendo que seria encontrada pelos seus pares.

Olhou mais uma vez para o semblante tranquilo de Amelia e quando fez a primeira incisão em seu corpo já imaginava a visitinha que faria ao sanatório e a um certo psiquiatra que lhe causava dores de cabeça terríveis durante as seções.

A caçada recomeça.

Longshot
Enviado por Longshot em 02/03/2016
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