Filler de AMF - As trevas que se perpetuam em um terrível pesadelo

Eu estava encurralado, dentro de um beco frio e escuro. Nada havia por lá, exceto baldes e caçambas de lixos completamente lotadas. Restos de resíduos orgânicos e não inorgânicos estavam espalhados por toda parte, tornando aquele ambiente perfeito para um completo punk desgarrado que odeia e enfiar de baixo de um chuveiro.

Mas voltando ao desespero pela luta para com a sobrevivência, lá estava eu, sorrateiramente me ocultando em meio as caçambas de lixo como um rato desesperado, ofegante, com alguns ralados nos braços e no rosto, e puta que pariu, segurando uma maldita cruz, que por sinal, não conseguiria soltá-la de jeito nenhum. Mas que merda!!! Aquela coisa realmente estava colada em minha mão!!! Saia de mim!!!

De repente, apareceram umas criaturas totalmente diferenciadas de qualquer ser vivente que eu já vistes. Uma mistura de bizarro com monstruosidade; não pareciam humanos, mas andavam como tal. Não falavam, murmuravam, e emanavam um cheiro podre de enxofre e carne podre. Carne podre de cadáver em decomposição, aquela decomposição de sétimo dia dentro de um caixão enterrado em uma cova bem profunda. Quem já esteve no IML do inferno sabe do que estou falando. Que porra era aquilo?!

Alguns pularam do mais alto prédio de DF, que se perdiam na visão dos olhos de humanos comuns. Por que essa merda está acontecendo comigo?! E minha última memória era de que eu estava do outro lado do continente, ajudando Valêntulus, Morgan e aquele prego do Zood Keane, que por sinal, me apunhalou pelas costas, de novo.

Nem deu tempo de pensar em mais uma merda ou clemência, quando uma dessas criaturas me agarrou pelas costas. Agarrou nada, me prendeu com suas garras como se fosse um demônio gigante, aquele parecido que enfrentei na porta do Imperial Satãn.

- Caramba!!! – pensei eu – isso de novo?! Vá tomar no cu!!!

Começaram a me morder e arrancar minha pele. Estavam me devorando. A dor era real. Muito real. Me esperniava agonizando de forma totalmente assustadora e necrótica. Queria sair daquilo à todo custo... usei todas as forças de meu fraco e quase devorado corpo... e em um ato de desespero, clamei por Deus, pedi a Deus - Deus, me ajuda! Uma última e desesperada tentativa, comecei a lembrar das palavras de Moon Rath: - Ore! - tinha mencionado! Comecei uma oração, mesmo que mentalmente e...

- Aaaaaaaahhhh... - erguei-me da cama, totalmente suado, com os cabelos sobre os olhos... gritei e expirei tudo o que podia para fora, com o rosto totalmente pálido e assustado ao mesmo tempo. – Caramba! – pensei eu – que merda foi aquela!!! Coloquei à mão em meu rosto, esfregando à região de meus olhos, pensando naquele sonho bestial e insano.

Depois de alguns minutos, criei coragem e levantei-me da cama, e com passos sonolentos comecei a caminhar até o banheiro. De alguma forma, tinha de ver minha cara feia no espelho. Era sagrado fazer isso ao acordar.

A porta, meio escorada, abri por completa. Fiquei de frente o espelho, abri a torneira enchi as duas mãos de água e joguei sobre meu rosto. Sabia que não iria conseguir mais dormir, então, não vou ficar com cara de preguiça despertada que acabará de acordar. Sendo assim e já aceitando meu destino de não mais dormir naquela noite, veio o pensamento:

- Não é a primeira vez que tenho esse maldito pesadelo. Eu sai da clínica e ainda continuo tendo os mesmos problemas ao dormir. Achei que seria cabível, parar de trabalhar com defuntos, pra diminuir o estresse, a pressão, as memórias, mas parece que não tá adiantando muito.

Em menos de um mês, Arys Ferreira tinha deixado seu emprego. Ele era tanatopraxista em uma clínica local, não muito longe de sua casa. Antes disso, estudou necropsia, tanatopraxia, enfermagem, nutrição e por um breve período cursou educação física, mas trancou à faculdade, devido aos problemas financeiros e também, por discórdia com outros alunos e professores (ele era de boa, mas não economizava palavras e se fosse necessário descer à porrada, o fazia). Era um aluno complicado, mesmo nos tempos de educação infantil, ensino fundamental e médio. Porém, já viu de tudo quanto é tipo de coisa radical nesta vida, desde pessoas mortas dos mais variados tipos, a patologias e traumas ortopédicos e lesões expostas cabulosas e das mais sinistras. Além disso, ele já estava de saco cheio de sempre fazer a mesma coisa. Sempre foi volátil, e nunca trabalhou bem em equipe. Passou tempo demais estudando, na maior parte dele, sempre sozinho. Também teve uma vida difícil na infância e adolescência... aprendeu muitas coisas ruins. Serão mencionadas ao decorrer da série. No entanto, chegou à hora de se preocupar em ganhar dinheiro e cuidar de sua saúde, e também de sua mãe, que já é quase uma idosa. Essa era a sua preocupação atual, e por causa disso, estava decidido em renovar sua vida, em todos os quesitos, seja financeiro, social, mental e... espiritual.

Depois de deixar o banheiro, caminhando lentamente pela casa, só de cueca, foi até a cozinha. Abriu a geladeira e pegou uma cerveja. Pegou também um enorme pedaço de pernil que estava em um prato, uma suculenta refeição que ganhou de sua ficante, e isso as três da manhã. Pegou apenas pimenta. Tinha outros condimentos, mas ele os ignorou. Ele não gosta de ketchup e mostarda; maionese, somente aquelas industrializadas em compotas, que são mais saborosas, e apenas em saladas e no pão. Foi para sala, deixou o vidro de pimenta e a cerveja sob a pequena mesa que ficava frente ao sofá; mesa essa repleta de revistas de games. Ligou a TV e viu que passava um programa religioso e sem pensar, mudou para o canal de esportes. Passava reprise de futebol. Perfeito para ele!!! Escorou-se no sofá e começou a comer aquele enorme pedaço de pernil e dando goles violentos de cerveja.

Enquanto ele devorava aquele pedaço enorme de gula, seu celular começa a tocar. Tal objeto estava no sofá, mas perdido em meio as almofadas; ele começou a procurar, e depois de xingar uns nomes bem pagãos, encontrou. Viu que se tratava de Melissa, sua amiga e companheira de trabalho.

- Ela ligando, há essas horas?! – pensou ele, um pouco preocupado em ver tal ligação em um horário tão repentino, pois ele tinha pedido conta da clínica e ela também, então era descartável ser por causa de trabalho aquela ligação em um horário tão incomum.

Mel?! Ligando essas horas só pode ser treta ou você tá precisando de ajuda – menciona ele – aconteceu alguma coisa?!

- Ainda não! – respondeu uma voz estrondosa, cheia de grave e ofegante, do outro lado da linha.

Fiquei trêmulo, minhas pernas amoleceram. Aquela voz me parecia familiar. Parecia que eu já havia escutado algo assim antes. Mas pensei que seria brincadeira de mal gosto da parte dela, pois ela era cheia de ficar me zuando por gostar de coisas bizarras e sinistras. Ainda assim, mencionei de novo o que ela queria, dessa vez, em um tom sarcástico:

- Ah véi, me liga três da madrugada só pra me zuar?! Tá fora de moda esse tipo de trote, sua ema.

De repente, tipo, de repente mesmo, um enorme som de explosão acontece. Foi bem perto de minha casa, pois fiquei surdo por alguns segundos, e de uma certa forma, afetou até mesmo à ligação, pois ela caiu.

- Alô! Tá aí? - perguntei. - Oshi... o trem caiu. Olhei então para o celular, com aquele olhar de dúvida e o joguei sobre o sofá. Decidi olhar o que teria sido aquele enorme estrondo que se parecia com uma explosão. Levantei-me, fui em direção à janela principal da sala e olhei rumo em direção ao céu, depois nas direções direita e esquerda, e... tudo normal. Não tinha nada, não houve nada... tudo na santa paz. Tudo tranquilo mesmo.

- Uai... - pensei eu. - Que porra foi essa?! Com aquela sonoridade, parecia que um botijão de gás cheio tinha explodido.

Encarei por mais uns dois minutos a lado de fora, todos os lados, inclusive o céu estrelado da noite. Nada! Nenhum sinal de explosão ou algo parecido.

- Eu heim! Tô falando que tô ficando doido. Vô é pitar um.

Dei-me as costas à janela e caminhei novamente em direção à mesa, mas dessa vez, abri a única gaveta que tinha abaixo dela. Dentro, tinha alguns controles de vídeo games, pendrives e cabos de celulares. Revirou por alguns segundos, até encontrar uma remp (papel usado para fumar maconha). Fuçou mais um pouco e achou um pedaço de maconha, do tamanho de uma caixa de fósforo.

Recluso Misantropo
Enviado por Recluso Misantropo em 01/03/2016
Reeditado em 06/09/2018
Código do texto: T5559998
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