------Vingança Amaldiçoada------Parte Quatro------
COMENTÁRIOS DO AUTOR
"O mundo vive hoje rodeado de mistérios, sendo eles de natureza psíquica ou intelectual. Mistérios, cujos assuntos são completamente desconhecidos pelo homem. Provavelmente, os antigos tinham o conhecimento de coisas nas quais nem a nossa moderna ciência sabe explicar. A razão não é a resposta para tudo. A fé pode se tornar muito mais importante. Penso eu, autor deste conto, que quanto mais racional for o homem, mais cego ele é. Digo... A sabedoria e os estudos são muito importantes, mas... Bom... Deixe me explicar com alguns exemplos: “a vida”, “a alma”, “o ‘paraíso’”. Estas coisas têm explicação lógica? Agora, com sua permissão, citarei exemplos mais macabros (é perfeitamente compreensível, pois estamos no meio de um conto de terror, não é?). E o inferno? Será que ele é apenas uma invenção nossa para amedrontar? Acredito em Deus, meus amigos. Acredito no perdão misericordioso Dele. Então, não existe inferno? Deus perdoa todos! Mas, enquanto aqueles que cometem um pecado mortal? Suicidas ou pessoas que viveram apenas para o mal? Se nós nascemos bons, o que nos chama a maldade? De certo, a preguiça leva alguns ao roubo. Mas matar? Que força malíguina é essa que impulsiona os assassinos? Se não vem de Deus, de onde?
Lembro-me de uma história que li, logo após terminar o livro “Drácula”, do brilhante Bran Stoken. Ela contava de onde veio a inspiração do autor. Vlad Tepes IV, o famoso conde, cujo apelido era Dracul, que significa “Filho do Demônio”, é o nosso verdadeiro Conde Drácula. Seus feitos inspiraram Bran a construir seu famoso livro. No fim dessa história, dizia que o túmulo de Vlad Tepes foi aberto, apenas não me recordo o motivo, alguns meses depois e, onde eram para dormir seus restos mortais, foram encontrados ossos de animais. Em minha fé, acredito que se isso realmente aconteceu, seus ossos podem ter sido simplesmente roubados por delinqüentes ou por religiosos satânicos. Mas será mesmo?
Apesar do que acredito, não iria dar uma passadinha no túmulo dele em uma bela noite de lua cheia, quando os lobos uivam."
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- Diga-me Megy – começou Johnnantan – qual a última coisa da qual se recorda?
- Filha minha, feche seus olhos e vá contando à medida do acontecido, não tente se lembrar de tudo de uma só vez – completou Mark
- Muito bem colocado, caro amigo. Megy? Está pronta?
- Sim! – disse a jovem, acomodando-se melhor em sua cama.
- Lembro-me que esperava Jason com a vovó, mas como ambos só chegariam mais tarde, resolvi visitar a mamãe no cemitério. Já estava em seu túmulo e me ajoelhei fechando os olhos.
- A que horas foi isso minha filha? – interrompeu o pai. Mas imediatamente foi surpreendido pelo médico segurando seu braço e cochichando ao seu ouvido:
- Não a interrompa Mark, quanto mais ela entra em sua mente, mais fundo cava, deixe-a se concentrar.
- Não sei, papai – continuou Megy – eram nos primeiros raios da aurora e recordo-me da beleza do dia. Os pássaros cantavam como em uma grande orquestra e uma leve brisa trazia o cheiro das rosas do jardim próximo à igreja. Até passei por lá para catar algumas e oferecer a mamãe.
- Ajoelhada diante do túmulo dela, repentinamente senti um calafrio terrível. Mas não me importei muito e continuei minha oração. Finalmente o medo subiu em mim quando tudo ao meu redor silenciou. Sim, sim, foi isso. O claro se transformou em névoa, gelada e tão cheia que o local onde mamãe dormia, mesmo estando a alguns palmos de mim, era só uma sombra. E tudo ficara vazio. Nada mais de pássaros, nem do doce aroma das flores. O dia, literalmente virara noite.
- Então... AAI! – gemeu Megy.
Ela apertava sua cabeça, fazendo força, tentando se lembrar da continuação. O “branco” dominara sua mente. De seu nariz, gotas de sangue desciam vagarosamente e seus olhos, quase girando fora das órbitas, iam ficando vermelhos. Ela gritava tentando continuar:
- AAAII! UM... UM HOMEM ME TOCOU E ME... ME FEZ LEVANTAR E...EU O SEGUI... AAAII! HOMEM ESCURO...
- Já chega! – interrompeu novamente Mark.
- MEGY! – continuava o médico – Megy, basta, acorde! Vamos desperte! Volte para nós!
A jovem levanta confusa. Sangue já lhe escorria pelas bochechas, porém ela não aparentava estar assustada, nem sequer um pouco alterada.
- O que ouve? – disse ela pondo a mão em seu rosto – Sangue? Estou sangrando? Papai!
Abrindo sua maleta pela segunda vez, doutor Johnnantan retirou mechas de algodão para limpar o rosto de Megy. O sangue era o único motivo de sua preocupação, não se lembrava do delírio, nem tão pouco do fim de sua história e do “nada” que se seguira. Algo a tinha deixado em real estado de hipnotismo. Os homens deram como encerrada a conversa. Uma só dúvida ficara encravada em tio Mark que, sem conseguir se conter, falou-a ao ouvido do médico, receando que não fosse adequado uma continuação. Concedida a permissão, Mark indagou:
- Filha, uma última dúvida atormenta o coração do seu velho pai.
- O que maltrata teu coração, meu pai, maltrata em dobro o meu.
- Pois muito bem. – criando coragem, pois ainda temia palavras incorretas, ele seguiu – A vários sóis e várias luas, chegaram nossos nobres convidados e, sem tardar, logo na primeira noite em estadia aqui, seu primo Jason, sofreu de um ataque. Há certeza em minha velha consciência de que você acordara e até expressara sinais de terrível medo. Querida da minha alma, você não está ciente disto?
Megy ficara em um estado de aterrorizante surpresa. Não conseguiu mais emitir sua voz. Emudecera-se. Por sua reação, os dois homens constataram o óbvio; nos últimos dias, não era a aquela jovem quem estivera em sua companhia. Não somente sua lúcida alma.
O sol ia baixando no horizonte, o céu era vermelho como fogo, cortado ao meio em seu infinito por uma enorme bola de cor amarela. A matriarca da família, atual encarregada dos despachos, se despedia do último serviçal da casa.
- Até amanhã, Sr. Miguel!
- Se Deus quiser, Dona Bet – disse o empregado que, voltando-se a ela continuou – sabe, senhora, alguns de nós querem sair desta casa devido a estes atuais acontecimentos. Estão falando por aí que o próprio demônio reside em seu lar. Mas os mais antigos gostariam de fazer algo mais do que apenas lavar o chão e endireitar o gramado. Queremos ajudar! Temos os senhores como da família. Eu mesmo, não agüento ver o patrão Mark e a criança Megy sofrendo desse jeito.
- Admiro tuas palavras rapaz. Meu filho não me deixa entrar neste assunto por temer minha idade, porém, alguém jovem e confiável como você, pode vir a ser de grande agrado. Agradeço-te e te dou a certeza que tua vontade será tida ao teu patrão.
Uma nova despedida e Miguel se vai. A noite vinha. Vó Bet, força sua vista antes de entrar em casa, pois vê três imagens se dirigindo a ela recém aparecidas da curva do parque. Uma delas estendia um braço, em sinal de alerta e aproximação.
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- Sempre sofri. – começou o interrogado – Nunca conheci meus pais e é graças a Vó Bet que estou vivo. Ela me criou. Sei que não sou normal. Ouço e vejo coisas, acho, acho que vem do inferno. Quando a raiva me dominava, as aparições aumentavam. Ficavam ainda piores quando me sentia feliz.
- O que via, meu filho? – perguntou o padre.
- Pessoas idosas, já mortas. Com partes do corpo faltando. Crianças machucadas, com feridas ainda abertas que as faziam sofrer e chorar. Via gente com armas e facas, tentando raivosamente, porém sem sorte, matar os vivos. Não passavam de visões. Quer dizer, elas pareciam não me ver e nunca se interavam comigo. No início, me assustava. Mas, me acostumei a elas. Um dia, meus sonhos começaram. A princípio, apenas de noite, quando eu dormia. Semanas depois, em qualquer lugar onde estivesse me dava um grande pavor e medo. Sons de pessoas gritando entravam na minha cabeça. Eu... Apagava. Na hora do desmaio, preso dentro de mim, essas criaturas negras e sem rosto vinham, me rodeavam e me batiam. Tiravam minha carne e a comiam. Minha dor era real. Algumas vezes, o sangue escorria por meu corpo. Eles sempre gritavam, como se brigassem uns contra os outros.
- Sim Jason, disto eu sei. Recentemente, se não me engano, tem visto um dos rostos. Não tem?
- Sim, tenho...
- Desculpe ser tão rude, jovem. Porém, preciso saber. Pelo bem de sua prima. Como ela lhe tratava? Nos dias em que passava aqui?
- Minha prima? Ela... Está envolvida? – lamentou Jason. Sua expressão era de choro e raiva.
- Jason, não se altere! Ainda não é hora. Continue, por favor!
- Ela nunca me vinha para uma conversa. Me temia, como todos à minha volta. Porém, também não me rejeitava.
- E em quanto ao seu comportamento atual?
- Sim. Ela... Ela estava doce e carinhosa. Era a mais atenta a mim. Presenteava-me com sua companhia muitas horas de seu dia. Nas noites, ela sumia...
- Meu receio estava correto, porém tudo vai sendo esclarecido. – mediou Tomás – Por acaso seus sonhos cessaram?
- Sim! Deixei de sonhar por muito tempo, até minha vinda a este local.
Fazendo o gesto já conhecido, com sua mão no queixo, Tomás ergueu-se da poltrona, andou até a parede, onde repousava seu cajado, sacou dele e põe-se a rodear a mesa. Jason o observava inquieto. Ele não queria atrapalhar os pensamentos do padre, porém não suportava aquele clima. Resolveu arriscar:
- Você pode me curar?
- Curar? – indagou o padre – Eu sinto, mas mesmo que eu o esconjure, você continuará sendo um sensitivo. Neste momento, o que está ao nosso alcance, é a reconstituição de seu espírito. Ainda há luz em você, posso sentir, mas ele está morrendo, Jason.
- Ainda não me é claro o real objetivo desses monstros satânicos. – continuou ele, ainda em movimento.
- O que devemos fazer agora?
- Ir logo à casa de seu tio. No caminho, pegaremos o xerife Balcon. A comitiva deve ficar unida e devemos recrutar mais... Como posso chamar... Guerreiros. Surpreenda-nos meu jovem. Supere o mal. Sabe que, lá fora, você é novamente um corpo aberto, mas terá que ir comigo.
- Eu irei! – exclamou Jason, serrando ainda com mais força seus punhos e levantando-se da cadeira.
Em toda sua sabedoria, Tomás Ezequiel foi explicando os mais diversos tipos de escudos contra demônios e seres da noite, como fizera com Johnnantan. Foi mais além em suas teorias, pois o caminho era um tanto longo. Ensinava Jason como se manter atendo mesmo dormindo. Assim, poderia reagir a uma outra possível possessão ou, no mínimo, saber exatamente o que se passa em seus sonhos. “Nas horas de terror, o que for ilusão, se tornará real”, dizia o padre. Sabia que sua dor ficaria ainda mais cruel, porém, não fraquejou.
Logo após passarem pela pequeníssima delegacia, entram pelo caminho do parque e o padre dá sinal para os que o seguem parar. Queria colher algo que estava no jardim. E assim o fez. Balcon, sendo imitado pelo jovem, preferiu não perguntar, pois acabaria sabendo do que se tratava.
Mesmo com toda coragem adquirida na “fortaleza anti-demônios” - apelidada assim por ambos presentes lá – Jason não conseguia esconder o receio trazido pela noite. E, sem perceber, era atentamente vigiado pelo padre que começava a aumentar a velocidade da marcha.
Passaram a linha do parque, vislumbrando o maravilhoso casarão de tio Mark.
Continua...