O abismo infinito das nossas decepções- DTRL 26 - Duplas

RODRIGO

"Eu vejo seus olhos e o que eles vêem?

Por mais que eu tente não posso entender"

Olhos vermelhos-RDS

*

Uma das lembranças mais antigas que tenho é das visitas a casa de meus avós e das histórias que eles contavam. Geralmente, por serem naturais do Japão, suas narrativas consistiam em lendas e mitos desse país. Meus irmãos sempre acreditavam nas lendas, por outro lado eu já era mais cético em relação a maioria. A maioria, não todas.Tinha uma única lenda em que sempre acreditei. A lenda em questão era a do Akai Ito, o fio vermelho que liga a vida das almas gêmeas desde o nascimento e até depois da morte.

Meus avós sempre contavam que existiam certas pessoas especiais que nasciam com o fio vermelho amarrado no seu dedo mindinho e ligado ao dedo da futura pessoa amada. Segundo eles esse fio nunca rebenta, pode se enrolar, quando a pessoa se envolve com outras pessoas e até ficar mais longo, mas nem a morte o rompe. Esse fio é como se fosse um casamento eterno das almas em que não é possível separação. Uma união tão forte que em alguns casos um consegue adivinhar o que o outro vai falar antes mesmo de ser falado, que os sonhos de um são os sonhos do outro, que juntos formam somente um ser.

Falando assim até parece uma coisa fofa e bonita, mas lembro que eles sempre contavam também uma parte aterrorizante, que falava que devido a união das almas a morte vinha buscar o casal unido no mesmo dia, ou então, ainda mais assustador, um morria e vinha buscar o outro. Eu ignorava essa parte assustadora e acreditava somente na parte bonita. Sem saber que a parte bonita podia ser a mais assustadora.

Por anos, por causa dessa lenda, fiquei sonhando em ser uma das pessoas especiais que já nascem ligadas a outra. Também sonhava com a pessoa que era destinada a ser minha pelo resto da vida. Imaginei meninas de todos os jeitos, mas nunca imaginei que a garota por quem me apaixonaria seria Luiza e que meu sonho de ser ligado a alguém se transformaria em pesadelo.

Luiza não foi a garota mais bonita que já conheci, mas de forma alguma ela era feia, tinha uma beleza própria com a pele morena e os cabelos negros e cacheados que eu sempre amei. Ela tinha os olhos decididos e o sorriso que faria qualquer um se sentir idiota. Quando sorria... Luiza era inteligente e autodestrutiva, era alguém difícil de amar e de ter por inteiro, acho que nem ela nunca se teve por inteiro, pois desde a adolescência algo dentro dela a consumia.

O problema de Luiza vai muito além do que a medicina pode explicar e do que os remédios podem resolver. É algo que é até difícil de explicar e compreender... Ela mesma nunca entendeu porque vários fantasmas perambulam pela sua mente.

Minha mulher não é louca, pelo menos não o tempo todo. Ela passa longos períodos bem. Momentos esses em que os remédios conseguem controlar qualquer ataque e que, segundo ela mesma, os fantasmas ficam calados. Esses momentos são muito preciosos para mim. Porém também há os momentos em que ela parece outra pessoa, momentos em que, segundo ela, os fantasmas saem de sua mente e andam pela casa, ou pior ainda, tentam a arrastar para um abismo sem fim que existe somente dentro dela. Quando ela está nesses momentos é terrível, nem remédio, nem conversa, não há nada que possa ajudar. O jeito é ter paciência, a tratar com amor e esperar passar. Sempre passa... Por sorte esses momentos não duram mais que algumas horas. Horas estas que parecem eternas.

-O senhor tem que ir embora. O restaurante esta para fechar.

A voz do garçom me tirou de meus pensamentos e me fez temer o momento da volta para casa. O momento em que terei que rever Luiza. Não pensem mal de mim. Não estou evitando minha amada mulher, eu a amo, estou evitando os fantasmas que habitam a mente dela, pois há uns dias comecei a ouvi-lós andar pela casa também.

*

LUIZA

"Eu não conheço nenhum lugar onde eu possa me esconder,

Das vozes que estão me despedaçando por dentro!

Por que esses demônios invadem minha mente?"

Calalini-Vocaloid

*

Enquanto olho para minha mãe limpando os objetos quebrados pelo chão penso que o Rodrigo já devia ter voltado. Já faz um bom tempo que ele saiu. Uma das vozes em minha cabeça diz que ele nunca mais vai voltar. Que dessa vez ficarei definitivamente sozinha. Apesar de nunca estar realmente sozinha, pois os fantasmas em minha mente sempre estão comigo. Mas eles não são uma companhia que eu queira.

Encaro as vozes na minha mente como fantasmas e não como demônios. Faço isso porque as vozes, em sua maioria, nada mais são do que sombras, fantasmas de coisas do passado que ainda hoje me assombram. Coisas que deveriam estar mortas, mas que ainda insistem em voltar para me atormentar. Claro que existem alguns demônios mesmo. Demônios esses que se aproveitam da confusão que minha mente se tornou e entraram sem pedir licença. As vezes fico pensando se os demônios continuam invadindo minha mente por causa dos fantasmas ou se os fantasmas não vão embora por causa dos demônios.

São vários fantasmas. Um diferente do outro. A única coisa que todos tem em comum é que todos habitam o mesmo lugar. Um abismo que tem as paredes formadas pelas decepções e pelas dores que já sofri, não somente pelas minhas dores e decepções, mas as dores e decepções de todos os que caíram lá ou se jogaram. Esse abismo assim como o sofrimento nesse mundo não tem fim. Esse lugar está ao mesmo tempo dentro de mim e fora.

Minha mãe resmunga alguma coisa enquanto limpa os cacos de um vaso, mas faz isso em voz baixa, como se sussurrasse um segredo para alguém. Ela não quer piorar meu estado e além disso ela sabe que não pode reclamar de ter que cuidar de mim. Ela sabe muito bem o porque. Ela é a única além de mim que sabe as coisas do passado que até hoje assombram a minha vida.

Estou até um pouco calma no momento, mas não sei quanto tempo isso vai durar. Em breve os fantasmas podem voltar a andar pela casa e se fizerem isso talvez tenha que quebrar mais alguns objetos para os espantar. Se eles continuarem por perto podem tentar me arrastar para aquele abismo.

Não sou a única pessoa que já caiu nesse abismo, mas sou uma das poucas que conseguiu sair. Acho que os fantasmas que me puxam para lá não querem me manter lá para sempre, querem apenas que eu tenha um pequeno aperitivo do que me espera depois da morte ou então querem que eu veja o que ocorrerá comigo se me jogar nele por vontade própria...

Muitas pessoas se jogaram nesse abismo por vontade própria. Por causa de uma grande decepção ou por causa de uma dor que elas consideraram grandes demais para suportar ou simplesmente porque se sentiram tentadas a fazer isso. As que fazem isso nunca mais saem...

Por sorte na maioria do tempo meus fantasmas estão controlados, mas basta uma pequena decepção ou algo que me irrite para que eles me arrastem, ou tentarem me arrastar, para esse abismo. Minha vida é cheia de fantasmas. Tantos que as vezes sinto que me tornei um deles. Mas nem sempre foi assim...

*

RODRIGO

"Tudo que eu preciso é ficar ao seu lado

O que há de tão errado nisso?

A luz de fora entra neste edifício

E mostra um futuro brilhante, apesar de ser doloroso e falso."

Paper Plane-Vocaloid

*

"Dois corações que batem como um só. Duas almas ligadas para sempre. Duas mentes que compartilham os mesmos ideais"- foi a frase principal de meus votos de casamento. Lembro de também ter citado a lenda que meus avós contavam. Ter dito que me sentia feliz por estar ligado a ela para todo sempre. Se fechar os olhos ainda me lembro daquele dia especial.

Todos os nossos parentes e amigos estavam na igreja naquele dia, até meus avós que apesar da idade e da fragilidade foram. Aquele dia foi um dos melhores dias da minha vida e tenho certeza que foi o da Luiza também. Naquele dia até os fantasmas que tanto a perturbam não se meteram.

Os fantasmas... Eles não se meteram naquele dia e nem nos meses seguintes, mas de uns dias para cá resolveram se meter. Resolveram me atormentar também. Os fantasma de Luiza estão virando meus fantasmas também e para piorar tenho a sensação que isso tende a piorar. Quanto mais forte nossa união for, mas eles terão poder sobre mim. O futuro não parece muito animador...

Quando entro em casa encontro dona Mara, a mãe de Luiza. A mulher mora conosco. Ela me ajuda a cuidar melhor da minha mulher. Ela estava tomando um chá provavelmente com intenção de se acalmar. A cumprimento e vou para o quarto onde Luiza está dormindo, segundo ela.

Entro no quarto com todo cuidado para não a acordar. Estava tão cansado que me deitei do seu lado e logo peguei no sono, com a mesma roupa que passei o dia todo.

Passos pelo quarto me acordaram no meio da madrugada. Não apenas de uma pessoa, mas de várias. Parecia que uma multidão estava andando pelo quarto. Abri meus olhos assustado, somente para ver o quarto normal e sem ninguém além da gente. Eram os fantasmas...

-Você também os ouviu?- perguntou Luiza com uma voz fina . Apesar de o quarto estar quase na total escuridão e de não ser possível ver totalmente o rosto de Luiza sabia que seus olhos estavam assustados.

Não soube o que responder. Se eu falar que os ouvi vai piorar o estado dela e se eu mentir ela descobrirá a mentira logo. Fiquei sem saber o que fazer. Um silêncio se instalou no quarto. Silêncio este que foi preenchido novamente por sussurros.

Tentando manter o pouco de lucidez que ainda me restava me levantei da cama rapidamente e liguei as luzes do quarto. Somente para ver o quarto vazio, mas algo estava errado. As paredes pareciam estarem derretendo, assim como os quadros que estavam nelas. Aquilo não podia ser real! Fechei meus olhos por alguns instantes pensando que quando voltasse a os abrir estaria tudo normal.

Um arrepio percorreu todo o meu corpo quando um mão fria tocou o meu ombro. Um grito saiu involuntariamente da minha boca. Suor escorria pelo meu rosto. Com muito medo virei para trás, para ver quem ou o que estava atrás de mim. Me surpreendi ao ver que era Luiza. Como era possível? Eu não a ouvi ou mesmo vi se levantar da cama. As coisas estavam piorando...

E pioraram ainda mais quando um barulho tomou conta do quarto. Era como um apito alto demais. Era como se fosse um tipo de chamado. Um chamado para os fantasmas que logo começaram a caminhar novamente pelo quarto. Fiquei me perguntando como a mãe de Luiza não ouvia nada estando tão perto do nosso quarto. Esse apito foi tão alto que acho que até os vizinhos deviam ouvir.

Luiza pareceu ler meus pensamentos. Tanto que ela me disse com sua voz fina de medo:

-Eles existem somente dentro da gente. Somente a gente consegue os ouvir e ver.

*

LUIZA

"Então prometa que vai me achar rápido

Antes que os pesadelos me encontrem"

Vocaloid- Romeo e Cinderella

*

O Rodrigo estava os vendo também. Isso era terrível e bom ao mesmo tempo. Era terrível porque não sabia que danos isso iria causar a ele e bom porque agora não terei que lidar com eles sozinha.

O quarto continua a se modificar. As paredes continuam a derreter e a dar lugar as assustadoras paredes espelhadas do abismo. As lajotas do chão começaram a voar como folhas levadas pelos vento. Fico desesperada e tento me agarrar em Rodrigo, mas meus braços o atravessam como se ele fosse apenas mais um fantasma. Foi como tentar me agarrar em água. O desespero aumenta mais ainda quando sinto que estou descendo. O chão como das outras vezes parece ser feito de geleia e se dissolve sob meus pés. Grito pelo meu marido e tento me agarrar em qualquer coisa. Quero que ele me salve antes que seja tarde demais, mas as mãos dos fantasmas que se atracaram em minhas pernas pareciam ser um sinal de que não teria jeito. Iria descer.

O começo da descida é a parte mais angustiante. Principalmente por causa das outras pessoas que se jogaram por vontade própria nesse abismo. Essas pessoas se encontram coladas nas paredes do abismo, revendo as suas dores e decepções. Não apenas as suas, mas a de outras pessoas. Essas como disse uma vez não conseguem mais sair. Esse abismo existe tanto dentro como fora de todas as pessoas, não somente dentro de mim. A verdade é que todo ser humano está a um passo de cair nele.

As paredes espelhadas do abismos mostram cenas tristes e dores que foram guardadas no mais profundo do coração. Cenas que fariam até os corações mais gelados derramarem lágrimas. Entre essas cenas vi uma de minha adolescência. Do dia que mudou tudo. Do dia em que minha mãe trouxe aquele amigo maldito dela para dentro de casa. O pior de meus fantasmas...

Ele era o treinador do time da escola, por isso usava um apito pendurado no pescoço. O apito. O maldito apito que ele não tirava e usava até quando... Ele tinha um estranho fetiche com aquele apito. Só tem um som que detesto mais que esse apito. O som do barulho da porta se abrindo. Me lembra do dia em que ele entrou no meu quarto pela primeira vez.

Todos esses sons e outros mais terríveis se fazem presente enquanto sou puxada para baixo. Nesse abismo posso ouvir meus fantasmas mais claramente e posso ver o pior deles e ouvir o seu apito. Os fantasmas que eram demônios apenas riam e me puxavam mais para baixo.

Grito. Chamo pelo Rodrigo. Ele tem que vir logo me salvar. Ele tem que vir me buscar e rápido.

*

RODRIGO

"Cada um de nós tem um céu e um inferno dentro de si."

Oscar Wilde

*

Luiza sumiu na minha frente. O próprio chão a sugou! Ela chamava por mim, mas não consegui fazer nada. Tentei a agarrar e ela tentou se segurar em mim, mas de alguma forma não conseguimos nos tocar. Fico desesperado e o desespero somente aumenta quando ouço minha mulher me chamar sob o chão.

Em desespero caio de joelhos e soco o chão. O local em que pisava não era mais o piso do nosso quarto, assim como as paredes tudo havia mudado. Eu estava em algum lugar na mente de Luiza ou seria na minha já que os pensamentos dela também são os meus?

Os socos pareciam ser inúteis. Pelo menos era o que pensava até que uma mão negra brota do solo lentamente, como uma periscópio de um submarino que sobe devagar a superfície. A mão mais parecia uma galho velho de tão seca que era, mas mesmo seca e aparentemente frágil teve forças para agarrar na minha blusa e me puxar para baixo.

A descida foi como mergulhar em gel ou em algo gosmento. Sabia que estava descendo cada vez mais, porém não conseguia ver nada por causa de uma gosma espessa que parecia me envolver, mas ouvia ainda a voz de Luiza me chamando ao longe. Quando consegui ver alguma coisa, eu desejei que não pudesse enxergar novamente.

O lugar era horrível. E parecia ficar pior a cada vez que descia. As paredes eram como telas que mostravam somente coisas tristes e ainda tinha as pessoas. Ah, as pessoas... Melhor nem falar de como elas estavam. Esse lugar fede a sofrimento e dor. Isso apenas me dava mais certeza de que tinha que salvar minha mulher.

Certa vez ouvi uma frase que dizia que cada pessoa tem uma pequena amostra do céu e do inferno dentro de si. Esse devia ser o pedaço do inferno que Luiza tem dentro de seu ser. Um inferno formado pelo sofrimento de muitas pessoas, mas principalmente formado pelo sofrimento dela. Algumas terríveis visões me fizeram entender algumas coisas sobre minha mulher e seus fantasmas...

As visões e as pessoas me aterrorizaram tanto que demorei para perceber o fio vermelho que estava amarrado ao meu dedo mindinho. O fio vermelho da lenda que sempre acreditei. O fio que me levaria até Luiza. Quando o percebo grito, mesmo não tendo certeza de que ela me ouviria, para que Luiza tente se segurar em algum lugar para que eu a encontre logo.

Fechei meus olhos. Não suportava mais ver nada daquilo. Perdi as contas de quanto tempo fiquei descendo até encontrar Luiza, mas sei que foi uma eternidade. Fui a encontrar agarrada a um dos galhos que prendiam as pessoas as paredes. Ela me estendeu a mão e me segurou. Tentei a acalmar dizendo que tudo ia ficar bem, mesmo sabendo que nem eu tinha certeza disso.

Iria encontrar uma solução. Tinha que encontrar uma solução. E tinha que ser rápido, pois os fantasmas nos puxavam cada vez mais para baixo. Até que pararam. Por algum motivo os fantasmas nos deixaram em paz. Aquilo por algum motivo foi ainda mais assustador.

LUIZA

"Visto de baixo para cima, o abismo é uma escada para as estrelas"

Autor desconhecido

*

Os fantasmas pararam de puxar, quando vi o motivo sorri. Me permiti sorrir apesar da situação e do local. Os fantasmas estavam indo em direção a minha mãe que caia de forma rápida cada vez mais para o fundo do abismo. Apesar de todo medo que sentia no momento, ver aquilo me fez ter uma sensação diferente dentro de mim. Seria a sensação de justiça sendo feita ou seria a sensação de ter em partes minha vingança?

Nunca perdoei minha mãe pelo que ela me fez. Por ela não ter me defendido. Por ela ter preferido aquele amigo dela do que a própria filha. Um dos fantasmas que mais me atormenta é o da injustiça. Esse fantasma sempre me lembra que quem me machucou ainda está livre e pior, por culpa de minha mãe que o ajudou a fugir...

Pela primeira vez em muito tempo, mesmo ainda estando no abismo me senti bem, principalmente porque o apito parou de soar... Sinto que tudo começa a se desfazer novamente ao nosso redor. Me solto do galho onde estava segura e me agarro ainda mais em meu marido. Sabia que depois daquilo as coisas iriam melhorar. Uma luz cegante toma conta do local e quando abro os olhos estou em um lugar diferente.

O lugar era o mais profundo das minhas lembranças. O lugar que fazia tempo que eu não visitava. As lembranças da época em que não haviam fantasmas. A época em que era feliz. O céu que havia dentro de mim.

RODRIGO

"Desde aquele dia ninguém mais nos separou

e o nosso sorriso não será mais manchado

Sobre nossos passados há uma grande sombra"

Paper plane- Vocaloid

Quando abro meus olhos percebo que estamos de volta ao nosso quarto e que já é dia. Os primeiros raios da manhã batem em nossos rostos pela janela meio aberta. Luiza estava deitada ao meu lado e franziu a testa devido a luz. Se virou de lado e voltou a dormir.

A primeira coisa que reparo é na bagunça que o quarto está. Pelo estado dos objetos devemos ter feito muito barulho. Mas, isso não importa. O mais importante é que não haverão mais fantasmas de agora em diante. Eles foram derrotados e caso tentem voltar o derrotaremos novamente.

Saiu do quarto e sinto a calafrio percorrer o meu corpo quando vejo a cena que me esperava na sala. A mãe de Luiza estava caída no chão da sala. Morta.

Nunca soubemos ao certo o que ocorreu com ela e os médicos acabaram considerando morte natural.

Mas o mais estranho foi o que se seguiu após a morte dela. De alguma forma Luiza não se abalou, ao contrário, pareceu melhorar ainda mais. Analisando bem, depois de tudo que descobri sobre ela, isso não foi estranho, porque no fim das contas a mãe também era um dos fantasmas. Uma sombra do passado que não foi capaz de ajudar a filha.

Dez anos depois...

LUIZA

"Quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você."

Nietzsche

Nunca havia contado ao Rodrigo o porque dos fantasmas. Até porque os próprios fantasmas não deixavam. O fantasma que dizia que a culpa de tudo que me aconteceu era minha não me deixava falar. Dizia que o Rodrigo ia me culpar e ia me deixar, mas isso é passado... Já se passaram dez anos desde aquela noite em que caímos no abismo e que os fantasmas se calaram.

Estamos relativamente bem, como disse as vozes dos fantasmas nunca mais voltaram e estamos vivendo um dos melhores períodos de nossas vidas. É tão bom ter o controle da própria mente. A nossa relação tem se estreitado cada vez mais. Aquele fio vermelho, do qual nunca lembro o nome, tem nos mantido bem unidos.

Só não estamos completamente felizes, e acho que nunca seremos, por causa da lembrança do que houve com minha mãe, pois apesar de tudo ela era minha mãe. Mas o principal motivo para não sermos completamente felizes é o abismo, pois as lembranças dele continuam em nossas mentes, assim como a certeza de que uma parte dele continua dentro da gente. Chamando por nós, por vocês e por todos os outros.

"Moço, ninguém é de ferro

Somos programados pra cair..."

Temas: Possessão, Casamento e um pouco de lendas urbanas(japonesas)

Ana Carol Machado e Isabela Nogueira
Enviado por Ana Carol Machado em 23/02/2016
Reeditado em 16/06/2020
Código do texto: T5553090
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