O Golpe Abaixo do Ventre

Era uma sala para exibição de filmes pornôs.Um local decadente e frequentado por pessoas ultrapassadas,pobres e sombrias.Os Velhos eram impotentes tão quanto imorais.A sala estava bem escura.O som da película roubava a atenção de todos,ali concentrados e excitados pelo desfile censurável do que se passava na grande tela.Uma loira jovem fazia sexo oral num idoso ator. Os gemidos da jovem atriz excitava muito mais do que o desenrolar da repugnante cena.Havia uma linda mulher logo à minha frente.Sentada muito à vontade.Não parecia se importar com o assédio dos velhos impotentes.Olhava-os por poucos segundos-e parecia não se agradar do valor que lhe era oferecido em cédulas abarrotadas por entre os dedos enrugados.Os seios fartos apontavam para frente.O seu quadril era largo e bem desenhado.As coxas pareciam grossas e torneadas.Apesar da escuridão podia se perceber os desenhos sensuais dos lábios cobertos por um vermelho batom.Usava cílios postiços.Refletia a respeito da insensatez de uma tão linda e sensual mulher,estar ali para fazer programas sexuais com ridículos idosos-enquanto poderia estar bem casada e cuidando de um filho.

Deve ser um ser humano imoral,insensato e podre.Gosta da vida suja que leva e escolhe,sempre para si o pior da vida.Fiquei bastante irritado e havia,é claro,chegado o momento de resolver.Aproveitei o clímax do filme,quando os atores pornôs gemiam juntos e as estocadas no quadril da loira fazia um som ensurdecedor com a frenética penetração e tentei dar o primeiro golpe.Havia sacado do punhal no bolso da calça jeans.Tremia muito.Estava nervoso.O golpe acertou o idoso que estava sentado ao seu lado,no ombro.O mesmo soltou um grito ensurdecedor encobrindo os gemidos da atriz e as estocadas em seu quadril pelo maduro ator-que exibia um pênis de proporções descomunais.O cinema faz isso,valoriza pouco a qualidade e destaca volumes e a diversidades de fantasias e de prazeres.A platéia do cinema pouco se importou com os berros de dores do idoso.A mulher se ergueu da cadeira assustada,e também gritava.Escondi o punhal e,também me ergui da poltrona do cinema.Ela conseguiu sair do cinema.Eu seguia atrás.Teria que matá-la.Entramos em um beco escuro e repleto de latões de lixo.O chão estava repleto de poças de água da chuva.Felinos passeavam caçando comida.Ela percebeu a minha presença,em seu encalço.Era uma noite escura e fria,de céu nublado e sem estrelas.Era uma noite perfeita para se fazer uma morte.Mais uma morte para a imprensa que só fala em escândalos políticos.Lembrei de uma fala de um dos apresentadores de tv que dizia:" estamos governados por ladrões."

- Facilite a minha vida.Não vai doer muito,eu juro.Vou ser preciso e rápido.Darei estocadas no seu coração.Viris.

-Eu sou muito jovem para morrer.Por quê quer fazer isso...eu não entendo,se é parente de um daqueles velhos,eu juro que não roubo...só faço programas.Cobro o que vale....

A noite seguia fria.Um chuvisco fino molhava-os.Os gatos rosnavam,em seguida desapareceram pelos telhados.O som de uma viatura passando ao longe com a sirene ligada não o intimidou.As ruas estavam desertas.O local era ideal para o crime.

-Eu não quero morrer.Eu vim do interior para tentar a vida na capital.Eu sabia que por aqui a vida de nada vale,mas vim arriscar.Tenho uma mãe idosa,que me ama,mas não queria que passasse vergonha por mim.por favor,não me mate...

-Eu sou a cura,você é a doença da sociedade.Você é uma linda mulher.Linda de morrer.

Podia se ouvir a música que vinha de um pequeno apartamento que ficava num dos prédios,ao lado.Os gatos continuavam miando.

Ele tentou esfaqueá-la,mas o golpe apenas lhe rasgou uma parte do vestido.Atracaram-se e rolaram pelo chão.O pequeno punhal lhe escapou das mãos e sumiu no lamaçal.

-O punhal,o punhal.

Gritava.Enquanto se embolavam na lama. Ela tentava se livrar de seus braços tentando golpeá-lo com as botas.Ele a segurava pela cintura e pelo pescoço.Os gatos pulavam,assustados.A música que soava de um pequeno apartamento tocava insistente e alto.A lua estava encoberta por escuras nuvens.A chuva havia aumentado,de intensidade.Ele estava tenso com aquela reação instintiva ,de sobrevivência.Conseguiu se livrar dele,e ficou de pé.Ele estava deitado no chão molhado e sujo.

-Não vai me matar.

-Eu vou.Mato as mulheres lindas de morrer desta cidade.

Então,recuperando-se do medo e do pânico.Com vigor erguei o vestido e exibiu o seu ventre.Baixou a calcinha e se exibiu para o maníaco.Ele deduziu que a mesma tentava seduzí-lo.Ficou surpreso com a revelação.

- Eu não sou uma mulher.

O pênis longo e mole ficou exposto.

O psicopata guardou o punhal.Passou uma das mãos sobre os seus molhados cabelos,e proferiu um xingamento.Decidiu com os seus botões:" breve,talvez comece a matar os travestis desta cidade.Os que sejam bonitos,de morrer."

A chuva aumentava de intensidade tão quanto o seu desejo de matar.O traveco jovem suspirou por não ter perdido a vida e não reclamava dos muitos arranhões e contusões que tinha espalhados pelo corpo.Antes de ter se distanciado da porta do cinema pôde ver alguns idosos dali saindo e se dirigindo para o ponto de ônibus-outros seguiam para os seus carros que estavam estacionados à porta do decadente cinema.Os gatos retornaram para o lixo e o psicopata que perseguia "mulher linda de morrer" adentrava mais uma vez no cinema emporcalhado.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 17/02/2016
Reeditado em 19/02/2016
Código do texto: T5546272
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