Sombra – Ato VIII
 
Capítulo 9 – Charlô, é você?
 
   Naquela tarde nos despedimos de todos e partimos, Charlô não disse nada durante nossa viagem de trem, Jacob e Kevin conversavam no banco a nossa frente. Me ajeitei no banco e alguns segundos depois senti o rosto de Charlô em meu ombro direito, ela havia adormecido e me escolheu para se apoiar.
-Querem falar mais baixo por favor? – sussurrei.
-Tudo bem senhor garanhão. – respondeu Jacob.
-Eu não sou surda. – respondeu Charlô.
-Sabemos. – respondi.
-Eu não sabia. – falou Kevin, em uma fracassada piada.
   Chegamos em casa por volta das onze horas da noite, exaustos Jacob e Kevin foram logo dormir, deixando Charlô e a mim sozinhos na sala. Ela se deitou no sofá, e sobre minhas pernas repousou a cabeça.
-O que está fazendo? – perguntei.
-Dormindo, não posso? – respondeu.
-Não sobre mim.
-Você não é nada romântico.
-Na verdade sou, mas você é muito grossa.
-Ai, esqueci que você é dramático. Tudo bem, vá, saia daqui. – ela se levantou inclinando o rosto perto do meu enquanto falava.
-Não vou sair. Quero ficar aqui com você.
   Ela voltou a se deitar, excitei no inicio, mas logo coloquei minha mão sobre sua cabeça, mexendo em seus cabelos. Ela apenas suspirou baixinho e nada disse, continuei mexendo devagar.
   Na manhã seguinte acordei provavelmente um pouco depois de Jacob, que ao ver Charlô deitada em meu colo parecia alguém que acabará de ver um fantasma. Alguns minutos depois ela acordou e olhou em volta, se levantou e foi para o banheiro.
-O que está acontecendo aqui? – perguntou Jacob.
-Não entendi.
-Bom, eu conheço ela a quase dez anos e você é a primeira pessoa que vejo chegando tão perto.
-Talvez ela esteja feliz com alguma coisa. – respondi.
   Depois de nos encontrarmos com Liam e companhia ficamos a deriva, dois dias sem muito a se fazer, Charlô mantinha-se estranhamente aproximativa e isso começava a me deixar confuso.
-Você está bem? – perguntei a ela.
-Sim, e você? – respondeu.
-Você nunca é tão gentil assim, sei lá, estava ficando acostumado as suas patadas.
-Bom, eu... Não quero falar sobre isso. Aquela garotinha me fez pensar um pouco.
-Garotinha?
-Eduarda.
-Ah sim, ela me parece legal.
   Convidei Charlô para darmos uma volta na cidade, afinal eu mal a conhecia e queria descobrir tudo que podia, ela parecia animada e durante todo o percurso me mostrou os pontos mais bonitos até chegarmos a uma grande colina.
-Ali. – apontou ela. – Ninguém costuma subir, os moradores inventaram seus mitos e lendas sobre este lugar, mas que as pessoas realmente sumiram é verdade, três garotas subiram e nunca voltaram.  – completou.
-O que você acha que tem lá dentro?
-Algum espirito também, seja o que for, não estamos preparados para enfrentá-lo.
-Se você não confiar em si mesma, nunca vai estar preparada pra nada.
   Ela me olhou e quando mais esperava um tapa, seus braços cruzaram meu pescoço e ela me apertava em mais um abraço.

 
 
 
 
 
   
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 27/01/2016
Reeditado em 31/01/2016
Código do texto: T5524778
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.