------Vingança Amaldiçoada------Parte Três------

Dois dias se passaram, era sábado e Mark levava seu sobrinho à igreja, iriam à missa das 11 horas. Ambos não se falavam desde a noite. Tio Mark não queria que saísse de sua boca nada desagradável, que pudesse piorar a situação. Já Jason, ficara do mesmo jeito que chegou; calado e com uma expressão “zumbificada”. Ao se aproximarem da igreja, Jason de súbito pára. Não se via seu rosto debaixo da sombra projetada por seu capuz, mas seu corpo estava estranhamente colocado. Pousara em forma de arco, para trás, parecia querer seguir, mas algo o puxava contra.

- Vamos lá querido sobrinho – falou Mark, rompendo a barreira – o que há com você?

Jason desperta do transe, olha o tio e segue com ele. Entraram. Tio Mark se benzeu seguido por Jason. Durante toda celebração o Jovem, muito atordoado, não deixava sua face e seu peito em paz. O leve incomodo que estava tendo foi aumentando e não conseguindo mais disfarçar, coçou com vontade os locais da benção. Era vigiado seguidamente por precaução, não só de Mark, mas também do próprio padre, pois sabia que estariam lá.

- Você irá ter uma conversa com o padre, meu filho – comunicou num sussurro o tio.

- Para quê? – respondeu rápido o jovem, porém num tom menor ainda.

Calaram-se. Ao fim de tudo as pessoas saiam muito lentamente, todos queriam uma conversa final com Tomás. Pacientemente, os dois ficaram sentados esperando.

- Muito bem, agora é a vez de vocês. – disse padre Tomás – Amigo de meu coração, seu favor já está no fim. Já me trouxe o garoto. Agora, peço humildemente que nos deixe conversar sozinhos.

“Que assim seja”, disse o Velho e, curvando-se, foi-se retirando da igreja.

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Não contendo a preocupação, tio Mark, que deixara a filha sob vigilância da avó, seguia em passos rápidos para casa. Com exceção daquele dia, ele não havia mais tirado os olhos de Megy. Trancava-a no quarto e colocara grades nas janelas, mesmo sob muito protesto. Sua filha havia mudado em tão pouco tempo. Mudado, ou finalmente se mostrava. Seus desrespeitos e xingamentos só aumentavam. Maltratava quem quer que fosse, quando não tinha o que queria. “Não faça isso, papai, eu te odeio”, “Não vou ficar com o Jason, ele é um louco”, “Se não me deixar sair deste quarto irei transformar suas vidas em um inferno”, todas as palavras saídas da boca de Megy feriam a alma do pobre velho, que as lembrava em todos os momentos solitários ou de sonolência. Umas de suas frases e o motivo maior de sua preocupação era a respeito de um outro rapaz, um desconhecido, no qual ela mantinhas encontros secretos em locais também ocultos. ”Quanto ela começou a mudar?”, essa dúvida o atormentava. Seu disfarce na frente da família e dos amigos apenas dificultava qualquer hipótese.

- Mark, Mark... – chamava a avó, o mais auto que pôde, o vendo chegar.

- Oi, minha mãe, onde está Megy?

- No quarto, mas já faz alguns minutos que ela está silenciosa. Antes disso, a moça gritava feito uma “morcega”. Fiquei em desespero, meu filho, como não estou com a chave, chamei o médico, aquele que já foi recebido nesta casa.

- Fez bem, fez muito bem. Chamou o Dr. Johnnatan não é? Ele já está a par de tudo; outro médio, eu não saberia por onde começar a explicação.

A chegada do médico é anunciada por um dos empregados. Mark dá ordens para que suba e se encontre com ele. Os dois abrem a porta do quarto de Megy, não a encontrando na cama. O que antes era um cômodo escuro e tenebroso, agora estava iluminado pelo sol da tarde, mostrando a sombra feita pelas grades no canto superior da parede indo ao teto. Estava muito fora de ordem, coisas jogadas e quebradas e a cortina que cobria as janelas, tinham sido arrancadas. Não a viram em canto nenhum. Entraram e começaram a revistar. Johnnantan sentiu os cobertores, postos no chão, se movendo, retirou-os com cuidado assustando-se com aquele chiado terrível seguido pela imagem pálida do rosto da garota. Tombou bruscamente no chão avisando tê-la encontrado.

Mark correu para descobri-la, mas num gesto rápido e ainda caído, o médio o interrompeu:

- Espere, vendo o rosto de sua filha, e o estado e local em que ela está, me recordei imediatamente das palavras do nosso padre. Vampiros! Sim... Você pode descobri-la, mas antes seria melhor recolocar as cortinas.

O velho obedeceu e o quarto voltou a ser negro, fazendo com que a própria moça se mostrasse e se colocasse de pé. Ela os encarava com ódio, ameaçando com certos movimentos um possível ataque. Johnnantan estava agora perto dos panos que serviam de proteção contra o sol. Afastou um pouco na altura de seu ombro, deixando uma ponta de raio entrar no quarto, que batia exatamente entre o pescoço e o ombro de Megy. O local atingido mudava de cor, para um cinza esbranquiçado. Ela emitia um “ruído sussurrante” ou um ranger de dentes, deixando transparecer dois caninos brancos quase um centímetro maior que um comum. Caiu em sua cama em sofrimento. Após o sol ser novamente escondido, sua pele voltava com muita dificuldade para a entonação normal.

Mark soluçava de tanto chorar, vendo sua filha se contorcer de dor. Cruzou seu olhar embaçado com o do amigo, que o desviou para as cordas da cortina destruída e, entendendo o recado, desatou-as e amarrou a filha. Sua angústia era comparável à dela. Os pés, as mãos e o busto foram amarrados. Ela não se cansava, jogava seu corpo pra todos os lados tentando escapar e não dizia nada, só o que lhe saia eram rangidos e murmúrios. Seus olhos, agora vermelhos como o sangue, brilhavam.

Atendendo a um pedido do médico, tio Mark se dirigiu à pequena capelinha encontrada no saguão da mansão para buscar a água benta deixada por padre Tomás na última noite. De volta ao quarto, ofereceu-a para o amigo que, não perdendo tempo, molhou um pouco na ponta de seu polegar e esfregou na face da vampira, de cima para baixo em seguida da esquerda para direita. Ela gritou, gritou muito, como se o sinal feito pela água queimasse, o que realmente parecia acontecer. Do local jazia uma fumaça e aquele cinza esbranquiçado voltou a aparecer, deixando uma depressão desta cor na pele da jovem.

Expressando uma grande surpresa, Mark olhava o amigo e se perguntava como ele sabia de tudo aquilo. Já ele, lendo seus pensamentos, disse:

- Dois dias passados, quando vinha visitá-lo na companhia de padre Tomás, ele me instruiu muito no caminho, me disse coisas que neste momento estou vendo serem úteis. Mas não se prenda mais a esta novidade, ajude-me aqui!

Megy estava agora desacordada, seus caninos haviam sumido, junto com sua expressão de raiva e no lugar da queimadura, em sua face estava uma marca muito vermelha em forma de cruz. Eles a desamarraram e a colocaram confortavelmente na cama. Johnnantan abriu sua maleta pegando um frasco de vidro despejou algumas gotas do conteúdo em um lenço e deu para a garota cheirar fazendo-a acordar.

- O que aconteceu? – disse ela ainda zonza.

- Você está em casa, minha filha, não se preocupe, papai cuidará de você agora.

- Não há tempo Mark – interrompeu Johnnantan – Tomás me disse que o efeito era pouco. Ela ainda não está livre.

- Eu? Mas...Livre de que? Quem é o senhor? Papai, meu primo não está chegando? O Jason com a vovó?

Pausa. O tempo parou diante daquela revelação.

- Sabe o que isso significa, não sabe, meu caro amigo? – perguntou o médio, obtendo um balançar de cabeça em sinal de “sim”. O velho Mark estava atordoado, tremendamente espantado, não sabia o que pensar.

- Ouça bem minha jovem. A presente situação não nos dá tempo nem ao menos de explicar-lhe nada. Ajude a mim e a seu pai. Nós poderemos salvar duas vidas e destruir demoníacas criaturas, se você conseguir cooperar.

- Do que está falando? Papai, estou com medo!

- Calma filha do meu coração. Imploro-te por todo amor que tem por mim. Limite-se a responder às perguntas do médico.

- Esta bem, meu pai – disse receosa, em resposta – não entendo o que se passa, mas farei o que o senhor me manda.

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Na igreja, Tomás e Jason se sentavam em uma grande mesa redonda. O ambiente era um tanto escuro, apenas iluminado por velas. Todo o local era feito de pedra bruta, das paredes ao teto. Era tudo muito limpo. Parecia ser um tipo de arquitetura medieval, dando um contraste com a igreja, vista de fora, e até mesmo com aquela pequena vila. Ambos tomavam chá, porém, Jason temia até mesmo tocar a xícara enquanto a atenção do padre era fixa nele.

- Vamos lá rapaz, beba isto. Foi feito com tanto carinho. Não vai fazer essa desfeita vai?

Jason nem se movia. Seus olhos estavam parados no nada. Olhavam para dentro de si. Sua face era ainda coberta. Ele tremia, como se passasse um frio incrivelmente intenso. Repentinamente, um ruído sai das escadas no fim do escuro corredor que dava acesso àquele salão no porão. Ele chacoalhou sua cabeça. Olhou para cima, para baixo, no teto e no chão. Encolhia-se no próprio corpo, escondendo-se de algo. Observando isto, Tomás Ezequiel começou:

- Veja bem jovem Jason, este porão foi abençoado pelos mais poderosos sacerdotes de Roma, antes mesmo de guerreiros europeus invadirem essas terras. Ele foi usado inúmeras vezes como esconderijo contra o mal. Aqui, as sombras do inferno não entram. É um portão inquebrável por eles. Você sente arrepios, calafrios, não sente? É a presença dessas criaturas que fazem isto. Apesar de não estarem aqui, sua alma está muito abalada e ainda sente os antigos ataques.

Calou-se e esperou ver alguma reação. Jason não mais olhava o chão, mas ainda desviava o encarar do padre.

- Não tem do que ter medo, garoto. Aqui você está seguro, como nunca esteve na sua vida. Mas, enquanto os malditos espectros existirem aqui neste mundo, temo pela vida de todos que possuem uma alma fraca.

- Preciso de sua ajuda! Preciso que me diga como destruí-los. Seria você, jovem Jason, capaz de responder a todas as minhas perguntas?

Desta vez, mais atento e se sentindo mais seguro, pois parara de tremer, Jason apertou os pulsos e disse:

- Padre, um medo incomparável me domina. Minhas emoções são minha condenação.

- Eu entendo muito e te consolo chamando-o de bravo. Porém, seja o mais bravo! Combata com sacrifício, não seu, não de sua alma, mas com toda força que ela ainda possui.

- Sim! – falou num tom nunca saído antes dele.

- Não importa o tempo que passe, os seres humanos nunca deixam de me surpreender.

- O que preciso fazer, senhor?

- Responda, com cautela, minha perguntas. Por hora, é só o que preciso de ti, meu filho.

Continua...