A Rejeitada - Capítulo I

Era manhã de sexta-feira, havia chegado o dia. Hoje eu e meu pai vamos viajar. Seria uma viagem perfeita, se minha mãe pudesse ir com a gente. Ela estava diferente, algo nela estava diferente. Se recusou a viajar com a gente, meu pai não insistiu, pois ele já havia cansado de deixar de viajar por causa da mamãe, ele decidiu que dessa vez ele iria sem ela, mas me levaria junto.

Já era meio dia quando partimos rumo ao nosso destino. Deixar minha mãe sozinha foi estranho, pois algo dentro de mim dizia que eu deveria ficar com ela, talvez pelo fato de que, eu nunca havia saído sozinha com meu pai. Mas estava sendo divertido, nunca pensei que sair com meu pai seria tão legal.

Na metade do caminho, paramos para "esticar as pernas", como meu pai dizia. Estávamos cansados de ficar no carro, por isso saímos um pouco e fomos até o restaurante que tinha em frente ao posto de gasolina. Meu pai pediu o hambúrguer mais grande e o mais caro para comer, foi uma cena muito engraçada, na verdade, tudo até aquele momento estava sendo muito engraçado. Eu nunca fui muito próxima do meu pai, depois que decidimos fazer essa viagem tudo mudou, passamos mais tempo juntos e é claro, rimos muito. Depois de comer aquele enorme hambúrguer, ele começou a reclamar da mamãe, por ela não ter vindo conosco. Seria perfeito nós três juntos.

Voltamos para a estrada logo depois que meu pai parou de reclamar da minha mãe. No caminho eu ficava pensando, será que meus pais ainda se amam? Eles vivem brigando e reclamando um do outro, será que ainda existe amor nisso tudo? Isso é muito estranho e confuso para uma menina de 12 anos entender. Meu pai estava com sono, eu podia ver pela cara dele. Ele certamente estava querendo a presença da mamãe para que ela pudesse dirigir até que ele recuperasse todo esse sono, mas como ela não veio, ele teve que continuar. Eu não sentia sono. Com certeza porque estava empolgada para chegar na nossa casa da praia e aproveitar as férias ao lado do meu pai.

Essa seria a primeira vez que passaríamos boa parte das nossas férias juntos e longe da mamãe se não fosse o acidente. Naquela noite, meu pai estava com muito sono e cansado , ele não me disse mais eu podia ver no rosto dele. Ele perdeu o controle do carro, e capotamos. Eu não consegui ver nada, tudo ficou escuro de repente.

Foi dois dias depois que acordei na cama de um hospital, cujo nome até hoje não sei. Logo quando acordei, estava sozinha no quarto. Me assustei quando não vi minha mãe comigo, nem meu pai. Fiquei sem saber nada. Onde estaria meu pai? Minha mãe soube do acidente? Estou sonhando ou realmente aconteceu? Nos filmes que eu e minha mãe olhávamos, eu observava as pessoas na cama do hospital, elas apertavam um botão para chamar a enfermeira. Me virei de um lado para o outro para achar o maldito botão que eu pudesse apertar e chamar alguém. Eu ainda estava procurando quando ouvi alguém entrando no quarto. Era minha mãe. Seu rosto estava horrível, parecia estar chorando a mais ou menos um dia inteiro. Comecei a chorar ao vê-la, e comecei a perguntar onde estava o papai. Ela se aproximou, e sussurrando disse: "Seu pai morreu, e a culpa é toda sua. Ouviu? A culpa é toda sua". Fiquei sem reação. Aliás, o que uma menina de 12 anos poderia dizer em uma hora dessas? Ela continuou repetindo aquilo, até que ela começou a gritar, e gritando ela dizia que aquilo tudo era culpa minha. De repente ela me puxou para fora da cama e começou a me dar chutes e socos. Eu estava fraca, não conseguia me defender e nem gritar, até que tudo se apagou novamente.

Em meio aquela escuridão, podia ver o rosto do meu pai, feliz, sorrindo pra mim. Quando acordei novamente, havia uma média ao meu lado, ela peguntou meu nome e se eu estava bem. Traumatizada, não consegui dizer nenhuma palavra. Ela repetiu a pergunta, até que respondi. "Eu matei meu pai".

- O que? O que disse?

- Eu matei meu próprio pai. Repeti

- Não, você não o matou, foi um acidente.

Naquele momento eu não tinha mais dúvidas, meu pai tinha morrido e agora só restava eu e minha mãe, se é que ela vai querer me ver de novo, pois como ela mesma disse, isso tudo é culpa minha.

David Alex Siqueira
Enviado por David Alex Siqueira em 03/01/2016
Reeditado em 01/11/2016
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