AS BODAS DE PRATA
AS BODAS DE PRATA
GAMA GANTOIS
Paulo Henrique era o terceiro filho de dona Inácia e do seu Augusto. Pertencia a uma família modesta, poderíamos dizer na linguagem sociológica de classe média, mas, bem média. Seu Augusto era funcionário público prestava seus serviços numa Autarquia. Dona Inácia era professora primária, lecionando no grupo escolar do povoado. O primogênito da família, Altair trabalhava como guarda-livros de uma cooperativa de produtores de uvas, aliás, a única existente em Caxias do Sul. Já o filho do meio, Vítor terminava seus estudos no Colégio Metropolitano. Quanto a Paulo Henrique cursava o primário.
Paulinho como era chamado carinhosamente tinha um comportamento diferenciado dos demais guris da sua idade. Não saia da Igreja, para a alegria de Dona Inácia e o descontentamento de seu Augusto. Não gostava de jogar bola, de rodar pião, de soltar papagaio como os outros meninos da sua idade. Estava sempre enfurnado na Igreja de papo cumprido com o Padre Luis.
Assim, o tempo foi passando sem que Paulo Henrique mudasse seu comportamento, para deleite da mãe e a raiva do pai. Certa noite, quando já tinha completado quinze anos de idade,Paulo Henrique anunciou que tinha uma revelação a fazer durante o jantar.A expectativa da família era enorme, pois, Paulo Henrique fora visto andando de mãos dadas com Ritinha, uma moça muito linda e filha do maior estancieiro da região. O jantar corria num clima de expectativa. Seu Augusto estava esperando a comunicação do seu filho anunciando que ficaria noivo de Ritinha. O resta da família cada qual especulava o que poderia ser.
Num dado momento, Paulo Henrique pedindo a palavra, largou a bomba:
-Família: Quero comunicar que estou indo para o seminário. Vou estudar para ser padre.
- Não pode ser!. Meu filho, andar vestido mulher, fazer votos de pobreza e de castidade! Não, meu Deus. Onde foi que eu errei.
Dona Inácia sorria de felicidade. Meu filho vai ser um homem de Deus. Quanta felicidade.
Não houve jeito. Paulo Henrique foi ao encontro do seu destino. Tornou-se padre.
A vida seguiu seu curso. Devido aos seus compromissos religiosos Padre Paulo, nunca mais voltou a sua cidade. Algum tempo depois seu Augusto e dona Inácia completariam Bodas de Prata. Haveria todo um cerimonial, como renovação dos votos sacramentais do casal. Então, por sugestão filho Altair o padre oficiante da cerimônia bem que poderia ser o mano Paulo Henrique, opinou o filho mais velho do casal. Um pouco ranzinza seu Augusto custou, mas, concordou. A noticia correu por toda região. Seria a primeira vez, que padre Paulo celebraria na sua cidade natal.
No dia marcado para a consagração a igreja superlotada de convidados e parentes, e nada do sacerdote chegar. O cerimonial já estava atrasado em mais de uma hora o que já estava causando mal estar entre os presentes. Uma grande parte da família achava que Paulo não iria comparecer por culpa do seu Augusto que nunca aceitou a vocação do filho. Quando o pároco da igreja já se preparava para tocar ritual, eis que chega todo esbaforido, o padre Paulo. A cerimônia foi emocionante. A homilia arrancou lágrimas de quase todos os presentes, inclusive do seu Augusto, que se dirigindo ao filho pediu perdão, por não ter compreendido a sua vocação, ouvindo como resposta, que antes tarde do que nunca.
No meio daquela confusão toda, entre aplausos e abraços padre Paulo sumira. Ninguém o vira muito menos sabiam onde se encontravam.Passadas algumas horas sem que ninguém soubesse o paradeiro do Padre Paulo,um mensageiro chega trazendo a noticia muito triste. Quando Padre Paulo se dirigia para a sua cidade de carro, este chocou-se com caminhão e ele morrera instantaneamente, por isso, ele não poderia estar ali para realizar a cerimônia das bodas de prata dos seus pais. A morte do filho transformou a alegria daquela família em eterna tristeza. Mas, desse episodio uma certeza ficou: A vida não acaba com a morte.