A NOIVA DE BRANCO
A NOIVA DE BRANCO.
GAMA GANTOIS
Esta história ocorreu aproximadamente há cinqüenta anos e somente agora ela é revelada. Naquele tampo, formávamos um grupo de quatro rapazes, solteiros e dispostos a aproveitar muito bem á vida. Éramos todos moradores da zona sul do Rio de janeiro, mas, nosso “point” preferido era a Lapa, boêmia. Nossas conversas sempre eram sobre assuntos volúveis, nada sérios. Certa noite, quando papeávamos sobre nossos assuntos de sempre, alguém começou a falar sobre a morte.Tema fora de propósito para um grupo que celebrava a vida. Todos nós sentimos um calafrio a percorrer nosso corpo. Todos os presentes, exceto Antonio demonstraram um medo cruel dela, a morte. Antonio ao contrário, riu e disse que não tinha medo de morrer, já que isto era inevitável para qualquer ser vivente. Debochou, ridicularizou nossos medos. Imediatamente encerremos esse assunto altamente desagradável para quatro jovens boêmios.
Tempo depois, Antonio foi passar as férias no sul de Minas, numa cidade chamada Itamonte. De origem mineira, Antonio tinha vários parentes morando naquele Estado.
Trinta dias depois estava de volta, totalmente reformulado em relação á morte. Passou a temê-la com terror. Nós indagávamos o motivo de tal metamorfose, e ele nada dizia. Todos nós achávamos estranho o comportamento do nosso amigo, mas, ninguém insistia respeitando a sua vontade.
O tempo passou o grupo aos poucos foi se desfazendo. A vida levou cada um de nós por caminhos diferentes. Nunca mais nos encontramos. Daquele tempo maravilhoso só restou lembranças e saudades.
Pois, bem. Outro dia vinha eu caminhando pela Avenida Rio Branco em direção a Cinelândia, quando alguém segurou o meu braço, chamando-me pelo meu nome. Para minha surpresa era Antonio.
Puxa que emoção. Cinqüenta anos depois reencontrar assim do nada, um velho amigo do nosso tempo louco. Depois, de contida emoção entramos no primeiro bar para tomarmos um chopinho e conversarmos como nos velhos tempos. Nem ele muito menos eu sabíamos dos outros companheiros. Conversa vai, conversa vem, eu puxei aquele velho assunto que não me saia do pensamento. A transformação que Antonio sofrera em relação á morte. Foi então que ele resolveu abrir seu coração, contando a história que agora repasso a vocês.
“Quando eu cheguei à cidadezinha pairava no ar a Lenda da Noiva de Branco. A história era o seguinte: Havia duas irmãs ambas muito formosas e prendadas. Uma delas, a mais velha, estava de casamento marcado. Como eram unidas a caçula ajudava a bordar o vestido de noiva dando inclusive palpites sobre a festa. No dia do casamento a Igreja repleta, a noiva no altar, porém o noivo não compareceu. Desiludida, humilhada, a noiva iniciou o caminho de volta para casa. Como necessitava refletir resolveu ir a pé e sozinha. Antes de entrar na casa, resolveu desabafar com o seu cavalo de estimação, Príncipe. Ao entrar no Celeiro onde dormia o seu corcel, uma surpresa lhe aguardava. Sua irmã totalmente despida dormia ao lado do seu noivo, também sem roupa. Desesperada com a traição da irmã e muito confusa com o desenrolar dos acontecimentos, não pensou duas vezes: Pegou o machado, assassinando os dois amantes. Depois de ter cometido crime, saiu correndo na direção do despenhadeiro de onde se atirou vestida de noiva.
Foi uma tragédia. Pois, bem depois deste acontecimento, a noiva de branco, pode ser vista durante todo o mês de maio, com o machado numa das mãos, matando qualquer homem infiel. È claro que ridicularizei essa lenda imbecil conforme disse aos meus parentes. Eles crédulos ainda me pediram pra não brincar com coisa séria.
Certa noite resolvi dar uns bordejos na vila. A noite estava linda e o mês de maio favorecia a poesia. Lá fui eu. A casa da minha prima onde estava hospedado ficava situada no Horto Florestal, distante 1.200 metros do povoado Quando voltava lá pelas 23h00min vinha pela estrada naquela época só iluminada pela luz da lua das estrelas e é claro, pelo foco da minha lanterna, quando fui interceptado por uma mulher de branco, tendo na mão direita um enorme machado. Seu rosto era lindo. Não sei por que, quando a vi erguer o machado, gritei a pleno pulmões
- Por favor, não me mate, eu caso contigo. Instantaneamente ela arriou o machado e disse:
_ Você casa comigo?
-- Sim respondi.
_ Com que rosto? Com este que era meu quando estava aí num mundo dos vivos, ou com este do mundo das sombras?
Quando ela virou o rosto que tinha escondido, era face de uma caveira. Quase desmaiei. Mas, mantive-me firme. -Então, casa comigo mesmo tendo esse rosto horrendo?
- Sim. Balbuciei.
Meu amigo de repente não sei como me vi dentro de uma igreja, repleta de caveiras, diante de um padre também caveira que nos casou. Então ela me disse que ela não podia viver comigo no meu mundo, mas, quando eu fosse pro mundo dela ela seria minha esposa e eu seu marido. Que nós viveríamos para sempre juntos na eternidade. Depois disto, só me lembro que fui encontrado desacordado na beira da estrada. Entende, porque passei a ter medo da morte:Eu não posso morrer.
- Bobagem ponderei. Você viveu foi um baita pesadelo, nada mais do que isto. Despedimos-nos trocando telefones, e-mails etc. Ainda nos falamos algumas vezes, até que recebi a noticia do seu falecimento. Resolvi prestar a minha última homenagem aquele que foi um grande amigo. Quando cheguei á capela onde estava o seu corpo, pude ver claramente uma noiva de branco, com cara de caveira, tal qual Antonio me descrevera. Não fora pesadelo coisa nenhuma, era verdade.A noiva de branca viera buscá-lo.