O ÚLTIMO NATAL

O ùltimo Natal

Era véspera de natal. Luiz Henrique um bem sucedido negociante de Secos e Molhados, abria os salões da sua mansão da Rua São Clemente, para receber seus parentes para a tradicional ceia natalina. A última vez que fizera uma festa para comemorar o nascimento de Jesus, fora há dez anos, na passagem do século XIX para o XX, portanto em 1900. De lá pra cá rompera com todos os seus parentes, inclusive com seus pais. Por isso, achou que era chegada a hora da reconciliação. No fundo do seu coração reconhecia ter um gênio muito forte. Era uma pessoa de temperamento difícil. Ninguém sequer podia contrariá-lo. Tinha a mania da organização. Tudo tinha um lugar certo de estar,e ninguém podia mudar a ordem estabelecida por ele. A limpeza tinha que ser muito bem feita. Tinha o hábito de passar o dedo nos móveis, e se por acaso encontrasse um pouquinho de pó, era o bastante para despedir seu serviçal. Era insuportável. Brigava por qualquer coisa, por qualquer motivo. Mas, nesse ano, algo lhe dizia ser aquele natal, o último da sua vida.

Desde cedo, passou a comandar a organização da festa. Fora pessoalmente á adega escolher os melhores vinhos, aqueles das melhores safras. A louça foi à inglesa, portanto, a mais fina e mais tradicional. Foi á cozinha fiscalizar os assados. Percorreu todos os cômodos do casarão para fiscalizar com seus próprios olhos a limpeza. Organizou a disposição dos talheres de prata cravejados com pedrinhas de diamante que só usava em ocasiões especiais. E aquele, era sem dúvida uma ocasião especial.

Ao fim da tarde depois de tudo inspecionados, se deu por satisfeito e foi tratar de si. Antes porem, chamou sua esposa Esmeralda e escolheu o vestido, a jóia e perfume que ela deveria usar na festa. Resignada a mulher conhecendo bem a personalidade do marido acatou sem pestanejar as ordens do senhor todo poderoso seu esposo.

Às 19 horas e um quarto, lá estavam o casal aguardando a chegada dos convidados. Luiz Henrique estava nervosíssimo. A cada minuto consultava o seu Pateck Philippe de ouro. Uma dúvida pairava no seu pensamento: Será que eles vêm? Era uma pergunta para o qual não tinha resposta. Somente o tempo poderia lhe tirar essa dúvida atroz.

Estava mergulhado nesse pensamento quando soa a campainha da porta. Seu coração bate mais forte. Quem seria? Era dona Leonor, sua mãe. Luiz corre para porta para recebê-la.

-Cadê o papai?Não vem?

- Seu pai já chegou. Foi estacionar o carro;

_ Mas, papai não tinha “chauffeur”?

- Tinha não, tem, mas, sabe como é seu Antonio dos Prazeres. Hoje é véspera de natal e ele simplesmente o dispensou.

_Esse papai não aprende. Serviçal a gente traz em rédea curta.

- Não, nós. Lá em casa eles fazem parte da família.

- Só se for da sua, pois não tenho lacaios como parentes.

Percebendo que conversa estava tomando um rumo desagradável dona Leonor mudou rapidamente de assunto. Foi salva com a chegada providencial do seu marido seu Antonio dos Prazeres.

Aos poucos, um a um dos convidados foram chegando.

A ceia transcorreu tal e qual fora planejada pelo anfitrião. Lá pelas tantas, quando o carrilhão marcava duas horas da madrugada Luiz Henrique pediu a palavra e anunciou duas novidades:

A primeira era que a sua esposa Esmeralda, estava esperando um varão, ao que a cônjuge emendou ou uma menina, Deus é quem sabe. Luiz Henrique já meio irritado disse em tom de discussão que seria um varão,pois, ele assim o determinara. Os aplausos e as congratulações abafaram aquele inicio de cólera.

A segunda era que todos estavam convidados a passar o Réveillon com ele, pois, ele daria uma magnífica festa, já tendo inclusive contratado a orquestra do Teatro São Pedro, para abrilhantar evento. Luiz Henrique transpirava uma felicidade nunca vista antes em sua vida.

Depois desse anúncio todos foram se recolher aos seus aposentos;

No dia seguinte, um enfermeiro entrando apressadamente á sala do diretor do Hospício e anuncia:

- Doutor! Aconteceu uma coisa horrível. Sabe, aquele louco furioso internado há vinte anos na cela 22, Senhor Luiz Henrique amanheceu morto.

- Qual foi a “Causa Mortis?”

- Aí é que está problema. Os médicos não sabem precisar a causa. Só sabemos que o semblante do morto, retrata uma enorme felicidade.

_ Estranho. Muito estranho.

Gama gantois
Enviado por Gama gantois em 26/12/2015
Reeditado em 30/01/2016
Código do texto: T5491762
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