O SUICIDA
O SUICIDA.
GAMA GANTOIS
O que pode acontecer quando a fantasia e realidade se fundem num só pensamento? Até onde termina a fantasia e começa a realidade? Quantas realidades existem? Afinal o que é uma ou outra? Será a loucura um bem, uma espécie de proteção do nosso organismo, que tenta nos proteger do mundo hostil em que vivemos, criando uma nova realidade, menos hostil, ou será exatamente o contrário, somos nós que criamos um mundo de sonho para nos vingarmos da sociedade hostil em que vivemos? Pode um suicida ser vítima da sua própria fantasia? Confesso que não sei o que dizer muito menos explicar. Mas, vamos a nossa história.
Corria o ano de 1960. A política nacional explodia. Jânio Quadros havia vencido as eleições presidenciais daquele ano. Paulo calouro do curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade do Estado da Guanabara transitava pelo “Campus Universitário”, deslumbrado com o que via e ouvia. Emocionado e feliz esbarrou numa aluna sobrecarregada de livros que graças ao seu encontrão, se esborracharam no chão. Apressou-se em pegar os livros da moça, gesto compartilhado com ela. Graças a esse gesto seus olhos se encontraram. Nesse momento, Paulo sentiu um calafrio a percorrer por todo o seu corpo, foi uma sensação bastante agradável.
Ficaram por alguns segundos se olhando. Quando se levantaram meio sem graça, Paulo a convidou para fazer um lanche como desculpa pelo seu ato estabanado. Convite que ela aceitou prontamente. Ela fazia o curso de História e já estava no terceiro ano,. A partir desse momento, não se separaram mais. Veio o namoro, noivado e oito depois do famoso encontrão se tornaram marido e mulher. Ângela era uma esposa dedicada, meiga, amorosa, bastante carinhosa, parceira. Dessa união nasceu uma linda filha que batizaram com o nome de Leonor. Leonor passou a ser a grande paixão das suas vidas. Viviam somente para ela. Paulo vivia feliz porque aquelas duas mulheres preenchiam cada pedaço vazio da sua vida. Seu mundo era perfeito.
Certa manhã dormia placidamente quando despertador tocou. Levou um grande susto, pois, o relógio marcava 13h 00.min. Esta hora ele já devia estar trabalhando. Olhou para o canto da cama e Ângela não estava, aliás, muito menos Leonor. Resolveu já que tinha perdido a hora do trabalho, ficar em casa para descansar um pouco.
Continuou deitado tentando recomeçar o sono interrompido. De repente o telefone toca. Muito a contra gosto, atendeu. Do outro lado da linha era a enfermeira chefe de um hospital público, anunciando que Ângela e Leonor tinham sofrido um atropelamento e estavam em estado gravíssimo.
Paulo ficou tonto e não conseguia sequer falar. O chão se abriu num imenso buraco por onde ele descia velozmente. Não sei como conseguiu se trocar e partir para o hospital. Quando lá chegou foi informado que sua esposa e filha tinham falecido. Desabou. Chorou até que seus olhos ficassem secos. Os dias posteriores foram terríveis. Teve que cuidar do sepultamento, papeladas etc.
A vida ficou insuportável. A sua casa, antes um recanto de felicidade se transformara numa profunda tristeza. O pobre homem tornou-se um farrapo. Seu coração estava cheio de tristeza e ódio. Caiu numa depressão profunda. Não atendia ninguém. Não abria sua porta nem pra sua mãe.Passava a maior parte do seu tempo chorando abraçado aos retratos da filha e da esposa.
Certo dia ao entrarem no seu quarto o encontraram seu corpo sem vida, balançando no portal da porta. .
Ao vê-lo morto sua esposa e filha choraram abraçadas ao corpo sem vida daquele homem, internado num hospital Psiquiátrico. Paulo fora vítima da sua própria alucinação. Enlouquecera de vez e na sua loucura criou uma nova realidade, uma fantasia, e essa fantasia o levou ao óbito.