Mistérios da vida ou da morte?
Após uma tarde cansativa de compras em algumas lojas, supermercado, e ida ao médico, num posto de saúde, tudo isso justificava o meu cansaço e falta de humor.
A sorte é o que o ônibus da volta à minha casa estava no terminal aguardando. O que era incrível; pois ele sempre se atrasava.
Assim, eu meio atrapalhada com muitas sacolas semi-vazias e um enorme rolo de papel de presente que teimava em dobrar; mexeu com meus nervos e eu tentava arrumar os conteúdos em menos sacolas possíveis.
Até que avistei uma senhora, jovial e bem humorada, sentada descontraidamente com os pés na grade bem atrás do motorista. O que confirmava ser ela uma pessoa saudável, que praticava esporte.
Como ela estava sentada do lado oposto do corredor do ônibus e de minha poltrona, ela virou-se em minha direção e simpaticamente deu-me uma dica:
- Dobre o rolo de papel, assim diminui o volume e cabe em qualquer sacola.
Agradeci.
A viagem começou e percebi algo estranho.
A jovem senhora idosa não parava de conversar e rir entre suas observações sobre conhecidos, ou parentes. Teve até instantes de gargalhadas prazeirosas.
Eu, não querendo ser indiscreta, concentrei-me no percurso do ônibus.
Até que arrisquei uma olhadela, para ver com ela se divertia trocando ideias. E não entendi nada.
- Ela estava sozinha na poltrona e continuava tagarelando sem parar.
Eu pensei: - O que mais tem nessa cidade é doido solto.
E logo em seguida, envergonhada, corrigi os meus pensamentos, com dó: De fato é triste a velhice, que está destinada a todos que não se despedirem antes no meio da jornada.
Até que ela de repente atropelou o motorista, bem em frente ao cemitério, dizendo eufórica:
- Pare, por favor. Eu vou descer.
Ela parecia encantada com o lugar e assim decidiu, rapidamente, saltar ali.
Só que então, lembrei-me que toda a noite após o meu serviço, justamente quando ônibus passava em frente daquele cemitério, o motorista mexia com o cobrador, atiçando-o:
- E aí já viu a loira do cemitério? Dizem que ela é bem bonita e alegre. Ela fica sentada ali toda a noite até de madrugada, esperando um namorado.
E eu pensava, nessas ocasiões: - Mas que brincadeira mais velha e sem graça.
Isto foi até hoje, até conhecer a tal senhora, que por coincidência, ou não, era também loura. Um misto de muita vida, cheia de prosa com os amigos após morte.