O Cemitério Sinistro

O Cemitério Sinistro

Gama Gantois

Corria o ano de 1940. Naquela época o Rio de Janeiro, era realmente a Cidade Maravilhosa. A população era bem menor o que diminuía em muito as questões sociais. O trânsito fluía muito bem. A bem da verdade, havia os bondes de saudosa memória, retirados de circulação equivocadamente, por um Governador megalomaníaco com alegação que ele, atravancava o trânsito. Lorota. O Rio de Janeiro tinha um ritmo de vida bastante tranquila. Era comum no subúrbio as famílias colocarem cadeiras nas calçadas, e ficarem conversando até altas hora da noite.

Naquela época morávamos num bairro do Rio de Janeiro, chamado Inhaúma. Era um bairro bastante calmo, mas, tínhamos como vizinho o cemitério que leva até hoje o nome do bairro. Nossa casa ficava situada em frente ao portão principal daquele campo santo. Este detalhe não nos incomodava pois, todos ali aram tementes a Deus e respeitávamos a dor alheia e principalmente a morte, até porque já tínhamos enterrado ali nosso pai.

Pois bem. Certo dia recebemos a visita do tio Haroldo, pessoa muito querida por todos nós. Tio Haroldo era um bom homem, mais tinha uma Filosofia totalmente diferenciada do resto da família. Era Marxista-Leninista e como tal era totalmente materialista. Repetia a pleno pulmões que “a religião era o ópio do povo”, para o horror de minha mãe. Só acreditava na matéria. Para ele o ciclo de vida era o biológico: a gente nasce, cresce, envelhece e morre. Não temos alma, muito menos vamos pra algum lugar como o paraíso, purgatório, ou inferno. Ridicularizava quem quer que fosse religioso.

Bem! Como dizia, tio Haroldo foi passar uns dias conosco. Como o cemitério ficava em frente a nossa casa, resolveu visitar o túmulo do seu irmão. Minha mãe me escalou para acompanhá-lo. O cemitério era muito mal cuidado, assim, o mato cobria varias sepulturas. Para chegar à campa onde meu pai estava enterrado seria necessário cortar o capim bastante alto. Tio Haroldo resolveu voltar para casa para pegar uma foice a fim de abrir um caminho que o levasse a sepultura do papai. Como já sabia o local fui dispensado de acompanhá-lo, o que adorei. O tio vestiu uma calça velha, calçou uma chinela, botou na cabeça um chapéu de palha na cabeça, e la foi ele cheio de entusiasmo para o trabalho.

Passados algumas horas eis que tio Haroldo entre esbaforido por dentro da casa, sem uma gota de sangue. Todos nós corremos em seu socorro. Depois de se acalmar ele começou a relatar o acontecimento.

“- Estava eu roçando o mato, para chegar ao túmulo do mano, quando me deu uma louca vontade para fumar. Tirei o chapéu da cabeça colocando junto com foice sobre um túmulo que me servia de descanso. Acendi o meu cigarro, fiquei ouvindo o silêncio do cemitério. Quando acabei de fumar, me preparei para voltar a minha faina. Ao olhar para o lado onde tinha colocado o chapéu e a foice, eles lá não estavam. Quando olhei para trás levei um bruto susto. Vi um homem semi – destruído tendo sobre a sua cabeça o meu chapéu e na mão a foice. Muito sério girava a foice insinuando que iria cortar o meu pescoço. Exalava um cheiro de podre insuportável. Diante de quadro, não tive outra alternativa que não fosse correr”

_ E foice e o chapéu, ficaram lá? Perguntou um vizinho.

- Lógico.

- Vamos lá buscá-los.

Reunimos um grupo de cinco pessoas, eu inclusive, e partimos para recuperarmos os apetrechos deixados por tio Haroldo. Ao passarmos por um Mausoléu, desses que tem uma janelinha, ouvimos um grito do tio Haroldo. Gesticulando nervosamente na direção do Mausoléu dizia:

- A figura que eu vi estava me olhando pela janela do Mausoléu. Olhamos nada vimos. Aproximamos-nos da janela e olhamos o interior daquele sepulcro. Qual não foi a nossa surpresa. Lá estava em cima de um jazigo o chapéu de palha e a foice do tio Haroldo.

Saíamos voando dali. Tio Haroldo passou a acredita piamente que não somos somente matéria.

E você meu caro leitor? Acredita mesmo nesta história? Ou prefere que o além venha lhe provar que os espíritos existem? A escolha é sua. Mais cuidado.

Gama gantois
Enviado por Gama gantois em 12/12/2015
Reeditado em 30/01/2016
Código do texto: T5478330
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