A Bruxa do Inferno
A BRUXA DO INFERNO
Gama Gantois
Corria o ano de 1919. O céu azul livre de nuvens, o sol dourado inclemente que castigava o nordeste brasileiro, não dava mostra que iria chover. De nada valeram as promessas, procissões, rezas. O Senhor parece que se esquecera daquela gente sofrida. Era uma tristeza só, assistir a morte do gado e da lavoura. Tudo no sertão de Pernambuco, naquele fatídico ano, começava a morrer por falta d’água, mas, sobretudo, pela irresponsabilidade dos governantes. Os açudes públicos secaram. Só os Coronéis dispunham do precioso líquido, que eles gananciosamente negociavam como queria, e para quem quisesse.
Sem água, sem comida, mas, sobretudo sem esperança a família do seu Francisco, tomou uma decisão. Iriam deixar a seu torrão natal, para ir em busca da felicidade e da vida. Partiriam na direção do Sul Maravilha, onde se diziam era a morada da prosperidade. Onde havia fartura de comida e de água. Pobre Francisco não sabia naquela ingenuidade própria de caboclo brasileiro que, estava sendo vítima de propaganda enganosa.
Francisco arrumou suas tralhas e partiu com a família rumo ao Rio de janeiro, a cidade maravilhosa, com o Cristo Redentor de abraços abertos recebendo a todos os brasileiros. Abriu a boca sem dentes num sorriso cheio de esperança;
Depois de vários dias viajando na carroceria de um velho caminhão, chegaram ao seu destino. Estavam no Rio de Janeiro. Largados ao Deus dará, exaustos e famintos pela longa viagem, estavam igual à barata tonta, sem saber pra onde ir. Tudo para eles era assustador, grandioso.
Começaram a caminhar sem destino. A fome, o cansaço, o desespero começaram a lhe castigar. Depois de varias horas de andança, avistou numa Rua qualquer uma velha casa totalmente abandonada. Francisco então determinou:
-È aqui que vamos passar a noite, até encontrarmos algo melhor. Entraram e logo e foram se acomodando pelos cômodos da velha casa. As crianças ficariam no quarto logo á entrada. Já no cômodo maior ficariam Francisco e a mulher. Deglutiram o último pedaço da rapadura que sobrou da viagem e trataram de dormir. As crianças não se deram por rogadas, em poucos minutos já estavam dormindo. Francisco e esposa conversavam quando ouviram um barulho vindo da cozinha. Logo perceberam que eles não eram os únicos habitantes do casarão. Então, resolveram investigar. Ao chegarem á cozinha eles viram um mulher que estava de costa, vestida de preto, cabelos longos e também pretos. Foi então que Francisco perguntou:
- A senhora está precisando de alguma coisa? Quando a mulher virou de frente, Francisco viu a face deformada da mulher tendo dois buracos no lugar dos olhos. Com a voz rufenha que mais parecia sair do inferno a visão assim, falou:
- Sim. Eu Sou a Bruxa do Inferno, e estou precisando da alma de um dos seus filhos pra levar comigo. Eu já fiz a minha escolha. Ao pronunciar essas palavras, desapareceu envolta numa espessa fumaça. Francisco e esposa correram para o quarto dos filhos. Trancaram a portas e janelas e ficaram acordados numa atitude de defesa.
O dia custou a amanhecer, quando os primeiros raios de sol, penetraram pelas frestas da janela, encontrou o casal acordado. Aos poucos os filhos do casal foram despertando, menos Joãozinho que continuava dormindo como um anjo. Foi então, que Francisco resolveu acordá-lo. Não conseguiu. Seu filho estava morto. Fora levado pela Bruxa do Inferno. Foi a primeira de muitas tristezas que a família sofreria na cidade do i de Janeiro.