Almas Roubadas, Episódio IV
IV
- Olha pessoal, eu já estou avisando, essa mulher é louca! Ela uma vez mordeu a orelha de um dos enfermeiros! Cuidado!
- Como sabe disso?
- Porque eu era o enfermeiro – Pablo tirou a toca e mostrou a orelha.
- Deve ter doído – disse Richard.
- Seis pontos, tudo porque fui dar de comer para ela!
Desceram do carro e foram até a entrada do sanatório.
- Em que posso ajudar? – disse um dos enfermeiros.
- Somos da polícia – mostrando os distintivos – Queremos ver Lourdes Gouveia.
- Só um momento...
A porta foi aberta por um dos enfermeiros
-Por aqui – disse o enfermeiro, os rapazes entraram – Antes de vocês verem Lourdes, precisam falar com nosso médico responsável.
- Tudo bem – concordou Eduardo.
Continuaram andando pelo sanatório, tudo era bem cuidado, porem o clima era tenso, parecia que muitos segredos estavam escondidos ali. O enfermeiro os deixou na sala do médico responsável.
- Boa tarde, somos Eduardo e Richard, da divisão de homicídios da capital.
- Eu sou Oswald, médico responsável por esse local, é um prazer conhecê-los.
- O prazer é nosso – disse Richard.
- O enfermeiro disse que vocês querem ver Lourdes Gouveia.
- Isso mesmo.
- Posso saber o por quê?
- A filha dela, está sendo acusada de matar pessoas na capital, precisamos de informações.
- A filha dela? – Oswald arregalou os olhos – Isso não é possível!
- Já ouvimos isso antes, mas é bem possível.
- Eu não sou daqui – continuou Oswald – Mas pelas histórias que já escutei, a filha dela está morta, foi por isso que ela veio para cá.
- Esse é um dos motivos pelo qual queremos falar com ela.
- Tudo bem, eu levo vocês até ela, mas saibam que ela não fala há anos, é completamente transtornada e não gosta de visitas.
- Sem problemas – disse Eduardo.
Estavam andando pelos corredores e viam os “loucos” caçando borboletas, brincando em baixo das mesas, pulando.
- O pessoal se diverte por aqui – brincou Eduardo.
- Tentamos tratar bem as pessoas aqui, não somos um açougue igual outros lugares – pegaram um elevador.
- Elevador? – perguntou Richard – onde ela está?
- Os pacientes que não apresentam uma forma amistosa, não devem se misturar com os outros, para a segurança deles.
- E quantos pacientes existem nessa ala?
- Apenas ela.
Andaram pelos corredores e chegaram ao quarto de Lourdes.
- Ficarei aqui fora – Falou Oswald – qualquer problema, eu entro e tiro vocês daí.
- Sem problemas.
A porta foi aberta e entraram à sala Eduardo e Richard, ao entrarem viram a senhora sentada na cama, sem aparência nenhuma, estava em um estado catatônico.
- Lourdes, tudo bem com você? – mas sem respostas.
- Lourdes, nós viemos aqui para falar de sua filha Linda Gouveia – Eduardo foi direto ao ponto, mas nada de respostas.
- Edu, ela não vai falar nada, não adianta.
- Espere – Eduardo foi até ela e colocou a foto da garota em sua mãos – Precisamos saber de sua filha!
O celular tocou...
- Eduardo falando.
- Onde vocês estão? – gritava Oliveira do outro lado.
- Estamos na cidadezinha, investigando o caso, acabamos de ver que não há corpo no caixão da garota!
- Ótimo! Quando pararem de brincar de arqueólogos venham para cá, porque mais um garoto foi morto!
- Como assim?
- Eduardo, eu estou perdendo....
- Minha filhinha – disse Lourdes.
Eduardo parou de prestar atenção em Oliveira e fez um sinal para Richard.
- Eduardo, Eduardo – Eduardo desligou na cara de Oliveira.
- Minha linda filhinha – continuava a mulher.
- Lourdes! Por favor, nos ajude.
- Ela quer vingança, ela vai matar todo mundo que interferir no caminho dela.
Eduardo olhou para Richard.
- Inclusive vocês dois! – A mulher se levantou da cama e começou a gritar – Vocês dois, vocês dois, inclusive vocês dois!
Oswald percebeu a gritaria e entrou pela porta rapidamente, abraçou a senhora por trás e injetou um tranqüilizante em sua veia.
- Todos vão morrer – disse Lourdes antes de cair em sono profundo.
De volta a sala de Oswald...
- Pessoal, não sei direito o que acontece lá dentro, mas deixem isso pra lá, só de ouvir as histórias isso me dá medo!
- Não podemos deixar pra lá! Há pessoas morrendo enquanto estamos aqui!
- É apenas um conselho de um médico – disse Oswald – se querem continuar, tudo bem, mas não digam que eu não avisei!
Saíram da sala e foram embora do sanatório, Pablo os levou até o armazém onde estava o carro deles.
- Não faltava mais nada – disse Richard ao ver o carro.
- Mas que merda! – Eduardo via o carro cheio de amassados e o para brisa trincado – Quem fez isso?
- Vão embora logo meus amigos! – disse Pablo - O pessoal aqui não é muito amistoso quando se trata dessa garota, vão antes que voltem para pegar vocês.
- Merda! Vamos logo Richard!
- Que Deus esteja com vocês – desejou Pablo – boa sorte!
- Obrigado – disse Richard entrando no carro.
O carro partiu...
- Ligue para o Oliveira – disse Eduardo – Morreu mais um jovem!
- Droga! – Richard discava para Oliveira – Oliveira?
- Seus pestes, onde estão?
- Voltando para a capital.
- Venham logo!
- E o garoto como está?
- Está protegido por dez homens na sala de interrogatório!
- Mande Oliveira tirar o garoto de lá – disse Eduardo.
- Eduardo, falou para tirar o garoto daí agora!
- Ele está louco? – falou Oliveira.
- Me de este celular – Eduardo o pegou da mão de Richard – Oliveira, o garoto está sendo uma presa fácil ai! Tire-o já dai! Chegaremos às 22hrs aí!
- Eduardo você está louco! – Barulho na delegacia – Que barulho é esse?
- Oliveira não saia daí! – a ligação caiu – Droga! – Eduardo agora estava a 180 km/h
- Saudades de quando subíamos o morro para ver os homicídios – Disse Richard que escutou toda conversa.
- Eu também – concordou Eduardo – Vamos torcer para que quando chegarmos ainda estejam vivos!
Na delegacia...
- Quem está ai? – dizia Oliveira com a arma na mão – Responda!
Oliveira andava no corredor da delegacia, as luzes começavam a piscar: - Já avisei que deveríamos trocar a fiação dessa merda! – Continuava andando, entrou na sala do interrogatório, estavam lá os dez homens e Diego sentado.
- Ela está chegando – disse o garoto com medo – Fujam enquanto é tempo!
- Fique calmo guri – disse um dos policiais – Nós somos da maior força operacional desse país, nada vai te acontecer!
- Está tudo certo ai? – perguntou Oliveira do outro lado da sala.
- Tudo perfeito – respondeu um dos policiais.
Oliveira virou as costas e viu um vulto negro passar pela sala.
- Mas o que é isso? – Oliveira saiu da sala apontando a arma – Se tiver alguém ai, é bom sair ou vou atirar!
O silêncio tomou conta do local e as luzes pararam de piscar.