A Casa Mal Assombrada
A Casa Mal Assombrada
Gama Gantois
Um dos grandes malefícios da longevidade é que vamos perdendo durante a nossa jornada de vida, parentes e amigos. Eles vão indo, e nós vamos ficando irremediavelmente sós. Só convivem conosco a solidão e saudade. Dessa forma, aos 86 anos de idade, porém bastante lúcido e saudável, resolvi trocar minha mansão, local onde vivi por toda vida, por casa menor num subúrbio do Rio de Janeiro. Era uma casa pequena composta por um quarto, sala, banheiro e cozinha. Para um idoso solitário estava ótimo.
A casa não era lá essas coisas, era bastante desgastada pelo tempo. Pairava um ar bastante sinistro, mas, não me incomodei com esse pequeno detalhe.
Minha primeira noite na casa nova não foi lá muito confortável. Estranhei muito a mudança de hábito. Ouvi certos ruídos que atribui a ratos e outros animais, pois como disse, a casa era velha.
Na manhã seguinte busquei encontrar a toca dos roedores Tudo em vão. Nada foi encontrado na casa que justificasse o barulho da noite anterior.
Assim, foram as noites seguintes. Ouviam-se ruídos, passos, vozes até gritos. Confesso que estava ficando assustados e já pensava em abandonar o local, pois, não conseguia dormir.
Certa noite, quando o relógio batia a décima segunda badalada, fui despertado por um choro convulsivo que vinha da cozinha. Levantei-me cautelosamente, não sem antes, pegar a minha garrucha que guardava na mesinha de cabeceira e caminhei lentamente, com muito cuidado para não fazer nenhum barulho. Quando lá cheguei me deparei com um quadro assustador. Um homem aparentando uns quarenta anos queria pegar uma menina que não deveria ter mais do que 13 anos. Ao me vir a menina me suplicou com a voz inteiramente embargada.
_ Vovô, por favor, não deixe meu pai me fazer nenhum mal.
Sem saber o que fazer muito menos o que pensar num gesto instintivo, não titubeei. Apertei o gatilho da minha garrucha. No primeiro tiro, o homem olhou-me assustado. No segundo, ele desapareceu qual fumaça, só ficando a garotinha que me olhando profundamente me agradeceu pelo meu gesto. Foi então que me lembrei de lhe perguntar como tinha entrado em minha casa, tive como resposta que ela morava ali há mais de 30 de anos. E que não se permitia repartir sua residência com ninguém. Que naquela noite viera para levar minha alma para o inferno. Quando fitei aquela garotinha ante tão frágil, tão meiga, tão desprotegida levei um tremendo susto. Ela tinha se transformado numa mulher horrenda, gargalhando e falando com a voz rouquenha. Não sei o que aconteceu. Só sei que despertei quando o sol já ia alto, deitado em minha cama. Como fui parar lá ignoro. Bem, pensei. Foi um bruto pesadelo. Ainda bem!
Mas, outra surpresa me aguardava. Havia um bilhete sobre a mesinha de cabeceira que dizia:
_ “Deixe a minha casa, pois caso contrário levarei a sua alma para o inferno” Aninha
Nem preciso dizer que deixei a casa de Aninha naquele mesmo instante.