Catacumbas
Andava, corria, fugia, gemia.
Rumava, ofegava, chorava, sangrava.
Sentia a face quente, a boca seca e os pés suados. As frestas das paredes ofuscavam-lhe os olhos, contrastando com a escuridão completa dos últimos dois dias. Mas ainda não havia saído dos corredores. Eram eternos, um caminho sem fim. Só ela e a escuridão à frente, atrás e aos lados. Usava suas últimas forças em um mancar trôpego, desesperançado, pelo labirinto de incontáveis alas e túneis.
Já não gritava. Restava a ela somente alguns soluços, arrependimentos e o véu negro da morte. Contentamento disputando espaço com o desespero. Tinha sido esquecida. Iria morrer acompanhada da loucura e dos ratos. Sabia disso, mas continuava andando, se perdendo ainda mais nos corredores.
Não queria morrer. Não assim. Mas sabia que esse era o seu fim.
Cambaleava, sofria de sede e fome. As alucinações haviam cessado, dando lugar á certeza da ruína. Tropeçou pela última vez, rastejou um pouco mais, escolheu seu túmulo.
Tentou gritar, mas estava esgotada. Arrependeu-se mais uma vez de ter se separado dos amigos, de descer às catacumbas, de ter deixado pai, mãe e irmãos. Tentou chorar, mas seus olhos estavam secos. Apreciou o último lampejo de lucidez se desvanecendo, embebido no sentimento de mais profunda solidão.
Morreu na escuro e no silêncio.