Catacumbas

Andava, corria, fugia, gemia.

Rumava, ofegava, chorava, sangrava.

Sentia a face quente, a boca seca e os pés suados. As frestas das paredes ofuscavam-lhe os olhos, contrastando com a escuridão completa dos últimos dois dias. Mas ainda não havia saído dos corredores. Eram eternos, um caminho sem fim. Só ela e a escuridão à frente, atrás e aos lados. Usava suas últimas forças em um mancar trôpego, desesperançado, pelo labirinto de incontáveis alas e túneis.

Já não gritava. Restava a ela somente alguns soluços, arrependimentos e o véu negro da morte. Contentamento disputando espaço com o desespero. Tinha sido esquecida. Iria morrer acompanhada da loucura e dos ratos. Sabia disso, mas continuava andando, se perdendo ainda mais nos corredores.

Não queria morrer. Não assim. Mas sabia que esse era o seu fim.

Cambaleava, sofria de sede e fome. As alucinações haviam cessado, dando lugar á certeza da ruína. Tropeçou pela última vez, rastejou um pouco mais, escolheu seu túmulo.

Tentou gritar, mas estava esgotada. Arrependeu-se mais uma vez de ter se separado dos amigos, de descer às catacumbas, de ter deixado pai, mãe e irmãos. Tentou chorar, mas seus olhos estavam secos. Apreciou o último lampejo de lucidez se desvanecendo, embebido no sentimento de mais profunda solidão.

Morreu na escuro e no silêncio.

Lucas Goulart Almeida Silva
Enviado por Lucas Goulart Almeida Silva em 06/12/2015
Reeditado em 06/12/2015
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